Memória Coxa-Branca
Por: Kerwin Kuhlemann
Quando lembramos do título brasileiro conquistado pelo Coritiba em 1985, um dos nomes mais marcantes que surgem na memória do torcedor Coxa Branca é o do meia armador Toby, jogador simples, introspectivo, mas que foi extremamente decisivo para a grandiosa conquista nacional.
Nascido em 18/02/1962, na cidade de Uraí/PR, no norte pioneiro paranaense, Dorival Mateus da Costa chegou ao Coritiba aos 16 anos, em 1978, por intermédio de uma indicação de um profissional da construção civil que prestava serviços ao Clube, fazendo reparos no Estádio Couto Pereira.
Ainda chamado na época de “Da Costa”, Toby estreou com a camisa Coxa Branca no ano seguinte em 1979, numa partida fora de casa contra o União Bandeirante, vencida pelo Coxa pelo placar clássico de 3 x 0. Curiosamente, quem treinava o Coritiba nesta época era justamente o técnico Ênio Andrade, que anos mais tarde reencontraria o meia no clube para trilhar um caminho glorioso.
Nos seus primeiros passos como profissional do Coritiba, Toby foi utilizado pelos treinadores que passaram pelo clube como médio volante, o que ajudou o jogador a adquirir diferentes habilidades, se tornando um atleta versátil que sabia defender e atacar com qualidade.
O apelido que o tornou famoso foi dado pelo atacante Aladim durante o ano de 1980, oriundo da minissérie Raízes, que contava a saga de Kunta Kinté, capturado na Gâmbia e vendido como escravo nos Estados Unidos, onde teve o nome mudado para Toby.
Ainda jovem, o jogador foi emprestado para o Cruzeiro e para o Operário de Ponta Grossa durante as temporadas de 1982 e 1983, onde ganhou rodagem e experiência. Retornou em 1984, ainda com um status de coadjuvante.
Seria em 1985, aos 23 anos, que Toby se credenciaria definitivamente como titular do Coritiba e como uma das grandes revelações do futebol brasileiro naquele ano.
O Brasil passava por muitas mudanças políticas, com o fim do regime militar e uma nova democracia surgindo. Os times do eixo Rio São Paulo tinham craques como Muller e Careca (São Paulo), Casagrande (Corinthians), Zico e Bebeto (Flamengo), Roberto Dinamite (Vasco), Washington e Assis (Fluminense), entre outros.
Toby iniciou a disputa do Nacional pelo Coritiba como titular mas ainda sem muito protagonismo. No entanto, logo na primeira partida o meia Coritibano mostrou serviço e marcou um dos gols na vitória contra o São Paulo no Couto Pereira, pelo placar de 3 x 1. Após sofrer algumas derrotas no primeiro turno, o Coritiba voltou melhor no segundo e o futebol de Toby foi acompanhando o crescimento da equipe que se sagrou campeã do returno , garantindo vaga para a próxima fase. Neste período, o meia chegou a ser elogiado até pelos próprios adversários, como na partida contra a Portuguesa (SP), quando o consagrado Luis Pereira ressaltou sua coragem, habilidade e força física.
Na fase seguinte, jogando contra Corinthians (SP), Sport (PE) e Joinville (SC) o Coritiba foi o grande vencedor de seu grupo, garantindo assim a vaga para a semifinal do campeonato.
Nesta etapa da competição o Coritiba encontrou ninguém menos que o Atlético-MG de Nelinho, Paulo Isidoro e do craque Reinaldo.
Na primeira partida, após um apagão que paralisou a partida por cerca de 20 minutos, Toby quase marcou num chute que passou raspando a trave de João Leite. No começo do segundo tempo, Toby fez um lançamento primoroso para o ponta Edson que avançou e bateu na trave, por pouco não abrindo o placar para o Coxa. Logo depois, após cobrança de escanteio o zagueirão Heraldo marcou e o Coritiba conseguiu a vantagem para o jogo da volta.
Em Belo Horizonte, enfrentando um Mineirão com 80 mil pessoas, o Coritiba jogou de forma defensiva, segurando o Galo em seus domínios. Neste jogo, Toby precisou ajudar muito na marcação, uma vez que o time Coxa Branca pouco atacou. O goleiro Rafael por sua vez, fez fantásticas defesas, garantindo o resultado que levou o Coritiba a grande final.
Na grande final, três dias depois, o Coritiba enfrentou o Bangu em partida única, num jogo que marcou a união das quatro torcidas do Rio em favor do time carioca, levando uma multidão de mais de 100 mil pessoas ao Maracanã. O clima era de festa e todos davam como certa a conquista do time carioca, que era patrocinado pelo bicheiro Castor de Andrade, um dos maiores contraventores da história do país.
O Coritiba não se intimidou e logo no início do jogo Toby arrancou em direção da área e foi barrado com falta muito próximo a linha, que por poucos centímetros não configurou um pênalti. Edson bateu rente a trave de Gilmar. Logo depois, aos 25 minutos, Dida acionou Toby que mais uma vez arrancou com a bola e foi parado com falta, desta vez mais longe da área. Índio bateu com maestria no ângulo direito e colocou o Coritiba a frente. Dez minutos depois o Bangu empatou, e a partir daí foi só pressão do time carioca até o fim da prorrogação, que acabou empatada, levando a decisão para a disputa de pênaltis. Toby não bateu nenhuma das cobranças, mas disputou intensamente os 120 minutos daquela partida sendo vital para o time segurar o resultado. Nas cobranças alternadas após o empate em 5 x 5, o ponta Ado do Bangu bateu pra fora e o zagueiro Gomes tratou de marcar o gol que deu ao Coritiba e ao Estado do Paraná o primeiro e maior título nacional da história.
Após o jogo, Toby deu uma entrevista marcante aos repórteres que cobriam o jogo, dizendo em tom de desabafo que o povo falava demais (se referindo aos cariocas), lembrando que o Coritiba foi humilhado antes da partida por não estar num grande centro, e concluindo que graças ao brio de cada jogador o Coritiba era o Campeão Brasileiro e que o Estado do Paraná estava de parabéns, ressaltando que a conquista não foi apenas de um clube, mas de um Estado que merecia respeito da mídia nacional.
Após o título, o futebol de Toby ficou tão em evidência que o Bangu resolveu contratá-lo, levando-o para o Rio de Janeiro onde o meia permaneceu por quatro temporadas. Depois passou por Vitória, Juventus, Iraty, São Paulo (RS) e Sinop (MT), clube em que se aposentou em 1996.
Em 2009, Toby publicou uma obra chamada “Coritiba, Campeão Brasileiro de 1985, na visão do campeão Toby”, onde relatou histórias, bastidores, e detalhes da conquista Coxa-Branca no Maracanã.
Lamentavelmente, Toby sofreu um infarto fulminante em 2015, aos 53 anos, nos deixando precocemente. Porém Toby nunca será esquecido. Ficará eterno nas nossas memórias, aquele meia criativo, rápido, habilidoso que não se intimidava com ninguém e que com sua simplicidade e humildade ajudou a conduzir o Coritiba ao maior título de sua história.
Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)