Sou torcedor do Coritiba desde que me lembro. Meu avô me levava ao "Belfort Duarte" todo fim de semana. Era sagrado comer amendoim ou pinhão no cone de papel e o pão com bife nas barracas atrás da arquibancada da Mauá, acompanhado daquele molho suspeito que ficava numa garrafa com a rolha furada para regar o sanduba.
Tempos depois, ainda garoto, ficava ao lado da charanga do saudoso M.U.C, do Edson Fink e do Tiradentes, esperando que sobrasse algum instrumento para eu batucar com a turma. Foi ali que comecei a tomar gosto pela música, o que me levou, posteriormente, a desenvolver uma carreira longeva nessa área também, paralelamente ao jornalismo.
Hoje, moro em Fortaleza e acompanho o Coritiba diariamente, seja pelo noticiário, vendo os jogos ou visitando o Coxanautas.
Todo o relato acima é apenas para dizer que nos meus 57 anos de vida acompanhei momentos de glória e apreensão do Coxa, como muitos de nós.
Infelizmente, vivemos um dos piores momentos da nossa história, não só pela imensa incerteza quanto ao futuro do Coritiba, mas também pela forma como a nossa torcida se manifesta, principalmente nas redes sociais.
Umberto Eco foi certeiro ao dizer que a internet deu voz aos imbecis. Sim, temos imbecis torcendo para o Coritiba, assim como em qualquer agrupamento social. Obviamente, não são maioria, mas a sua voz é amplificada pelas manifestações que têm grande alcance nas redes sociais. E vamos combinar, quando um imbecil se faz ouvir, legiões de imbecis logo se identificam e fazem coro!
É assim que eu leio "torcedores" vociferando contra a diretoria e não propondo nada palpável para ajudar o clube. Afinal, bravatear acrescenta algo ou serve apenas para registrar a discordância e ficar "bem na fita"?
Qualquer um acha que sabe como administrar uma estrutura do tamanho da do Coritiba, mas nas suas vidas privadas não conseguem, sequer, administrar a bagunça dos seus próprios quartos. Estamos completamente dominados pela cultura do ódio e, se não mudarmos, isso nos levará a lugares ainda piores do que esse onde já estamos.
Pra quem acha que ficar gritando "FORA" pra uma diretoria recém eleita vai resolver todos os problemas do Coritiba, eu digo que estão redondamente enganados. Ficamos gritando "FORA BACELLAR" por 3 anos seguidos e tudo que conseguimos foi cair pra segunda divisão e eleger uma diretoria que não queremos desde sempre.
Ora, se isso não é uma imbecilidade sem tamanho, não sei mais o que pode ser! Isso sem falar nos dedos em riste, condenando quem apoiou e acreditou nos atuais eleitos. Como disse Sartre: "O inferno são os outros"!
É preciso criticar construtivamente. Se partirmos sempre pra ignorância, em breve, destruiremos o que ainda resta do nosso glorioso Coritiba. Temos que cobrar nossos dirigentes com a mesma dignidade que esperamos que eles tenham, porque com a barbárie não restará pedra sobre pedra.
A nossa torcida se vangloriava de dizer que era a "torcida que nunca abandona", mas eu percebo que é a primeira a abandonar quando algo não sai como ela espera. Vejo que muitos dizem que irão parar de pagar seus planos de sócio, mas esse é o tipo de protesto que prejudica mais o clube do que a sua diretoria. Independente do destino que se dê às receitas, é preciso que o torcedor continue ajudando a instituição e cobre a boa aplicação dos recursos. Virar as costas num momento de crise só aprofunda o buraco e dificulta que, mais à frente, se saia de dentro dele.
Enfim, me perdoem o tom de desabafo e, apesar de todo esse momento conturbado, espero que possamos todos nos unir para que o Coritiba volte a ser o grande clube que sempre foi, respeitado dentro e fora do país, e traga de volta a alegria para todos nós.
SAV
Ze Loureiro Neto
P.S: Este texto foi escrito originalmente em maio de 2018, como comentário à coluna do Sérgio Brandão e adaptado agora para postar aqui.
Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)