FALA, COXAnauta!
O Coritiba Futebol Clube é a instituição esportiva mais importante do Estado do Paraná, não precisando de nenhum adendo para identificá-lo, seja no nome ou uniforme, por uma questão de originalidade.
O maior exemplo está aqui mesmo, em nossa cidade: o primeiro Atlético a ser lembrado, em qualquer lugar do Brasil, é o Galo de Minas. Entre os tantos elementos que identificam o clube, acredito que um dos mais relevantes seja o hino oficial. Os clubes são lembrados pelos seus hinos, em qualquer lugar. Muitos se tornaram marcas e outros nem tanto.
Portanto, neste aspecto, um clube centenário não tem o direito de errar ou se precipitar, tendo a possibilidade de escolher, de maneira racional, o seu Hino; o Coritiba já o fez e só precisa disseminá-lo. O que não é admissível é correr o risco de perder uma oportunidade única de implantar, definitivamente, uma marca representativa e de bom gosto, para ser divulgada e perpetuada através do tempo.
Um Hino não pode ser adotado por uma torcida em função de uma “moda” ou um mero refrão “bonitinho”. Na prática, no momento temos DOIS HINOS, ou seja, nenhum. O Clube adotou, de maneira oficial e correta, um deles. Porém, a torcida não totalmente. Por isso, vamos falar um pouco da História até chegarmos a ambos.
Sentiu-se, em um determinado momento, que o antigo Hino, de autoria de Vinícius Coelho e Sebastião Lima (Cori, Cori, Cori, Coritiba...), precisava de um novo arranjo, a fim de não se tornar antiquado.
Porém, não era apenas isso. Precisávamos de algo que melhor expressasse um pouco da alma do coxa branca, de maneira mais profunda.
Aos poucos, começou-se uma busca por outra composição, musicalmente agradável, e com uma letra a nossa altura. Um exemplo disto, ocorreu no ano de 1989, quando o saudoso "maquininha", Durval Leal, apresentou durante o Programa Recanto Alviverde, na extinta Radio Paraná (saudades), uma música, com arranjo mais moderno, mas que não se caracterizava como hino.
Na verdade, era uma homenagem ao time e a torcida, que a menos de três anos havia se tornado Campeão da Taça de Ouro, o primeiro Campeão Brasileiro da Nova Republica.
"Vamos gritar coxa, coxa, coxa, vamos ganhar outra vez, o meu time é coxa, coxa, coxa, e não tem pra ninguém..." Isto era apenas um dos indícios da necessidade de um novo hino. Surgiram algumas outras “pérolas”, até que em meados dos anos 90, o compositor Francis Night, nos apresentou o "Coritiba, Eterno Campeão".
A partir daí, a torcida começou a cantar: "De norte a sul está brilhando o Coxa-Branca, Meu Coritiba Campeão do Povo, Oh Glorioso..." Uma boa melodia, sem dúvida. Mas neste momento, cometeu-se o primeiro grande erro: sem ao menos avaliarmos cuidadosamente o conjunto da obra e sua letra que, na minha opinião, é modesta e inferior ao nosso Hino Oficial e sem considerarmos as conseqüências de uma adoção precipitada, o mesmo tornou-se um algo representativo do Coritiba.
Não podíamos adotar, de forma alguma, um símbolo sem que houvesse um estudo criterioso sobre o mesmo. Mesmo assim, o mesmo acabou sendo cantado e divulgado e poucos avaliaram o conteúdo da letra.
Felizmente, alguns já perceberam que a mesma esta longe de ser um primor. Em seguida, cometeu-se outro erro: o Clube, de certa forma, adotou este hino, não oficialmente. Rádios e televisão passaram a tocar um hino não oficial, levando em consideração apenas a aceitação popular e o mesmo acabou se tornando a referência do Coritiba.
Não devemos comparar, mas até o Bonde do Tigrão foi popular, independente da qualidade. Mas deixou de ser, como qualquer moda, de gosto duvidoso. Passaram-se alguns anos e surgiu o concurso para eleger o HINO OFICIAL DO CORITIBA.
Não sei como aconteceu e nem quem foi o autor da iniciativa, mas o fato de colocarmos frente a frente todos os hinos, de maneira democrática, era um avanço significativo. Porém, o Hino adotado precipitadamente, não concorreu.
Desde então o clube adotou, de forma correta e sem sombra de dúvidas, o HINO OFICIAL, de autoria de Cláudio Ribeiro e Homero Réboli. "Lá do alto de tantas glórias brilhou, brilhou um novo sol, clareando com seus raios verde e branco e encantando o país do futebol...” Uma boa melodia e, principalmente, uma ótima letra.
A maioria dos torcedores deveria perceber que o hino torna-se um símbolo, uma marca eterna. O que ocorre, infelizmente, na composição de Francis Night é que a letra torna-se frágil quando se prende a determinados fatos ou conquistas, o que a tornará descaracterizada com o tempo e perdendo o seu sentido no futuro. "O meu Verdão é Campeão Brasileiro", mas na realidade, "foi". Daqui a duzentos anos, isto será um fato, assim como ser campeão da América ou do Mundo.
Na verdade, este não é apenas um erro de concordância temporal, mas um “chavão” dos mais infelizes. Até nosso rival conseguiu ser campeão do Brasil, sem encarar o Mineirão ou Maracanã lotados, mas foi... Será que vamos deixar cantar "como é bom te ver campeão de novo" se por acaso deixarmos de ser campeão por algum tempo?
Contemos quantos vezes se repete a expressão “campeão” ou o verbo “ser”, no tempo presente (“é” uma falta de criatividade). Corremos o risco de termos estas expressões como referências vazias, limitadas, como se o fato de “ser campeão” fosse nossa qualidade maior. Isto não expressa sentimento, mas sim, uma vaidade vazia (assistiram o Advogado do Diabo?).
O “CORITIBA CAMPEÃO DO POVO”, por exemplo, é uma maneira inteligente de se referir a sua imensa popularidade e não somente ao campeonato conquistado em 1973. Os grandes hinos não falam em títulos, mas falam em amor, luta, entrega... "DA ARTE DOS TEUS GRANDES VALORES, O SEU NOME PELO MUNDO VAI BRILHAR...." Este trecho do HINO OFICIAL, escrito por Cláudio Ribeiro, foi um dos mais felizes entre os vários que podemos destacar. Nosso "passado sem igual", não precisa ser citado, até porque o futuro pode nos reservar algo bem maior.
Se fizermos uma eleição entre os Hinos, pela torcida, não há dúvida que o primeiro hino lançado leva vantagem. Mas confrontem os Hinos, perante alguns especialistas em músicas e letras para verem o que acontece. Vinícius e Toquinho ou o MC Crus Credo. Não quero dizer com isso que o Hino elaborado por Francis Night seja ruim. Apenas acho importante, para o futuro do coxa, que sejam abordados estes aspectos.
Algumas pessoas que foram consultadas sobre o assunto, começaram a perceber estes pontos de vista apenas quando foram induzidas a pensar a respeito. Antes disso, apenas preferiam o primeiro. Parabenizo a RADIO DIFUSORA AM pela conduta, ao tocar o Hino Oficial do Coritiba. Gostaria que outras emissoras, inclusive de televisão, estudassem o assunto, com bom senso.
Mauricio Dobjanski é Coxa-Branca de coração.
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Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)