Entrevista coletiva
Por: João Carlos Sihvenger
Quem é Lucas de Paula, novo CEO do Coritiba? “Estou há 20 anos na indústria de consultoria (petróleo, indústria plástica, metalurgia, agrícola), há 10 anos fundei a Outfield, com Pedro Oliveira, a maior consultoria de esportes do Brasil e começamos a entender que um clube de futebol é uma empresa, que gera momentos, que vão gerar lembranças afetivas e que em algum momento gera amor. Estamos numa indústria que não gera só vitórias, mas que em algum momento começa a imputar amor no coração das pessoas, e para isso, obviamente precisamos de um time vencedor, um time forte para investir, e, se conseguirmos fazer esse círculo virtuoso funcionar de maneira orgânica, vamos obter sucesso dentro do Coritiba. Na Outfield fazemos vários investimentos, 112 projetos na indústria esportiva e participamos ativamente das discussões e regulamentação da Lei da SAF em 2021, e nesse ano foi fundada a Outfield Venture, gestora de investimento 100% focada em esportes na América do Sul, com investimento total de perto de 1 bilhão de reais. Estou aqui há 40 dias e o conselho de administração me pediu exclusividade total para viver aqui dentro, então hoje vivo de Coritiba, por Coritiba e para o Coritiba”.
Como vai funcionar esta sua situação, exclusivo do clube, licenciado da empresa, mas com investimento aqui, não poderá haver conflitos de interesses? “A Outfield sempre foi investidora do fundo da TreeCorp, e isso tem que ficar bem claro. O que mudou foi que nos últimos meses, em conversa com as pessoas da TreeCorp, Bruno e outros e com o Conselho de Administração decidimos vir para cá para assumir a gestão, aí passo a ser funcionário do clube, contando com ajuda do Conselho de Administração e outros agentes que estão à margem do projeto, outros parceiros e ajuda da Associação. A figura da Outfield que vai integrar o Conselho de Administração é meu sócio, Pedro Oliveira, que fará o mesmo papel que o Bruno faz, o Rafael Mangabeira e outros. Os papeis estão bem definidos e eu venho para assumir o cargo de CEO do clube e respondo para o Conselho de Administração”.
Com a sua chegada como será a nova estrutura do Conselho da Administração da SAF do clube? “Não muda nada, apenas o acréscimo do Pedro Oliveira no Conselho. Todas as decisões tomadas por mim passarão pelo Conselho, claro que eu tenho a caneta, contamos com a ajuda e experiência de todos, mas a decisão fica centralizada em mim”.
Qual o diagnóstico que já conseguiu fazer do Coritiba nesses 40 dias, visto que é uma pessoa com experiência e atuação em clubes como São Paulo, Ferroviária, Red Bull Bragantino? “Importante dizer que quando cheguei aqui não peguei terra arrasada, muita coisa foi feita em 18 meses, a SAF pagou mais de 100 milhões em dívidas, foram investidos 7 milhões em tecnologia em cinco softwares de análise de desempenho, estamos fazendo a instalação completa do Oracle, e claro, alguns ajustes já fiz nas primeiras semanas, mas pegamos um clube já organizado e caminhando paulatinamente para a mudança. Obviamente que vou implementar minha dinâmica, meu tom de voz e meu estilo de governança, e o objetivo é o clube se perpetuar no top da governança, independente da pessoa que estiver à frente. Não adianta subirmos para a série A sem credibilidade, então temos que começar a criar esta cultura aqui dentro, de estar no melhor time para se jogar nesse país, estaremos sempre atentos aos grandes nomes que porventura mudem o ponteiro da qualidade do clube, o Coritiba está aberto ao mercado e resgatando essa credibilidade. Quando cheguei aqui há 40 dias, vi um clube organizado, porém sem resultado esportivo, isso significa que a gestão administrativa está algumas casas à frente da parte esportiva. Agora, neste início de série B já começamos a ver um time com identidade do Mozart, que começa a ser respeitado e difícil de ser batido, com um aproveitamento de 66% que qualifica o time como top 3 na classificação”.
Qual sua visão a longo prazo para o Coritiba, a filosofia chamada visão 2030? “Temos metas a curto prazo, mas temos que pensar a longo prazo, o Centro de Treinamento, a reforma do Couto e isso vai aumentar nosso engajamento com o torcedor, não estou aqui para tapar buraco, mas sim para resolver os problemas, as pessoas me receberam bem aqui, moro em Curitiba, sou feliz nesta cidade, e encontrei muitas pessoas que tangenciam esse projeto que querem qualificar ainda mais o Coritiba, colocar num patamar de top 10 e isso se dá com essa simbiose entre gestão e futebol, simbiose com a torcida. Pensamos a curto e médio prazo, mas pensamos também em 2030 onde queremos começar a brigar por títulos no continente”.
Como e de quem partiu o convite para trabalhar no Coritiba? Será um CEO de escritório ou também de campo? “O convite partiu do Bruno, depois de muitas conversas. A TreeCorp é uma empresa de investimentos em Equity, não restrita ao esporte, já a Outfield só faz esporte há mais de 10 anos. O esporte é uma indústria que ainda vai crescer muito na América do Sul, uma indústria muito grande, com faturamento na casa dos 9 bilhões de reais entre clubes da série A e B, mas com uma dívida de 12 a 13 bilhões de reais, então o esporte ainda está se equalizando. Começamos a estreitar o relacionamento com o Bruno, ele conheceu a Outfield e começamos a conversar, e pedi uns 14 dias para estudar a possibilidade, porque não é algo fácil, tem que estar bem-preparado. Em relação a ser um CEO de escritório, se tudo correr como planejado serei sim, mas caso haja necessidade e o campo pedir mais minha presença, estarei lá, pode ser 60% - 40%, 80% - 20%, 90%-10%, isso depende”.
Antes da sua chegada foram criadas expectativas no torcedor, porém houve as eliminações no paranaense e Copa do Brasil, portanto expectativas que não foram atendidas, o que falar para o torcedor neste momento, quais as metas para esse ano? “Conversei muito com o Willian, com o Mozart, com o Jorge e já estava aqui quando fizemos a contratação do Nascimento, e são as pessoas que mais se cobram pelas eliminações. O William é o condutor desse projeto, honesto, entende das engrenagens do futebol, ele juntamente com o Mozart entende muito de futebol e os que mais trabalham nesse elenco. Esta entrevista não foi marcada hoje porque temos um recorte de top 3, o recorte que eu queria era de título, mas marcamos aqui para sanar outras dúvidas, estamos em boas mãos, mas a caneta está na minha mão. Peço para torcida que acredite no projeto, o elenco está focado, não vamos ganhar as 33 rodadas, ninguém ganha e qualquer deslize cobrem de mim daqui para frente”.
O que pensa da contratação do Nascimento pois o clube necessita de ter pessoas que conheçam bem o clube, isso é uma tentativa de resgatar pessoas que saibam o DNA do clube? “Sem dúvida, não só o Reginaldo, mas temos um plano de ação para voltar a compor essas pontes. Nesses 40 dias conversei muito com a Associação que tem me ensinado muito, falei com pessoas que já geriram o clube, com ex patrocinadores e ouvir o porquê saíram e nesse período inauguramos dois novos patrocinadores e lançamos a campanha por um novo sol”.
Como será sua relação com a presidente da Associação Mariana Libano?
“A relação será boa, não posso falar do período que não estava aqui, queremos ter uma relação harmoniosa, a gestão da Mariana tem sido muito boa, fizemos alguns projetos sociais em conjunto. Amanhã já tenho uma reunião com ela sobre pautas operacionais para continuar estreitando o relacionamento, sempre acredito no diálogo, e não só com ela, com o Espeto, o Jusse. Aprendi muito com eles, só tenho elogios a fazer”.
Como será sua atuação em relação ao William Thomas, que é o Head do futebol, qual será a hierarquia? “Minha gestão é mais decentralizada, porém mais rígida. Tenho que acreditar no William e em outros diretores também, na parte financeira, operacional, no Campestrini, o gerente B2C, B2B, gerente de comunicação, de marketing. O clube não pode depender 100% do Lucas, se fizermos microgestão no clube, isso vira gargalo. Então é diligenciar os problemas e saber atuar na hora certa”.
Como será a questão dos gastos, pretendem dar passos maiores ou se manterão conservadores? “Não julgo tão conservador assim, pois é difícil pagar 100 milhões em dívidas em 18 meses, instalar 23 plataformas de software, 7 milhões em tecnologia, reformular todo o organograma, reformular o fluxo. Claro que o desempenho esportivo não acompanhou, senão os holofotes estariam mais na gestão. Temos um dos principais orçamentos da série B. Importante o torcedor saber que vivemos um primeiro ano das ligas, tanto LFU como LIBRA que resultou num incremento de dinheiro de televisão que historicamente os clubes não tinham. Temos a janela do mundial se abrindo em junho, estamos atentos, mas temos a volta do Morisco, do Everaldo, do Nicolas. Estaremos atentos e não mediremos esforços para o título”.
Como se manter na linha tênue do sucesso e o fracasso no futebol, e quais ações pode fazer para reaproximar o torcedor do Couto Pereira? “Quero deixar um agradecimento aqui ao torcedor, contra o Vila Nova foram 29 mil, maior público da série B até agora, nos outros jogos sempre acima de 20 mil pessoas. Com esse início de série B as coisas começaram de forma positiva para nós e o que temos que fazer é trabalhar muito. Temos que continuar fazendo a campanha por um novo sol, ações com o sócio torcedor, campanhas com desconto no comércio”.
Como melhorar a campanha do sócio torcedor? “O segredo é você entregar valores que vão além dos jogos, não só prioridade na compra de ingressos, precisamos ter mais desconto em farmácias, posto de gasolina, restaurantes. Temos hoje mais de 80 mil pessoas cadastradas na plataforma de sócio com 26 mil sócios ali dentro, e uma das minhas metas é ter mais sócios do que lugares no Couto, isso será o indicador completo do programa, claro que o sucesso disso depende do resultado de campo”.
Quanto ao CT e reforma do Couto, tem alguma projeção de data de início de obra? “O projeto do CT está pronto, homologado, passa por uma série de questões, regulamentares e ambientais e está mais próximo de acontecer. Não houve nenhum decréscimo nele, será de um tamanho gigante, nos próximos meses poderemos ter novidades. Quanto ao projeto do Couto, é um pouco mais complexo, não só por conta da infraestrutura, mas também pelos investimentos. Isso está mais a cargo do Campestrini que tem olhado para parceiros financeiros”.
Entre as ações que possam aproximar o torcedor está o preço dos ingressos com as promoções. Em relação à camisa, que até o ano passado era considerada uma das mais caras do Brasil, pretendem baixar o preço? “Em relação aos ingressos vamos pensar jogo a jogo e quando fizerem sentido, vão acontecer. Em relação às camisas, eu não tinha esse dado de que era uma das mais caras do Brasil, vou me inteirar disso para informar depois a vocês”.
Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)