Eucledson Filho
A fila de 10 anos sem o título estadual pesava toneladas nas costas de cada torcedor do Coritiba. Todos os “quases” e “como foi que aquela bola não entrou?” daquela década tinham que ficar para trás de uma vez por todas. Do outro lado o grande bicho-papão dos anos 90. O Paraná era um rival recente, mas que rapidamente galgou o posto de pedra no sapato do Coritiba, daqueles que quando jogam melhor, ganham e quando jogam pior, ganham também.
Mas aquela final tinha tudo para ser diferente. O Coritiba não tinha apenas um time bom, ele tinha um time com fome. Fome de glórias e de títulos, um time cheio de guerreiros com vontade entrar para história do clube.
Dentre eles, o mais faminto era Cleber Arado. O camisa 10 tinha uma história inusitada no Alto da Glória, com idas e vindas que pareciam vir direto do folclórico futebol dos anos 60.
Quando Régis rebateu o chute do zagueirão Flávio, o Couto Pereira já se antecipou para comemorar. A bola caminhava mansamente para os pés de Cléber Arado, e todos sabiam o que isso significava: viria uma finalização forte, confiante, indefensável e um inevitável gol. A gente só não sabia que nosso artilheiro faria questão de premiar aquele gol histórico com um voleio espetacular. Sabem como é, coisas de artista, desses que deixam sua marca caprichosa em todos os detalhes de suas grandes criações.
Meia fração de instante depois de sair dos pés de Cleber, a pelota já estufava vigorosamente a indefesa meta paranista. Uma piscadela depois e dezenas de milhares de coxas urravam no gigante de concreto armado, numa explosão tão forte quanto as finalizações daquele guerreiro alviverde. O adversário, coitado, nocauteado pelo golpe certeiro, ficou tão arrebentado que mesmo após 22 anos ainda não se recuperou, cambaleando diariamente, principalmente ao se deparar com o irresistível manto alviverde e relembrar daquele gol eterno.
Foram 45 gols pelo Coritiba, quase todos com aquele efeito catártico de quando conseguimos algo extremamente desejado. É que Cleber, apesar de ótimo jogador, não sabia fazer golzinho, não sabia jogar só o necessário. Ele só sabia jogar e finalizar como se toda partida fosse a última, como se cada torcedor estivesse corresse e lutasse junto.
Cleber Arado foi um guerreiro. Brigava pela bola, por gols, pelos companheiros, pela torcida e pelo Coritiba. O verdadeiro Cleber Gladiador, daqueles que faziam a torcida explodir de alegria, e não de raiva.
Agora essa mesma torcida murcha em tristeza, com a despedida tão precoce e dolorida de um dos grandes ícones daquela geração. Deixa família, fãs e, com toda certeza, inúmeras lembranças inesquecíveis.
Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)