Máquina do Tempo
Por: Luiz Eduardo Buquera
Mais uma vez estamos aqui a lembrar uma partida de 1985. Afinal a conquista maior do Coritiba não foi construída ao acaso. Na verdade, decorreu de uma sequência de jornadas heróicas. Só assim um clube de fora do eixo poderia desbancar vários favoritos ao título e realizar tal façanha.
A classificação do Coritiba para as semifinais do Campeonato Brasileiro de 1985 já era uma realização e tanto. Igualava as campanhas das inesquecíveis equipes de 1979 e 1980. Mas havia em todos a ambição de chegar à final e também de ser campeão.
O grande problema era o adversário que o Verdão teria na sequência, o excelente Galo de muitos craques que compuseram as seleções brasileiras dos anos 80 e que só não chegou aos títulos brasileiro e da Taça Libertadores da América por ter enfrentado a grande equipe do Flamengo, reforçada pelas lambanças de José Roberto Wright e cia.
Havia muita esperança na torcida Alviverde, alimentada pelos vários feitos "impossíveis" realizados por sua valente equipe durante a competição, como a vitória épica sobre o Santos, a vitória sobre o Flamengo no Maracanã e a superação do favorito Corinthians na segunda fase. Por outro lado havia muito ceticismo, pois passar pelo Atlético-MG dos anos 80 já seria considerado improvável em condições de igualdade. Pior, o adversário contava com a vantagem dos resultados "iguais" e a possibilidade da partida de volta no Mineirão.
A situação ainda era um pouco mais complicada, pois na partida de ida, no Couto Pereira, o Coritiba não poderia contar com Rafael, que vinha operando milagres, e Lela, outro grande destaque da equipe, que sempre era decisivo nas partidas mais complicadas.
Mesmo com todas as dificuldades, o Glorioso contando com grande atuação coletiva superou o Galo pelo placar mínimo. Um grande resultado. Mas havia o temor de que não fosse vantagem suficiente para a volta no Mineirão.
Contrariando a todos os prognósticos, o Coritiba foi gigante em Belo Horizonte, e suportou uma enorme pressão da equipe alvinegra, embalada por aproximadamente 60.000 torcedores. Essa etapa do campeonato definitivamente mostrou a grandeza daquele grupo sabiamente comandado por Ênio Andrade, e apoiado por um staff apaixonado pelo Coritiba com nomes como Kruger, Frega, Sarti, Evangelino e muitos outros.
Nesta partida que terminou em 0x0, não houve gol, mas ocorreu um lance digno de ser comemorado como tal. A espetacular defesa de Rafael, segurando a pelota em cima da linha, salvando o que seria um gol contra do zagueiro Gomes, que de possível vilão, se transformou em herói pouco mais de três dias depois ao converter o pênalti que definiria o título do Campeonato Brasileiro.
Quem viveu todas essas histórias, sempre acreditará no Coritiba em quaisquer situações. Que tenhamos a fé e coragem dos heróis de 85 no atual elenco, para enfrentarmos e vencermos muitas outras missões impossíveis.
Ficha Técnica:
Atlético-MG 0x0 Coritiba - 28 de julho de 1985
Estádio Governador Magalhães Pinto - Mineirão.
Coritiba: Rafael, André, Gomes, Heraldo e Dida; Almir, Marildo e Toby; Lela, Índio (Gil) e Édson. Técnico: Ênio Andrade.
Atlético-MG: João Leite, Nelinho, Oliveira, Luisinho, João Luís; Elzo, Paulo Isidoro e Everton (Vítor Capucho); Sérgio Araújo (Alisson), Reinaldo e Edivaldo. Técnico: Cento e Nove.
Público pagante: 64.075 pessoas.
Árbitro: Luís Carlos Félix.
Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)