ESTUDO
Por Alysson Artuso, físico e pós-graduando em métodos
estatísticos aplicados à engenharia, integrante da equipe COXAnautas
No futebol moderno a bola parada tem se mostrado uma poderosa arma em busca de vitórias, com quase um terço dos gols sendo conseqüência de pênaltis, escanteios ou faltas. Assim, um jogador que se destaca nesses lances pode ser o diferencial para o sucesso de uma equipe, não só pelos gols de falta e pênaltis que fará durante o campeonato, mas também por ser preciso nos escanteios e nas faltas levantadas para a área. Aliado a isso se pode explorar jogadores altos e de boa impulsão para os escanteios e faltas laterais, ou jogadores velozes e habilidosos que sofram muitas faltas na entrada e no interior da área.
Mas para isso é necessário um treinamento específico e prolongado, tanto para a precisão do batedor quanto para ensaiar as ações e posicionamento dos demais atletas. Em alguns esportes isso é levado ao extremo, como no vôlei, basquete ou futebol americano, no qual as "jogadas ensaiadas" nem sequer se restringem aos lances em que há a o equivalente a "bola parada". Mesmo no futsal isso ocorre de maneira incisiva, profissionais da área afirmam que os times possuem várias dezenas de jogadas previamente treinadas e todos os lances dos jogos são baseados nessas jogadas ensaiadas ou em improvisações em cima delas.
A repetição de jogadas específicas parece não ser a tônica nos times de futebol. Há quem diga que o romantismo do futebol seria deixado de lado em nome de uma busca mecânica por resultados. Pode se argumentar também que o tempo para treinamento é escasso, e que aspectos táticos e físicos são prioridade, relegando a segundo plano as jogadas ensaiadas e mesmo a prática de fundamentos.
O primeiro argumento parece frágil, na medida em que muito se aprecia os cobradores de falta e se festeja cobranças épicas de Rivelino, Éder, Nelinho, Zico, Neto, Raí, Alex, Ronaldinho Gaúcho e tantos outros. O mesmo ocorrendo em jogadas ensaiadas, como a batida de falta em que Jairzinho se colocava junto a barreira e Rivelino batia no espaço que ele ocupava; ou os escanteios batidos na entrada da área por Roberto Carlos para o Zidane completar de voleio.
Para a segunda contestação, se realmente o tempo for escasso, uma alternativa seria intensificar esse tipo de treinamento nas categorias de base dos clubes, despertando também a iniciativa de treinamento no indivíduo, para que ele não dependa apenas de treinamentos coletivos para querer se aprimorar. Nesse ponto são notórios os casos de Hortência e Oscar no basquete, que todo dia arremessavam milhares de bolas, ficando três, quatro horas além do treinamento se aprimorando. Ou de Zico, Éder e Nelinho que batiam 100, 200 ou mais faltas nas duas horas que treinavam após o horário normal.
Outra possibilidade é observar como outros esportes coletivos conseguem conciliar seus treinamentos táticos e físicos com desenvolvimento e aprimoramento das jogadas ensaiadas. No basquete é comum os jogadores fazerem pelo menos 200 lances livre em todos os dias, handball e futsal ensaiam todas as suas jogadas, sejam elas com a bola parada ou não. No vôlei os saques são repetidos no mínimo 60 vezes por dia, num esporte em que o treinamento dos fundamentos e jogadas ensaiadas tem seu exemplo maior em Bernardinho, que com essa filosofia consolidou o voleibol brasileiro como o melhor do mundo. Se os outros esportes de alto nível são assim, será que o futebol não teria a ganhar seguindo esse exemplo?
Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)