LEMBRANÇAS
O COXAnautas traz recordações e lembranças que ficarão, para sempre, guardadas na memória dos torcedores Alviverdes. Confira, abaixo, os relatos de alguns colunistas do site sobre aquele inesquecível ano de 1985:
Ricardo Honório
O empate heróico conseguido no Mineirão contra o Atlético Mineiro indicava o caminho de que o Coritiba iria muito forte para a decisão. E nada melhor do que jogar a primeira decisão de campeonato brasileiro no palco sagrado do futebol.
Lembro que a semana começou com muita expectativa. Eu era um garoto de quase 10 anos e mal conseguia dormir esperando a partida. Minha mãe costurou uma enorme bandeira e eu não parava de incomodá-la para que ela terminasse logo aquele manto sagrado. Eu queria ter a bandeira no dia do jogo.
Meu irmão mais velho, na época com 20 anos, foi com mais cinco amigos para o jogo. Detalhe foram os seis em um Del Rey. Ah, como eu queria um espaço naquele carro lotado. Não me lembro o porque do meu pai não querer ir ao Maracanã, logo ele um fervoroso torcedor do Coxa. Acho que tinha medo que o seu coração falhasse com o que viria pela frente.
Enfim o grande dia chegou. A expectativa era enorme. Em casa, estavam meu pai, minha mãe, eu e meus outros dois irmãos. Com 9 anos de idade aquilo tudo era mágico para mim. O meu time do coração jogando a final do principal campeonato de futebol do país.
A escalação eu sabia na ponta da língua, e o meu ídolo não poderia ser outro, senão o Lela, famoso por suas caretas. Quiseram os deuses do futebol que o Coritiba entrasse completo para aquela grande decisão.
O golaço de falta de Indio, não tinha feito nenhum assim até então, reforçava ainda mais a tese de que lá em cima Ele olhava pelo Coritiba. Mas veio o gol de empate do Bangu, e a preocupação tomava conta de todos.
O Bangu tinha mais time, mais destaques individuais, e Marinho estava em uma fase excepcional. Era um cracaço de bola. O time carioca, empurrado por grande parte da torcida presente no Maracanã, jogava em cima do Coritiba, e Rafael ia fazendo um milagre atrás do outro.
Veio a prorrogação, e Romualdo Arppi Filho anulou um gol de Marinho. O jogador do Bangu estava impedido, mas o bandeira não tinha marcado nada. Pelo contrário, correu para o meio para validar o gol banguense.
O tempo extra sem gols levou a partida para os pênaltis. Mais sofrimento. Com pouca idade eu já sentia o que era sofrer pelo meu time do coração.
A série alternada era demais para o meu coração. Ninguém errava. Vavá bateu no meio do gol. Se o goleiro Gilmar ficasse parado a bola estouraria em seu peito.
A tensão ia tomando conta de todos. Se lá em casa o nervosismo era grande, imagine então o que o meu irmão e todos os Coxas que foram até o Rio estavam sentindo no Maracanã.
Minha mãe sempre foi muito religiosa e durante os pênaltis, ela estava ajoelhada em frente a tv, rogando insistentemente e com muita fé para que a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro fechasse o gol de Rafael.
Veio a cobrança do ponta esquerda Ado, um bom jogador do Bangu, e a Santa padroeira do Coritiba enfim atendeu os pedidos não só da minha mãe, mas sim de toda torcida Alviverde.
Com sua mão, ela fez o gol de Rafael encolher, e quis a Santa que a cobrança de Ado fosse para bem longe do gol. A cobrança final do zagueiro Gomes foi apenas um detalhe, pois a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro já tinha ajudado o Coritiba a ser o primeiro campeão brasileiro do Estado do Paraná.
E quanto a mim, fui dormir muito feliz. Enrolado na bandeira que a minha mãe tinha feito para aquela decisão.
Sérgio Brandão
Trabalhava em tv na época, entre muitas funções também apresentava um jornal matinal. Eu e Jorge Yared, atleticano. Na véspera daquele jogo, disse a ele: se a gente ganhar o título, não venho amanhã. Você vai apresentar o jornal sozinho. Como ele me devia uns dias, ficou combinado. Não fui. Festejei até amanhecer.
Saí de casa de carro. Foi numa Brasília azul, meu primeiro carro. Eu, uma namorada da época e um primo. Nos metemos pelas ruas da cidade e não conseguimos mais voltar. Quase amanhecemos pelas ruas entupidas de carros do centro da cidade. Não havia jeito de retornar. A impressão é que todos os carros de Curitiba estavam na rua.
Nunca mais vi um engarrafamento como aquele, mas ninguém se importava. As pessoas saiam de dentro dos carros, caminhavam dois três quarteirões, se abraçavam e voltam a andar mais um pouco. Me lembro que quando deitei, o dia já começando a amanhecer, me caiu a ficha. Comecei a chorar de emoção e não parei mais. Não dormi aquele dia. Uma alegria muito viva até hoje, apesar dos 30 anos.
Marcus Popini
Em 1985, minha a vida mudou. O regime militar acabou, Ayrton Senna ganhou o primeiro GP de sua carreira na F1, o Sepultura gravou seu primeiro disco, eu passei no vestibular da UFPR, em Geologia, e o meu time foi Campeão Brasileiro de futebol.
Naquele ano, pois, era como se eu estivesse vivendo um sonho. O Coritiba ganhava do Flamengo no Maracanã, do Cruzeiro no Mineirão, do São Paulo no Morumbi. Eu fui em todos os jogos no Alto da Glória. Estava lá tanto quando o Lela fez aquele gol no finalzinho do jogo contra o Santos, quanto quando Heraldo fez o gol contra o Galo, na semifinal. A final no Maracanã eu assisti ajoelhado, em frente a tv. Quando Gomes bateu o pênalti que nos deu o título, me lembro de ter saído correndo pela casa, ido pra rua, subido em um caminhão que passava carregado de torcedores do Coxa, indo parar no centro da cidade, junto de uma multidão em êxtase. Amanheci ali. Não queria acordar daquele sonho. Hoje, porém, 30 anos depois, olho para a camisa do Coritiba, vejo a Estrela Dourada sobre o nosso escudo, e percebo que toda aquela imensa felicidade foi não apenas real, mas também será eterna, assim como o orgulho de ser Coxa Branca.
Obrigado, Coritiba!
Leopoldo Gonçalves Jr.
Eu estava no Maracanã. Sem dúvida, a maior emoção da minha vida depois do nascimentos dos meus filhos. E, para quem não sabe, um dos meus filhos se chama André em homenagem ao lateral campeão.
Elizeu Rolim de Moura Neto
30 anos se passaram 3 décadas se foram, mas as lembranças do maior título do Coritiba permanecem vivas em nossas mentes como se tivesse passado apenas um dia.
Cláudio Réus
Em 1984, um ano antes do titulo inesquecível, ingressei na iniciativa privada a qual permaneço até hoje. Diante das dificuldades naturais da época e do noviciado como empreendedor, acompanhar os jogos do melhor time do Brasil, só com muito amor e sacrifício.
Ainda assim fui ao Maracanã para ver um importante jogo daquela campanha. Flamengo 0x1 Coritiba. Gol de Marildo.
Os dias que antecederam a final foram mágicos: Ansiedade, emoção, aflição, felicidade, euforia.
Impossibilitado de voltar ao Maracanã, reuni em minha casa mais de vinte amigos, entre eles dois torcedores do Atlético, um do Colorado e um do Pinheiros. Por mais que os rivais presentes tentassem secar não conseguiram. A tensão e o nervosismo tomou conta do ambiente. No momento dos pênaltis nos demos as mãos (incluindo os rivais) numa corrente de otimismo nunca vista por aquelas pessoas. A despeito do frio, os frisantes e as cervejas regaram aquela noite maravilhosa. Desde o início acreditamos, por isso a bateria de fogos acordou toda vizinhança. Inesquecível!
Felipe Rauen
Morava em Camaquã-RS e acompanhei com minha mulher Dora, meus filhos Alexandre, Daniela e Augusto, todo o campeonato. No início, com algum temor, mas aos poucos sentindo que naquele ano nós tínhamos um time de Homens (o "h" é maiúsculo mesmo). Na noite de 31 de julho, olhos e ouvidos na TV e ouvidos mais ainda na PRB-2 com a voz do Lombardi Jr. Meu filho mais velho, então com quatorze anos de idade, sofrera bulling na escola quando nas primeiras rodadas o Internacional nos goleou e era quem mais se mostrava nervoso sentindo que havia uma grande chance de ir à desforra com os colegas. Tanto que momentos antes do jogo começar chegou a vomitar o jantar. Mas nosso nervosismo era muito mais no aguardo da consagração do que por eventual risco de derrota.
E veio o jogo e desde o começo o Coritiba mostrava que era um time qualificado, bem montado e composto por bravos. Prorrogação nervosa e cobranças de pênaltis mais ainda, até a glória com o gol marcado pelo Gomes (muito mais do que o Ado ter errado, foi o acerto do Gomes que nos deu o título). Isso em poucas palavras, porque acho que seria capaz de relatar cada minuto daquela noite/madrugada. Gritos e foguetes na madrugada camaquense, sucessivos telefonemas de amigos gaúchos e o Alexandre louco para ir à aula no dia seguinte e se mostrar aos colegas coberto da glória da maior conquista em todo o futebol brasileiro daquele ano. E por falar em ano, alguém já se deu conta de que o Coritiba foi o mais longo campeão brasileiro da história? Sim, porque se o de 1985 terminou na madrugada de 1º de agosto, o de 1986 só teve a final em 22 de fevereiro de 1987. Um ano e meio campeões.
João Luiz Albuquerque
Antes de mais nada, deve-se considerar que eu tinha 6 anos quando fomos Campeões Brasileiros, as memórias me são claras, e posso me considerar um abençoado por isso, afinal, tenho lembranças claras de minha avó que faleceu quando eu tinha 3 anos, ou seja, com certeza eu não conseguiria precisar as datas, mas hoje, mais velho, reconheço as partidas.
Sou filho de um português que quando chegou a Curitiba em 1968 decidiu que torceria para o time Campeão Paranaense daquele ano, assistiu a final, na torcida do campeão, e junto com amigos invadiu o campo para comemorar o título após o gol de Paulo Vecchio.
Meu pai começou a me levar aos jogos em 1985, após muito insistência minha e dele, vencemos as proibições de minha mãe. No inicio era divertido pelo passeio de carro e pelas guloseimas no estádio, depois veio a torcida, os gritos de gol, o gosto da vitória. Com seis anos, o Coritiba me conquistou.
Me salta muito clara a memória uma partida a noite, o estádio estava cheio, a torcida não ia embora, já havíamos gritado gol mas o jogo estava empatado. De um determinado momento em diante, todos se levantaram os gritos ficaram mais fortes, ninguém ia embora e eu não enxergava mais nada, até que de repente o estádio explodiu em grito de GOL, mas aquele foi mais forte, foi especial. (Coritiba 2 x 1 Santos).
Em casa, sempre assistíamos o jogo pela TV, quando passava, e ouvíamos no rádio, esse nunca faltava, e lembro que meu pai gostava muito do homem que gritava: “estremece esse gigante de concreto armado”, era de arrepiar.
Na final ganhei minha primeira camisa do Coritiba, listrada na vertical, jogadeira, bonita, número 10, assistimos ao jogo com ela pela TV e com o rádio ligado.
O gol de Índio foi uma festa, vizinhos comemorando, íamos para a sacada gritar, mas com o gol do outro time, veio o silêncio, a apreensão.
Com os pênaltis, a angústia, meu pai sentava e levantava do sofá vermelho, pertinho da TV, eu estava no chão, minha mãe no sofá preto ao lado formando uma péssima combinação de cores. Lembro do nervosismo de meu pai como se fosse hoje, até que o time de vermelho e branco jogou para fora, era só fazer, meu pai estava em pé ao meu lado fazendo figa, para dar sorte. A bola entrou, era gol, todos pulavam como doidos, mas a criança ali era eu, ou ao menos deveria ser. Ficamos na sacada até tarde, os carros passavam buzinando, uma noite linda, em verde e branco, como deveria ser.
No dia seguinte, meu pai me deixou ir para a escola com minha camisa nova, muitos amigos foram do mesmo jeito, podíamos comemorar, também éramos campeões.
Torcedor Alviverde, deixe registrado aqui as suas lembranças!
Imagem: Blog Mais Memória
Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)