Jogos inesquecíveis
Por Ricardo Honório
O ano era 1991. O Coritiba estava na segunda divisão do futebol brasileiro e tinha uma parada dura pela frente nas semifinais da Série B. O adversário era o Guarani, presidido à época por Beto Zini, um dos maiores mafiosos do futebol brasileiro.
O time do Coritiba era comandado por Levir Culpi e tinha vários bons jogadores em seu elenco, com destaque para o goleiro Luiz Henrique, o zagueiro Heraldo, os meias Tostão e Nardela e o atacante Chicão, além de contar com jovens muito promissores vindo das categorias de base do clube, como o zagueiro Jorjão, os volantes Hélcio e Emerson, e o mais talentoso deles, o atacante Pachequinho. O elenco contava ainda com o experiente atacante Mirandinha, com passagens pela seleção brasileira e que foi o primeiro jogador brasileiro a atuar no futebol inglês, jogando com a camisa do Newcastle.
A Série B daquele ano foi disputada por 64 clubes, divididos em oito grupos de oito times. Somente 2 dos 64 times conseguiriam o acesso para a primeira divisão do ano seguinte. O Coritiba terminou como líder do Grupo 8, que ainda tinha Paraná Clube, Joinville, Figueirense, Criciúma, Caxias, Juventude e Blumenau. Na primeira fase, o Coritiba terminou em primeiro do grupo, seguido de perto pelo Paraná Clube. Se classificavam dois de cada grupo para as oitavas de final.
Nas oitavas de final, o Coritiba enfrentou o Bangu. Assim como em 1985, deu Coritiba. O Verdão venceu por 4x2 o primeiro jogo em Moça Bonita e venceu por 1x0 em Curitiba, com destaque para o centroavante Chicão, que fez três gols no confronto.
O adversário das quartas de final foi o Paraná Clube. Os dois jogos foram disputados no Couto Pereira. Na primeira partida, vitória do Paraná por 1x0. No jogo da volta, um show do Coritiba e uma goleada por 4x0, com direito a gol olímpico de Pachequinho e uma atuação de gala do volante Emerson, então com 17 anos.
O adversário da semifinal era o Guarani, que tinha eliminado o Noroeste, de Bauru. Na outra semifinal, o Paysandu enfrentaria o Americano, de Campos. O Coritiba tinha muito mais time, mas não contava com um fator externo determinante para que o confronto não fosse decidido somente pelos atletas: a arbitragem.
A coisa começou a ficar esquisita quando a CBF escalou o mesmo trio de arbitragem para as duas partidas. O famoso árbitro carioca José Roberto Wright seria o juiz dos dois confrontos entre Coritiba e Guarani.
No primeiro confronto, vitória alviverde por 1x0, gol do zagueiro Heraldo, que mais uma vez, marcava um gol em semifinal de campeonato brasileiro, assim como tinha sido contra o Atlético/MG em 1985. Mas a arbitragem começou neste jogo a influenciar no resultado. O atacante Pachequinho sofreu duas penalidades que não foram marcadas por Wright.
Para o jogo em Campinas, o Coritiba só precisaria de um empate para garantir vaga a final e carimbar seu acesso para a primeira divisão. Mas foi aí que entrou em cena mais uma vez o árbitro José Roberto Wright.
Era noite de uma segunda-feira, 13/05/1991. O Brinco de Ouro estava lotado pela torcida bugrina. A torcida Coxa, em menor número, foi colocada em um espaço reduzido e rodeado de torcedores adversários. O resultado disso foi um festival de pedras, copos com cervejas e outros líquidos e uma tensão muito grande para o torcedor Coxa que ali estava.
O adversário, comandado por Pepe, era duro, tinha bons jogadores em seu time, com destaques para os veteranos Pereira, Biro-Biro, Edson Boaro, Nenê e Ivair, mas era inferior ao excelente time que o Coritiba tinha. O problema é que o jogo não foi decidido somente pelos jogadores.
O Coritiba teve muitos problemas antes da bola rolar. Ao chegar no Estádio Brinco de Ouro, o ônibus do time alviverde não pode parar próximo ao vestiário, com os jogadores tendo que descer em meio a um corredor formado pela torcida bugrina. O vestiário para os visitantes estava lacrado com pedaços de madeira na porta, impedindo o acesso do time alviverde. Colocam a delegação Coxa-Branca em um vestiário menor, mas que estava impregnado de formol, o que praticamente impedia os jogadores de respirar. O acesso ao gramado estava trancado e os jogadores do Coritiba tiveram que arrebentar a porta a base de chutes para poder adentrar ao gramado para aquecer para a partida.
Após apito do árbitro, um clima tenso dentro de campo. Os jogadores do Guarani tentavam a todo momento intimidar os jogadores alviverdes. Aos 14 do 1T, a primeira tentativa de José Roberto Wright de prejudicar o Coritiba e direcionar o resultado do jogo. Pênalti inexistente para o Guarani, mas na cobrança o zagueiro Pereira chutou para fora.
Melhor no jogo, o time bugrino conseguiu marcar seu gol no último minuto do primeiro tempo, com o zagueiro Pereira, que bateu rasteiro após cobrança de escanteio para vencer o goleiro Luiz Henrique.
No segundo tempo o Coritiba resistiu à pressão do Guarani e viu a arbitragem interferir diretamente no resultado ao anular um gol legítimo do atacante Chicão, alegando impedindo, quando, ao receber a bola, o centroavante alviverde estava bem atrás da linha de zagueiros do Guarani. A anulação de um gol legal evidenciava a parcialidade do trio de arbitragem em favor do time de Campinas.
A derrota por 1x0 no tempo regulamentar, mesmo placar da primeira partida, levou a decisão para os pênaltis. Nas cobranças, o experiente meia Nardela bateu mal e o goleiro Marcos Garça defendeu, colocando o Guarani em vantagem. A última batida do time campineiro foi do experiente lateral Edson Boaro, que bateu sem chance para o goleiro Luiz Henrique e classificou o Guarani para a final.
A partida ficou marcada na história como um dos maiores erros de arbitragem cometidos contra o Coritiba na história. O famoso árbitro carioca José Roberto Wright, no ano seguinte veio a Curitiba para apitar um jogo do Coxa, sendo fortemente vaiado pela torcida alviverde ao entrar em campo.
Anos depois, ao escrever o livro Um burro com sorte, o técnico Levir Culpi classificou o erro da arbitragem como a maior injustiça que ele teve em sua carreira como treinador. Confira vídeo de Levir Culpi Falando sobre a partida.
Créditos: Adriano Rattmann e Canal do Levir
Em depoimento ao COXAnautas, o atacante Pachequinho contou detalhes sobre a partida e disse inclusive, que a injusta eliminação para o Guarani influenciou diretamente no rumo de sua carreira.
Ficha técnica
Guarani 1 (5) x 0 (4) Coritiba
Local: Brinco de Ouro da Princesa - Campinas
Data: 13/05/1991 (Segunda-feira)
Horário: 21:00 h
Árbitro: José Roberto Ramiz Wright (RJ)
Assistentes: Luiz Antônio Barbosa Lima (RJ) e Paulo Jorge Alves (RJ)
Gol: Pereira aos 45 min.
Pênaltis:
Heraldo, Chicão, Pachequinho e Catani fizeram para o Coritiba. Nardela desperdiçou sua cobrança.
Renda: Cr$ 15.218.000,00
Público: 17.059 (15.218 pagantes e 1.841 menores)
GUARANI - Marcos Garça, Jura, Paulo Silva, Pereira e Julimar; Biro-biro, Valmir e Edson Boaro; Nenê (Ivair), Vonei e Claudinho (Vagner). Técnico: Pepe.
CORITIBA - Luís Henrique, Catani, Jorjão, Heraldo e Márcio; Hélcio, Emerson e Pedrinho Maradona (Mirandinha); Tostão (Nardela), Chicão e Pachequinho. Técnico: Levir Culpi.
Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)