FALA, COXAnauta!16/05/10, 00h10

Os clubes de futebol e os seus arquétipos

O fiel Coxa-Branca Bruno Quadros faz um comparativo sobre os arquétipos do Coritiba e seu rival

Como apaixonado seguidor do bom futebol que sou, acredito que cada clube encarna um arquétipo, isto é, uma imagem e um corpo de valores com os quais seus torcedores, consciente ou inconscientemente, se identificam. Em outras palavras, é o que cada clube representa que conta na hora de o torcedor escolher o seu time de coração.

Para começar, podemos citar o exemplo do Real Madrid e do Barcelona. Enquanto o Real Madrid representa o orgulho imperial -- alguns diriam, arrogância -- do Reino centrado em Castela, o Barcelona ostenta a imagem da contestação de uma nacionalidade reprimida há séculos (a Catalunha).

O futebol paranaense não foge a essa lógica. Depois de muitos anos de observação, percebo que o Coritiba e o Atlético Paranaense desenvolveram os seus próprios arquétipos.

O Coritiba, como clube de futebol mais antigo do Paraná, logrou firmar-se como a agremiação mais vitoriosa do Estado -- fato este sem contestação, comprovado simplesmente pelo número de títulos. Como todos sabem, foi a primeira equipe do Estado a conquistar um título nacional. Enfim, para manter a concisão do texto, não cabe aqui enumerar todas as glórias de nosso Verdão -- tarefa, aliás, que os nossos amigos do Grupo Helênicos fariam com muito mais competência do que eu.

Paralelamente, os seus mais de cem anos permitiram ao Coritiba estabelecer uma sólida identidade clubística própria. Da agremiação fundada por imigrantes alemães, passou a acolher pessoas de todas as origens, na expressão mais acabada do que é o Brasil. O orgulho pelo que o Coxa representa manifesta-se no grande interesse dos coxas-brancas pela história do Verdão: os cartazes e faixas dos antigos ídolos (Krüger, Jairo etc.) espalhados pelo Couto Pereira; a grande receptividade que materiais sobre a história do Coxa (livros, revistas, DVD's) têm entre os seus torcedores. Afinal, que clube brasileiro possui um grupo de historiadores tão respeitado e consolidado como os Helênicos? Diante disso, a História do Paraná e de Curitiba estariam incompletas se esquecessem do capítulo intitulado "Coritiba Football Club". Logo, tenho orgulho em constatar que o arquétipo do Coritiba é o do clube-tradição, sempre orgulhoso de sua história de conquistas.

O Atlético Paranaense, por sua vez, formado pela fusão entre o América e o Internacional (este fundado por dissidentes do Coritiba), sempre teve dificuldades em firmar uma identidade própria. Isso pode ser comprovado pela cópia do monograma do Flamengo, da camisa em listras verticais do Milan e do escudo em formato circular do próprio Coritiba. Desde a administração de Mário Celso Petraglia em 1995, essa dificuldade em ter uma identidade original vem sendo sublimada por uma suposta adesão do Atlético à lógica do "futebol moderno", com métodos empresariais de gestão e uma agressiva campanha de marketing. A partir daí, os atleticanos passaram a aliviar a sua falta de identidade com o argumento de que possuem o estádio mais moderno do Brasil, um CT de Primeiro Mundo etc., na ilusão de que a grandeza de um clube se mede somente contabilizando-se o seu patrimônio.

Para o desgosto dos atleticanos, essa "infraestrutura de clube europeu" não se traduziu em um melhor desempenho em campo contra o Coritiba. De fato, desde 1999 (ano da inauguração do "novo" estádio atleticano), o Coxa ganhou 17 jogos, empatou treze e perdeu 16 partidas contra o Atlético. Aliás, a sombra do clube do Alto da Glória parece atormentar cada vez mais o time da Baixada, fato facilmente demonstrado pela crescente frequência com que os atleticanos entoam aquela paródia anti-Coritiba da canção do Pink Floyd, que não ouso reproduzir aqui pelo seu conteúdo extremamente ofensivo. Por sinal, é incrível como tais torcedores insistem em cantá-la, pelo menos umas cinco vezes, mesmo em jogos que não envolvem o Coritiba.

Dessa forma, vejo-me obrigado a revelar que o arquétipo do Atlético é -- com o perdão da palavra -- o do clube recalcado, constantemente atormentado pela falta de identidade e pela inveja uterina em relação ao Coritiba, seu progenitor e mestre.

Bruno Quadros e Quadros é Coxa-Branca de coração.

Nota: A opinião do autor não representa necessariamente a opinião da equipe de administradores do site COXAnautas, que apenas cede o espaço à publicação.

Para escrever na seção Fala, COXAnauta!, envie seu texto com título, seu nome completo e CPF para falacoxanauta@coxanautas.com.br.

Ver todos os comentários