Time Sub-20
Se a equipe profissional vem dando dor de cabeça ao torcedor alviverde, o mesmo não se pode dizer da equipe Sub-20. Com um excelente trabalho da comissão técnica e do grupo de jogadores, o time Sub-20 do Coritiba resgatou um pouco da alegria dos torcedores ao alcançar as semifinais da Copa do Brasil da categoria, passando por equipes como Bahia e Atlético/MG, que fazem excelentes trabalhos nas categorias de base.
O time, comandado pelo técnico José Leão, ainda se encontra invicto na competição. A equipe iniciou a competição vencendo o União Rondópolis por 8x0. Na segunda fase, vitória no primeiro confronto contra o Bahia por 1x0 e um empate em 2x2 em Salvador, quando o time chegou a estar perdendo por dois gols de diferença. Nas quartas-de-final o confronto era duríssimo. O Atlético/MG tem um dos melhores times Sub-20 do país atualmente. No primeiro jogo, mais uma vez o Coritiba chegou a estar perdendo por 2x0, mas conseguiu o empate na raça, com um gol no último minuto. E, na partida de volta, em Belo Horizonte, em uma atuação de gala, o Coritiba venceu por 2x0, conseguindo a classificação às semifinais.
Para saber mais sobre essa equipe, o editor Ricardo Honório bateu um papo com o técnico José Leão, que chegou ao clube para ser um observador técnico, mas que acabou alçado à condição de treinador da equipe Sub-20 após a posse da nova diretoria.
Gaúcho de nascimento, José Leão é formado em Educação Física e pós-graduado em treinador de futebol e futsal. Trabalhou por 15 anos nas categorias de base do Internacional, passando por todas as categorias. Conquistou dois títulos nacionais pelo Inter, um pelo Sub-15 e outro pelo Sub-20. Desde 2016 vem trabalhando como auxiliar técnico de equipes profissionais, como Criciúma, Tubarão, Brasil de Pelotas. Em fevereiro assumiu a equipe Sub-20 do Coritiba.
Confira o bate-papo do COXAnautas com José Leão:
COXAnautas: O time Sub-20 do Coritiba tem se mostrado uma grata surpresa ao torcedor Coxa. Qual o segredo deste time e onde ele pode chegar?
José Leão: O segredo time é trabalho, é fazer com que os atletas comprem a ideia, a ideia que a comissão vem colocando nos trabalhos, no planejamento para o jogo, de conseguirmos uma união de todos os setores do clube. Sou um treinador que gosta de utilizar todas as áreas. Acredito que com essa harmonia e união, de inter-relação entre os setores, além do grupo acreditar no que estamos trazendo para eles, a gente pode chegar longe. Estamos entre os quatro do Brasil, acredito que é daí para cima, sempre pensando na formação do jogador da melhor maneira possível.
COXAnautas: O elenco comandado por você apresenta jogadores muitos jovens, alguns com idade ainda de juvenil. Isso prova aquela máxima de que qualidade não tem idade?
José Leão: A idade é relativa, temos que ter o cuidado de não pular etapas, mas, desde que eu assumi, procuro juntamente com meu auxiliar (Allan) ir aos treinamentos da categoria juvenil sempre que possível para que a gente fique de olho em possíveis atletas que possam estar nos ajudando. Identificamos no grupo juvenil alguns atletas que pudessem compor o nosso elenco. Através dos treinamentos eles vão conquistando o seu espaço, além de procurarmos identificar se o atleta está maduro o suficiente para subir de categoria. E durante os trabalhos conseguir ter a tranquilidade de escalá-los e saber que eles irão produzir aquilo que a gente trabalha.
COXAnautas: Na sua opinião, quais seriam os atletas deste time que já podem fazer parte do grupo principal que disputará a Série B e quais teriam potencial para brigar por uma titularidade
José Leão: Sempre procuro trabalhar o mesmo conteúdo para todos, tanto na parte física como na parte tática, para que todos tenham a mesma oportunidade. A Comissão Técnica do Profissional é atuante entre a relação profissional-base, e estamos sempre conversando para poder identificar o melhor momento para as subidas destes atletas para que possam compor o grupo principal e até mesmo a titularidade. Estamos em uma semifinal de Copa do Brasil e sabiamente a comissão principal está fazendo com que possamos estar com o grupo completo neste momento. A partir do momento em que nossa participação na Copa do Brasil finalizar, a comissão puxará os atletas que já estão sendo monitorados.
COXAnautas: Qual foi a sua impressão sobre a estrutura e a base do Coritiba quando chegou?
José Leão: Quando cheguei ao Coritiba, fui contratado pelo Setor de Análise e, quando a nova direção assumiu, me fizeram um convite para eu assumir a equipe Sub-20. Encontrei uma estrutura excelente no clube, com campos de qualidade no centro de treinamento, setores interligados. A estrutura do Coritiba não deixa nada a desejar a outros clubes que eu trabalhei. Pelo contrário, ela está acima de vários clubes que trabalhei e conheci. Tudo aquilo que eu solicito tenho conseguido, então é baixar a cabeça e trabalhar.
COXAnautas: Devido aos maus resultados do time principal nos últimos anos, o Coritiba está fora de alguns dos principais campeonatos de categorias de base. Em sua opinião como isso afeta o processo de formação de jogadores do clube e qual a alternativa para que o clube possa continuar formando atletas?
José Leão: Não temos a pontuação necessária para participar de torneios, como o campeonato brasileiro da categoria. É perigoso realmente não participarmos de torneios competitivos, mas a direção tem tentado resolver nos dando algumas alternativas, como a Copa do Brasil e o Brasileiro de Aspirantes, quando a nossa ideia é participar com um time mais jovem para dar bagagem aos jogadores. O importante é a direção continuar atenta para que a gente possa substituir as competições que estamos perdendo por outras, sempre tentando chegar o mais longe possível. Se no segundo semestre não tivermos calendário, a opção será procurar amistosos ou mesmo torneios espalhados pelo país para que os atletas possam ter a bagagem competitiva.
COXAnautas: Times como Santos e Fluminenses aproveitam constantemente jogadores da base em seu time profissional, muito deles até como titulares. Em sua opinião, qual o caminho correto para que Coritiba passe a aproveitar melhor os jogadores formados no clube a fim de não ver grandes talentos sendo desperdiçados?
José Leão: O mais importante é não acelerar o processo de formação dos jogadores, conseguir identificar possíveis potenciais nos atletas para eles estarem em uma categoria acima, tendo sempre o devido cuidado no processo, observando não só a capacidade técnica, como o processo de maturação, que faz parte da formação. A direção está tendo o cuidado, de primeiro estruturar as categorias de base, e em cima disso ter um planejamento das comissões por determinadas idades, para que quando ele apareça no profissional ele já esteja devidamente preparado para isso. Sempre tendo muito cuidado com as etapas do desenvolvimento do jogador.
COXAnautas: Nos últimos anos, o Coritiba aproveitou poucos atletas das categorias de base no time titular. Alguns que eram destaques na base renderam muito pouco quando passaram ao profissional. Qual a principal dificuldade que um jovem jogador encontra quando passa a fazer parte do grupo profissional?
José Leão: A principal dificuldade que o jogador encontra é se ele já está preparado e se é o momento para estar no grupo profissional. Não envolve só o fator técnico, mas diversas áreas, como a parte psicológica do atleta, parte física, maturação. Temos que ter muito cuidado, muita conversa, muita interação entre as categorias, proximidade do modelo de jogo. É importante que todas as áreas envolvidas planejem o momento do atleta estar no grupo de cima. E, mesmo assim, cada jogador reage de uma maneira; portanto, é importante que possa chegar no profissional e trabalhar, sabendo que as dificuldades a cada subida de categoria irão aumentar.
COXAnautas: Como trabalhar a cabeça de um jovem jogador para que ele não se perca nas armadilhas que o mundo da bola proporciona como fama repentina, por exemplo?
José Leão: É uma das partes principais. Já vi muitos jogadores com potencial de virar uma grande referência para todas se perder em razão dos assédios, das situações que acontecem devido à fama imediata que o futebol proporciona. Mais uma vez eu digo, é preciso muita interação de todas as áreas, para não deixar que os fatores externos atrapalhem a carreira de um jogador. São vários fatores envolvidos que implicam na parte psicológica de um atleta, como a questão familiar, a relação com empresário, a mídia. Não é fácil para um atleta de 17/18 anos saber administrar tudo isso. O futebol é muito dinâmico, e isso vem de um dia para o outro. No futebol atual basta uma partida bem jogada para que o atleta entre no radar de todos esses “problemas” que possam estar trazendo com essa fama repentina. O importante é sempre estar conversando, procuro passar a minha experiência de anos no futebol, as coisas que a gente já viu, sabe que possam ser uma armadilha. Tentamos da melhor maneira possível alertá-los e orientá-los a tomar o caminho certo, tendo sempre confiança no que a comissão técnica passa, nos que outras áreas, como assistente social, psicologia, orientam. Temos que estar sempre atentos nas situações, cuidadosos com as redes sociais. Hoje em dia se não soubermos usar as redes sociais podemos jogar tudo fora, todos os anos de trabalho que o atleta vem tendo. É importante que o atleta acredite que estamos trabalhando para o bem deles.
COXAnautas: O próximo adversário do Coritiba é o Internacional, adversário que você conhece melhor do que ninguém, já que trabalhou por 15 anos no Inter. O Coritiba tem chances de avançar a final?
José Leão: Coincidência de enfrentar na fase decisiva uma equipe que trabalhei por tanto tempo, onde fiz toda a minha formação, onde eu cresci como profissional, mas hoje eu estou do outro lado, sou adversário. Estou muito feliz no Coritiba, pela oportunidade que me foi dada. É um clube que eu tinha como meta trabalhar um dia, pois é um clube que parte da minha família torce já que a minha esposa é de Curitiba. É um sonho realizado. As chances que temos de chegar à final são de 50%. São dois clubes de camisa pesada, dois trabalhos muito bem feitos, não só o meu, mas sim da minha comissão, que faz parte deste trabalho, os atletas em acreditar no que trazemos para eles. E não é à toa que estamos entre os quatro do país. É um jogo extremamente difícil, que pode ser decidido em um detalhe. São duas escolas parecidas, o Inter me conhece bem, a maneira como eu trabalho, mas eu também conheço a maneira deles. Então vai ser um confronto que a chance de ser decidido em um detalhe é muito grande. Vamos trabalhar muito para que possamos atingir o nosso objetivo, que primeiramente é chegar à final e depois ao título. Agradeço muito à torcida pelo carinho para com nosso trabalho, que, com certeza, nos dá cada vez mais força e ânimo para buscarmos nossos objetivos.
Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)