ARTIGOS
Publicamos a pedido, artigo do torcedor Coxa-Branca Jefferson Ramos Brandão, que responde o amigo P.G.K, torcedor do A. Paranaense, que publicou num site sobre futebol, um artigo comentando a queda do Coritiba à Segunda Divisão.
Jefferson, ou Jack, como é carinhosamente chamado pelos amigos, faz parte do Blitz CFC 1909, um movimento de vários amigos coritibanos que visam torcer e defender o Coritiba.
O grupo tem uma pequena faixa, que é levada aos jogos no Estádio Couto Pereira. Para 2006, os coritibanos estrearão uma faixa maior.
Além de defender o Clube, o grupo de amigos incentiva outros torcedores a confeccionar faixas com palavras de apoio, sem a intenção de criar uma torcida organizada.
No entender de Jefferson, "O Couto é o mais democrático; quero vê-lo cheio de faixas da nossa torcida (respeitando, claro, as placas de publicidade)" destaca o torcedor do Verdão.
Li a sua coluna, Paulo. Gostaria de responder, pois gosto de futebol e amo o Coritiba. E sei que vc é um torcedor inteligente, pesquisador: arrogância e elitismo não são características do Coritiba. Lembre que o apelido histórico do CAP e da sua torcida é “pó-de- arroz”. É o CAP que possui como mascote o cartolinha (lembra?? Mascote de clube de futebol não surge por acaso...), que hoje, parece, foi substituído pelo furacão, em mais uma tacada de marketing.
O Coritiba não tem marketing, é verdade. O Coritiba está na segunda divisão. Durante alguns jogos, alguns torcedores partiram para a porrada com os jogadores, na saída do estádio. Mas o fato de não haver uma mobilização geral contra decorre do fato de que o torcedor do Coritiba é o único do Estado que se identifica realmente com seu clube, do início ao fim, incondicionalmente, apaixonadamente.
Quebrar o Couto é simplesmente inadmissível, porque estaríamos quebrando nossa casa, nossa verdadeira casa. Bater em um jogador do Coritiba é como bater em um irmão, que vimos nascer e queremos bem para sempre. A torcida coxa não apedreja jogador que veste a mística camisa do CFC; ela somente pede raça, honra, e canta para ver o time ganhar.
O Coritiba não é um produto. O torcedor do Coritiba não demanda contra seu clube perante o Procon. Essa é uma formula correta? Essa é uma fórmula vencedora? Não sei... Mas ela é a expressão de um amor verdadeiro, que não espera contra-partidas. Nada do Coritiba, tudo pelo Coritiba.
Essa é a razão. Mas você sabe, a torcida do CAP não tem essa identificação toda, porque o clube nunca teve uma personalidade própria. O CAP sempre procurou personalidade em outros clubes (Flamengo no início, Milan na década de 80, Manchester United atualmente, e por aí vai...). Ou não é verdade que a fusão do Internacional e do América teve como objetivo seguir os passos do Flamengo, “grande clube do povão carioca” que despontava para a mídia nacional na época? Ou não é verdade que durante anos o CAP usou o mesmo uniforme do Flamengo? Ou não é verdade que recentemente, até o escudo do clube mudou? Você consegue imaginar o Coritiba mudando seu escudo? Impossível, porque o Coritiba e suas coisas (inclusive a forma do seu símbolo) estão arraigados há muito tempo na vida do torcedor coritibano.
A torcida do CAP também sofre de crise de personalidade. Surgiu então o mito de torcedores fanáticos. Mas como uma torcida pode ser fanática se quebra a própria casa (cadeiras, etc.) quando o clube perde um campeonato para o maior rival (penúltima decisão na Arena)? Como pode ser fanática quando entra com ações na Justiça, reclamando de “falta de conforto” no estádio? Esse amor é realmente verdadeiro ou é somente construído para atrair mais torcedores?
Paulo,sei que você é atleticano de coração. Você sabe que eu respeito isso, pois também sou doente pelo Coritiba. Mas é inegável que a maioria absoluta da torcida do CAP não sabe a história do clube. Muitos não sabem sequer que o clube nasceu de uma fusão de outros dois clubes formados por tradicionais famílias de Curitiba.
Pergunte para qualquer torcedor atleticano se ele sabe que o seu apelido histórico é pó de arroz, almofadinha, cartolinha? Ele provavelmente irá responder: “Como assim???? Eu torço pelo furacão da Arena!!!”. Pergunte qual é o mascote do CAP. E pergunte se ele sabe como surgiu o apelido “Coxa-Branca”? Eu sei que você sabe da história de seu clube, e é por isso que eu respeito torcedores como você. Mas você é minoria na sua torcida.
Talvez isso não seja tão importante para a torcida do Atlético, porque a fórmula está dando certo até agora. O que importa, segundo o Petraglia, é ter vários consumidores com dinheiro (pois até a torcida organizada é “concorrente” da marca Atlético). Esses sim são bons torcedores. Mas consumidor fica feliz somente quando é “bem atendido”. E quando o clube sofrer algum revés? São nos momentos ruins que surgem os verdadeiros torcedores, e o Coritiba pode se orgulhar por ter verdadeiros torcedores. E isso me deixa realmente feliz.
Ter torcedores consumidores é uma exigência do futebol atual? Pode ser. Mas o Coritiba sempre viveu do amor da sua torcida (com que dinheiro construímos o Estádio Major Antônio Couto Pereira?), e sempre viverá, em qualquer divisão. E sua torcida estará junta para vê-lo levantar novamente, não importa quando. Essa é a alegria do torcedor do Coritiba: cantar seu amor pelo clube.
E falar mal do Vinícius Coelho? Um velhinho que ama o Coritiba, humildemente, antes mesmo de você nascer?Arrogante é aquele que acha que seu clube é um dos maiores do mundo, e somente fica realmente feliz com a derrota do rival (um dos sintomas da citada falta de personalidade). Se idolatramos nosso “estádio de tijolos velhos”, é porque nosso amor é antigo, incondicional, e não depende de arenas novas, de banheiros decentes ou qualquer outra coisa.
Amado Coritiba. Toda a sua glória, toda a sua história, para sua fiel e incansável torcida.
Um grande abraço camarada, e viva a rivalidade inteligente.
Jack
Jefferson Ramos Brandão
Advogado, Coxa-Branca de Coração.
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Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)