DOSSIÊ
O site COXAnautas entrevistou com exclusividade Juan Gesuiti, torcedor do Rosário Central, que reside em Buenos Aires. Juan é administrador do site
Buenos Aires Canalla, site dedicado ao Central, time da cidade de Rosário.
Por e-mail, Juan Gesuiti faz um apanhado sobre as características das principais torcidas dos vinte times da Primeira Divisão do campeonato portenho. Juan comenta sobre as barras-bravas (como são chamadas as organizadas na Argentina), as maiores rivalidades, curiosidades históricas e das características comportamentais das barras de cada time.
A apresentação das torcidas é feita numa divisão geográfica. Confira a primeira parte deste especial Torcidas argentinas:
As 20 torcidas argentinas da Primeira Divisão 2006/2007
Por Juan Gesuiti, Buenos Aires
Qualquer torcedor de futebol no mundo sabe perfeitamente que em poucos lugares no mundo se vive um futebol de forma tão apaixonada como na Argentina. Este país, que possui grandes jogadores, reconhecidos mundialmente, também se caracteriza pelo fervor com que seus seguidores demonstram o imensurável amor que sentem pelos seus times de futebol.
Capazes de tudo, de agüentar frio ou calor, vento, chuva ou sol, granizo, de percorrer centenas e milhares de quilômetros, quem sabe viajar um dia inteiro somente para ver durante noventa minutos as cores que defendem algo mais que sua vida. Esses são os torcedores do futebol argentino, uma “sociedade distinta das outras”.
Faremos uma breve descrição para que os leitores do site COXAnautas tenham uma noção preliminar de como são cada uma das vinte torcidas que disputam nesta temporada a Primeira Divisão do futebol argentino.
Para uma descrição mais organizada a divisão das equipes será pela sua zona geográfica.
CIDADE AUTONOMA DE BUENOS AIRES (capital federal)
1) Boca Juniors: Diversos setores o apontam como clube com o maior número de torcedores no futebol argentino, com o apoio de aproximadamente 25% da população argentina. Sua torcida é conhecida como “A 12”, devido ao fato de dizerem que influenciam tanto no jogo que parecem ser um jogador a mais dentro do campo. Seus torcedores são conhecidos como “bosteiros” (NT: segundo uma versão, quando acontecem inundações no bairro portuário da Boca, que é banhado pelo Rio da Prata, um forte cheiro era exalado na região) “xeneixes” (NA: devido aos imigrantes genoveses, que viviam na antiga zona portuária de Buenos Aires, de onde surgiu o Boca, em 1905), ainda que as outras torcidas os chamam de “bolivianos ou paraguaios”.
A grande vantagem que o Boca Juniors tem é de possuir torcida em todo o país e não somente na capital federal, sempre conta com um grande apoio de sua gente em qualquer estádio da Argentina. Entretanto, também é uma das torcidas mais violentas, com várias mortes contra equipes rivais, ainda que já não tenha tanta fama como antigamente.
Contra eles existem duas situações engraçadas, porem infelizes. Uma delas foi quando fazia seis anos que não eram campeões. Foi no ano de 1997 e eles penduraram uma bandeira preta que dizia ironicamente: “Obrigado pelo campeonato”. E a outra foi, no mesmo ano, quando a equipe perdia para o Ferro Carril, uma equipe modesta, e sua torcida inteira retirou-se da arquibancada deixando-a vazia, insultando seu time. Seu maior rival é o River Plate.
2) River Plate: É a equipe com a segunda maior torcida do país e conta com o maior estádio da Argentina, “O Monumental”, no bairro de “Nuñez”, um dos bairros mais chiques e aristocratas da Argentina. Sua torcida é conhecida como “Los Borrachos del Tablón” - Os Bêbados da Tábua” (NT: tábua da mesa de bar), composta por torcedores do River e reforçada com torcedores de times mais fracos da região, principalmente, Defensores de Belgrano.
Em geral, sua torcida é conhecida como “Los Millionarios” (“Os Milionários”) ou “As Galinhas” (“As Galinhas”). É uma torcida muito tranqüila, caracterizada por possuir torcedores de boa condição social.
Sua torcida não é de protagonizar atos de violência. Houve uma época que sempre levavam uma bandeira contra as armas, e mesmo que isso já não exista mais, segue sendo uma torcida tranqüila.
Apesar de ser bem popular, seu apoio é relativo. Quando o River não vai bem no campeonato a presença de público é pequena e somente começam a cantar quando o time esta ganhando, se não, ficam quietos. Seu maior rival é o Boca Juniors.
3) San Lorenzo: Fundado no bairro de “Almagro”, na região de “Boedo”. Seus torcedores são conhecidos como “Los Cuervos” (“Os Corvos”), por ter sido fundado por uma pessoa cuja roupa era preta. A torcida organizada é conhecida como “A torcida de Butteler” em alusão a uma pequena praça do bairro de “Almagro” onde se reúnem seus integrantes.
É uma torcida numerosa, com bastante simpatizantes dentro da capital federal, mas não nacionalmente, apesar de ser uma das cinco ou seis equipes que mais gente leva aos estádios. É uma torcida que apóia o time independente da situação em ele esteja no campeonato. Não é perigosa, mas é difícil ir ao seu estádio porque este se encontra no meio de uma favela.
Seu maior rival é o Huracán, equipe que esta na Segunda Divisão nacional há quatro anos.
4) Velez Sarsfield: É uma das torcidas mais exigentes do futebol argentino. Sua torcida organizada é conhecida como “La Pandilla de Liniers” (“A Quadrilha de Liniers”). Levam pouquíssimos torcedores ao estádio, tão poucos, que, por exemplo, ano passado quando foi campeão foi incapaz de lotar seu estádio.
Em geral, vibram somente quando ganham. Uma de suas características é serem intolerantes até mesmo com seus jogadores, protagonizando seguidas cenas de violência contra eles quando não vencem. Seu maior rival é o Ferrocarril Oeste, time que desde o ano 2000 não joga a Primeira Divisão.
5) Nueva Chicago: Equipe que subiu à Primeira Divisão este ano e onde jogará pela terceira vez em sua história. É uma das torcidas mais violentas e também mais seguidoras do futebol argentino. Não são uma multidão, mas sempre vão todos e isso faz com que se sintam bem fortes onde quer que joguem.
É uma torcida que grita e apóia o jogo inteiro, aconteça o que aconteça. Um reflexo disso foi quando caiu para segunda divisão em 2004 e em seu último jogo, 10 mil pessoas o acompanharam ao Estádio do Independiente para se despedir da equipe, já rebaixada.
Sua torcida organizada é conhecida como “ Os Perales” ou “Mataderos”, já que o time é do bairro “mataderos” e da região de um complexo habitacional chamado “Os Perales”. Seu maior rival é o All Boys, equipe que joga na Terceira Divisão, mas tem muita rixa com o Velez.
6) Argentino Juniors: equipe muito fria. Possui muito pouca gente, quase toda no seu bairro (“A Paternal”), e que o segue e apóia muito pouco. É uma torcida bem tranqüila e seus torcedores são conhecidos como “Los Bichitos Colorados” (“Os Bichinhos Vermelhos”) devido a cor vermelha de sua camiseta. Seu maior rival é a Platense, equipe que joga a Segunda Divisão nacional.
ZONA SUL (grande Buenos Aires, província de Buenos Aires)
7) Arsenal: É uma das equipes com menor torcida do futebol argentino, tanto que quase sempre quando joga no seu estádio tem mais torcedores do time visitante.
De fato, grande parte de seus torcedores não são propriamente Arsenal, mas também são do Independiente ou Racing. Seu maior rival é o El Porvenir, da Segunda Divisão argentina.
8) Independiente: O grito popular de qualquer torcida da Primeira Divisão para atacar verbalmente outra equipe é “são 'amargos' como Independiente”. Isso resume tudo.
Quando o time não vence, seu estádio está vazio e em silêncio. Seus torcedores somente aparecem quando as coisas vão bem, e isto pesa muito em sua rica história.
De fato, mais de uma vez alguns torcedores atiraram contra os jogadores na saída do gramado açúcar para que “não sejam tão 'amargos'”. Seus torcedores são conhecidos como “Los Rojos” (“Os Vermelhos”) ou “Los Diablos” (“Os Diabos”), em alusão a cor vermelha de sua camiseta. Seu maior rival é o Racing.
9) Racing Club: Sem dúvida, tem uma das torcidas mais seguidoras do futebol argentino. Nos últimos 40 anos, ganhou apenas um campeonato, passando 35 anos sem ser campeão. Durante esse tempo, sofreu seu único rebaixamento para Segunda Divisão em sua história e até mesmo declararam sua falência.
Entretanto, cada vez que o Racing joga em seu estádio, uma multidão se faz presente para apoia-lo, aconteça o que acontecer, sendo praticamente antagônico ao seu maior rival, o Independiente.
Sua torcida organizada é conhecida como “Los Racing Stones”, “La Guardia Imperial” ou “La Numero 1” (“Os Racing Stones”, “A Guarda Imperial” ou “A Número 1”).
10) Banfield: Equipe da cidade de mesmo nome. São conhecidos como “El Talandro”(“A Furadeira”). São poucos e não participam muito. Quase não se registram feitos grandes na Primeira Divisão, a não ser um vice-campeonato em 1951.
Sua torcida é muito calma e quase não acompanham o time quando este joga fora do seu campo. Seu maior rival é o Lanus.
11) Lanus: A torcida é muito parecida a do Banfield. São poucos e participam pouco. Normalmente ficam em silêncio, de vez em quando fazem barulho após algum gol. É uma torcida muito tranqüila e até mesmo permanecem sentados durante o jogo, inclusive na geral. São conhecidos como “Granates”(“Os Vermelhos Escuros”), devido a cor de sua camiseta (grená).
12) Quilmes: Tem uma torcida maior que a do Banfield e Lanus. São mais fiéis e violentos, possuem diversos casos violência na sua história.
Quando jogam como mandantes se fazem presentes e se vão bem no campeonato, também levam bastante torcida como visitantes. Entretanto, quando a coisa não vai bem, se preocupam mais em quebrar tudo o que estiver ao seu alcance do que incentivar o time.
São conhecidos como “Los Cervejeceros” (“Os Cervejeiros”), pela sua relação com a cervejaria Quilmes, a qual tem sua fábrica a poucas quadras do estádio e que há anos apóia financeiramente o clube.
A segunda parte deste especial vai ao ar na quinta-feira, 31.
Agradecimentos:
Colaboraram na tradução Rafael Bitterman e João Antonio de Almeida, fiéis torcedores do Verdão. João é cirurgião dentista, reside em Irati. Se autodenomina um "fiel torcedor do Verdão numa família TODA torcedora deles".
Rafael, 25, é fisioterapeuta. Coxa-Branca apaixonado pelo Clube, pelo time, pela torcida e tudo que estiver ligado ao Coritiba. É proprietário de uma cadeira no Couto Pereira há 8 anos, "fazendo o possível e impossível para não perder um jogo do meu time!!"
Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)