Memória Coxa Branca
Por: Kerwin Kuhlemann
A nossa casa é o lugar onde nos sentimos bem, onde temos prazer em estar, e onde nos unimos a outras pessoas que representam para nós uma família. Neste domingo (20), celebraremos 90 anos da maior, mais tradicional e mais imponente casa que já existiu no Paraná, e que pertence a mais de um milhão de brasileiros, a casa da família Coxa Branca.
O estádio Couto Pereira, o gigante de concreto armado, o Coliseu Alviverde, completa nove décadas de existência colecionando histórias, emoções e claro, muitas vitórias do Coritiba Foot Ball Club. Neste dia de celebração, o Coxanautas irá iniciar uma série de quatro matérias que irá abordar fatos e histórias que tornam o Couto Pereira o mais longínquo, histórico e majestoso estádio de futebol do estado do Paraná.
Em 1909, quando foi fundado o Coritiba Foot Ball Club, não existiam estádios em Curitiba, tampouco locais adequados para a prática do futebol. Sendo assim, o Coritiba inicialmente fez uso de um espaço no Prado do Guabirotuba, que pertencia ao Jóquei Clube do Paraná para mandar seus jogos. Atualmente este é o terreno onde hoje fica a Pontifícia Universidade Católica de Curitiba – PUC/PR. Sentindo a necessidade de adequar o local para abrigar torcedores, o Coritiba através de seus associados, realizou obras no local em junho do ano de 1910, inaugurou o que seria o seu primeiro estádio.
Em 1915, o Coritiba percebeu a necessidade de dispor de um campo mais amplo e adequado para disputar suas partidas e receber o seu público. Foi então que o associado Arthur Iversen resolveu ceder por 20 anos parte do local onde ficava o Parque da Graciosa no bairro Juvevê (atual Supermercado Nacional) para que o Coritiba, mais uma vez através do esforço de seus associados, construísse novas arquibancadas e adequasse o campo para a prática do futebol.
A partir do ano de 1926, o Coritiba passou a reservar 20% de suas receitas para constituir um fundo com o objetivo de adquirir em definitivo um terreno para construir um estádio próprio. A Diretoria da época entendia que a construção de um estádio próprio era fundamental para o crescimento do clube, que nesta época havia conquistado apenas um título paranaense.
Em 1927, o Coritiba saiu a busca de um terreno e a melhor oferta apresentada foi de uma área de 36 mil m² localizada atrás do cemitério protestante e que custava 100 (cem) contos de réis, pertencente a Nicolau Sheffer, numa região chamada de Alto da Glória. Em 1929, o Coritiba instaurou uma comissão formada por João Viana Seiler, Couto Pereira, Pedro Pizatto, Juscelino de Souza, João Master Sobrinho e Raul Pinto de Lara com o objetivo de gerir a compra da área e as obras necessárias no local. Neste período, “os Helênicos” destacam que associados e até atletas trabalharam em regime de mutirão para viabilizar o início das obras de terraplanagem e adequação do terreno. Em 1931, foi aprovado o projeto das primeiras arquibancadas e da planta da praça esportiva do novo estádio. Neste período, o clube criou títulos de empréstimos para que associados auxiliassem na quitação do terreno. Registra-se que muitos associados optaram por doar seus recursos, recusando a devolução do pagamento efetuado pelo título de empréstimo.
Uma vez quitado o pagamento da área e definido o local da nova praça esportiva alviverde, restava ainda escolher o nome com o qual o estádio seria batizado. Como o Coritiba era um clube novo, e não haviam grandes personalidades caseiras para serem homenageadas, optou-se então por batizar o estádio com o nome de um jogador maranhense falecido em 1918, que chamava-se João Evangelista Belfort Duarte. O destaque nacional do atleta se dava pelo seu fair play, disciplina e caráter em campo, chegando inclusive a avisar os árbitros da época quando o mesmo cometia uma falta. Belfort ainda foi responsável por traduzir as regras do futebol do inglês para o português, no período de implementação do esporte no Brasil.
No dia 20 de novembro de 1932, com as obras efetivamente concluídas, o Coritiba inaugura finalmente o seu estádio próprio, chamado de Belfort Duarte. A celebração se dá com uma partida comemorativa contra o América-RJ, que havia recém conquistado o título de campeão carioca. Nesta data, uma série de eventos antecederam o jogo inaugural, incluindo a benção pelo arcebispo da cidade, amistosos de clubes locais e a passagem de um monomotor por cima do estádio, fazendo um rasante próximo ao campo e lançando lá de cima a bola que seria utilizada na partida.
Na partida principal, Gildo aos dois minutos marca o primeiro gol do Estádio Coxa Branca. Ele marcaria mais uma vez na partida e ao lado de Emílio e Pizzatinho brindariam a torcida alviverde com uma bela vitória por 4 x 2 sobre o principal time do Rio de Janeiro naquela época, iniciando uma trajetória vitoriosa e histórica na sua nova e definitiva casa, que se tornaria o principal estádio do Estado do Paraná.
Fonte/Fotos: Helênicos e Coritiba Foot Ball Club
Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)