Careta inesquecível
Por: Luiz Eduardo Buquera
O mês de abril está definitivamente marcado na história do Coritiba e de Lela, ponta direita que encantou coxas-brancas de várias gerações que tiveram a felicidade de acompanhar a trajetória deste ícone do futebol do Glorioso nos anos 80.
Lela nasceu em Bauru, em 17 de abril de 1962, onde deu seus primeiros passos para o futebol, no Noroeste da mesma cidade. Entre 1981 e 1982 teve boa passagem pela Internacional de Limeira, até chegar ao Fluminense. No início de 1983, após dois anos péssimos para o futebol do clube, o Coritiba pretendia montar uma equipe forte e retomar os anos de glória. Uma das muitas iniciativas, foi a troca por empréstimo de Leomir, promissor meio campista criado na base do Verdão, por Lela, jovem atacante que atuava no Fluminense.
Lela estreou em 22 de janeiro de 1983, e já mostrou serviço em suas partidas iniciais pela Taça Akwaba, conquistada pelo Coritiba, na Costa do Marfim, bem como na Taça de Prata, competição similar à série B do Campeonato Brasileiro, que no entanto, dava possibilidade de classificação para a sequência da série A.
No Campeonato Estadual do mesmo ano, Lela foi protagonista em uma equipe que contou com destacados veteranos, como Jairo, Aladim, Hermes, Gardel, Luisinho, Freitas e Dario (o Dadá Maravilha), além de jovens talentosos como Vavá, André e Elizeu. Foi o artilheiro da equipe em 1983 com 16 gols. Nesta competição, o atleta criou sua marca registrada. A careta ao comemorar os gols ocorreu primeiramente de maneira inusitada numa partida no interior do estado, para devolver as provocações da torcida adversária. Nas partidas seguintes a motivação para as caretas se modificou, e passou a ser uma forma alegre de celebrar com a torcida, já que torcedores e a imprensa local começaram a questionar se haveria careta na partida seguinte.
Em 1984, ocorreu a troca em definitivo de Lela por Leomir, com o Fluminense. Lela se estabeleceu como ídolo e manteve o protagonismo, agora com um time renovado, que contaria com as contratações de Édson, Índio, Marco Aurélio, Gomes, Carlinhos Maracanã e Aragonez e a promoção de Hélcio e Toby das categorias de base. Novamente foi artilheiro da equipe no ano (21 gols) e participou da boa campanha no Campeonato Brasileiro e do vice-campeonato estadual, que embora indesejado, qualificou o Glorioso para disputar a série A do Brasileirão de 1985.
Em 1985, aos 23 anos de idade, Lela teve a oportunidade de coroar sua brilhante trajetória pelo Coritiba com a conquista do Campeonato Brasileiro. Agora dividia o protagonismo com o goleiro Rafael, com os demais atletas tendo sido fundamentais e lhes permitido os destaques individuais. Em 14 de abril, marcou o gol mais importante e lembrado de sua passagem pelo Verdão. Aos 44 minutos do segundo tempo, marcou o gol da vitória contra o Santos, que classificou o Coxa e eliminou o Fluminense, que já comemorava no Maracanã.
Quis o destino que em 2022 o Coritiba voltasse a enfrentar o Santos no mesmo dia que o herói de 1985 completa 60 anos. Poucos dias após comemorar 37 anos daquele gol histórico contra o Santos, o Coritiba terá uma partida decisiva com o mesmo adversário pela Copa do Brasil. Que os deuses do futebol estejam preparando agradáveis surpresas para a torcida que nunca abandona e que tais datas e acontecimentos não sejam mera coincidência.
No Brasileirão de 1985, várias foram as ocasiões decisivas em que o camisa 7 mostrou seu talento, raça e irreverência: na exuberante estreia contra o São Paulo, nos gols decisivos contra Corinthians e Joinville na segunda fase e na cobrança do pênalti, na decisão contra o Bangú. Lela era assim, gostava de jogos importantes e decisivos e aparecia nos momentos mais difíceis.
Infelizmente, no final do mesmo ano, sofreu uma grave fratura que o tirou da Taça Libertadores da América e do Campeonato Estadual de 1986. Retornou apenas no final do ano.
A volta foi muito difícil, com problemas físicos que impediram Lela de atuar no mesmo nível. Embora tenha feito algumas boas partidas em 1987 e tenha sido o artilheiro do Verdão no estadual (10 gols), não conseguiu manter a regularidade até sua saída do clube em 1988, ainda amado e reverenciado por sua torcida.
Em 26 de junho de 1988, Lela fez sua última aparição com a camisa alviverde, no empate por 0x0 com o Pinheiros, contabilizando 200 partidas, 55 gols e sendo um dos responsáveis pela maior conquista da história do clube.
Lela, Muito obrigado! Que a vida lhe reserve muitas alegrias, da mesma maneira que você proporcionou à torcida Coxa.
Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)