COXANAUTAS
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Bem, comecei no rádio em 1996, por sinal graças à Gisele. Fomos ao Couto Pereira assistir a um treino do Flamengo, e lá conhecemos o Moisés Machinsky (que trabalhava na rádio Difusora). Ele perguntou se queríamos trabalhar em rádio – respondemos correndo que sim – e no dia seguinte o Marcelo Ortiz (hoje coordenador de esportes da rádio Banda B) nos chamou para participar do “Difusora nos Esportes”.
De lá, passei para a Eldorado, em 96, quando cobri o Coritiba pela primeira vez. Depois, estive nas rádios Cultura, Nacional e Capital AM, até ser chamado pelo Capitão Hidalgo para trabalhar na rádio Cidade, hoje rádio Globo. Lá fui setorista da Federação, do Paraná e do Atlético, cobri Libertadores e seleção brasileira, apresentei programas e participei (aqui de Curitiba) da cobertura da Copa de 98.
Em agosto de 2000, fui convidado pelo Osires Nadal para cobrir o Coritiba na rádio Clube, e na mesma semana o Luiz Augusto Xavier me chamou para ser setorista na Tribuna e em O Estado do Paraná, onde estou até hoje. No rádio, saí da Clube, passei um ano na Transamérica, tentamos montar um projeto na Capital Play e, desde janeiro, voltei à Transamérica.
Além de cobrir o Coritiba, tenho minha coluna na Tribuna (Globalização, sobre futebol internacional).
Os sites não-oficiais de times de futebol são importantes para o desenvolvimento do futebol do Paraná?
São, cada um à sua maneira. Como eles não tem compromissos com ninguém – somente com seus conceitos, servem como um canal independente de avaliação das coisas do clube e repercussão ao trabalho da imprensa.
Claro que não se exige comportamento isento – até porque é um espaço de torcedores -, mas trabalhando sério eles colaboram muito.
O futebol paranaense está realmente em ascendência? Se sim, o que falta para ser competitivo em termos de representatividade econômica no cenário nacional?
Representatividade econômica será complicada de ter. Os nossos clubes precisam gramar muito até chegar ao patamar dos paulistas e carioca s, que detém quase 70% das verbas. Para se aproximar, só vencendo mais e mais. Com conquistas esporádicas, vamos ficar sempre pelo caminho.
O Coritiba ainda não é um Clube com uma torcida regional. O que poderia ser feito para reverter isso? A imprensa esportiva poderia colaborar de alguma maneira nisso?
Precisa de vitórias, e de constância. O Coritiba nunca soube aproveitar direito as suas conquistas – o marketing do clube sempre deixou a desejar. E como dentro de campo os títulos nacionais são raros, quem mora longe não vê porque torcer para o Coxa.
Quanto à imprensa, acho que a única coisa que ajudaria seria um certo ‘bairrismo’. Não sei se daria certo, mas creio que um pouco do estilo dos gaúchos, que se defendem acima de tudo, ajudaria. Mas deixo claro que a imprensa tem que ser bairrista, mas não ‘clubista’ – por mais que se torça para um clube, não se pode fazer com que isso embace a sua capacidade de discernimento.
Eu gostaria de ver e ouvir mulheres narrando jogos de futebol, tanto nas rádios como nas emissoras de TV. Por que as mulheres ainda não atingiram esse espaço?
Até poderiam, caso a Luciana Mariano quisesse mesmo narrar, e não casar com o Luciano do Valle. O exemplo ficou ruim, e daí um espaço que parecia ser aberto se fechou rapidamente. A Gisele, que é uma profissional de extrema qualidade, não acha espaço por causa do preconceito de algumas pessoas.
Como é o dia-a-dia de um jornalista esportivo?
Corrido. Se não tomar cuidado, acaba ‘casando’ com o monitor do computador. Mas é divertido, a gente não pode reclamar – no Coritiba, criou-se um nível de educação que permite a ótima convivência entre comissão técnica, jogadores, diretoria e imprensa.
Contem-nos alguns fatos pitorescos, insólitos, engraçados dos bastidores do futebol.
Ah, tem muita coisa... O Carneiro Neto escreveu muitos deles em seu livro, e confesso que eu, o Marcelo Ortiz, o Dorival Chrispim (da CNT) e o Edu Brasil (da Banda B) temos um projeto de colocar muito do que a gente sabe no papel.
Mas vamos lá, uma historinha, que foi contada justamente pelo Edu: nos tempos em que ele ainda era plantão e o Carneiro Neto era repórter (faz MUITO tempo, portanto), o Carneiro era setorista do Coritiba. Ele informava que o clube iria fazer mudanças, e para isso queria ouvir a opinião da torcida. Então, Carneiro detonou: "A diretoria confirmou que fará uma maquete para saber o que pensam os torcedores...".
Qual a característica mais marcante da torcida do Coritiba? Vocês são muito cobrados pelos torcedores pelo que escrevem ou deixam de escrever?
A torcida coxa é muito exigente, talvez até demais. O Reginaldo Araújo é uma vítima da ira de algumas pessoas. E, como exigente, eles cobram os jornalistas também. Quando falam com educação, vale o papo – e é bom para nós termos essa oportunidade.
A crônica esportiva de São Paulo, em especial a de rádio, exerceu forte influência no futebol paranaense nas décadas de 60, 70 e 80, em especial no interior do Estado? Por que tantos paranaenses torcem por times de fora?
Porque não viram capacidades em nossos clubes. Até o final da década de 90, tivemos apenas conquistas esporádicos – de grande, mesmo, só o título brasileiro do Coritiba em 85. Então, com a força do rádio paulista (que alcança o país inteiro) e da TV, foram tomando conta do estado. Tirar essa característica hoje arraigada no interior será muito difícil.
Quais as peculiaridades mais marcantes no trabalho de um jornalista esportivo numa rádio, numa emissora de TV, num site e num jornal?
A mais marcante é a possibilidade de trabalhar em algo que você gosta. Sempre quis ser jornalista porque, acima de tudo, adorava futebol. Além disso, você conhece pessoas, faz amigos, viaja (de Londrina até Londres) e pode absorver novas culturas.
Qual passagem mais marcante o Coritiba trouxe-lhe em sua vida profissional?
A primeira que me vem à mente é a eliminação do Brasileiro de 98. Eu estava como terceiro repórter da rádio Cidade, mas estive nos três jogos, inclusive no jogo do Canindé. E ver a desolação dos torcedores após aquele 2x2 me deixou muito abalado.
Outro bom momento foi a vitória sobre o Palmeiras por 4x1, em 2001, com aquela incrível atuação do Evair. E o título paranaense do ano passado, pela possibilidade que tive de escrever boa parte do caderno especial da Tribuna – o jogo, e as decorrências da partida, foram descritos pela Gisele.
Um site não-oficial como o dos Coxan@utas pode colaborar com o trabalho da imprensa especializada?
Claro que pode. Tanto é verdade que a Gazeta do Povo usou dia desses um material dos Coxan@utas sobre o prejuízo do Coritiba em uma partida. Quando há informações interessantes, sempre ajuda.
A identificação pelos torcedores, de um profissional da crônica esportiva ligado a esse ou aquele clube é mais positiva ou negativa?
Acho sempre negativa. Por mais que você tenha ligação de torcida, e todos tempos, você não pode largar mão da independência e virar um torcedor de microfone na mão ou com o computador à frente.
Se você quiser torcer, que torça para os três times da capital (no nosso caso) e para a Seleção Brasileira, que são o nosso produto de trabalho.
O que o futebol paranaense precisa ter para melhorar seu desempenho nacional?
Maior constância. Precisamos chegar mais e mais vezes aos títulos, às competições internacionais, às primeiras posições dos campeonatos. O importante é marcar presença, pois aí vamos ter respeitabilidade. E para isso é preciso ousar, às vezes investir na frente para recolher os frutos – financeiros e morais – mais tarde.
O clássico Atle-Tiba perdeu o encanto de "festa popular" que tinha nas décadas de 60 a 80?
Perdeu por culpa de todos. Culpa das diretorias, que transformaram rivalidade em guerra. Culpa dos jogadores, que esqueceram o fair-play para realizarem batalhas campais. Culpa dos torcedores (não de todos, claro), que preferem arruaça à torcida. E culpa da imprensa, que não sabe valorizar o jogo da melhor forma possível.
Os jogadores não têm um sindicato forte. Por quê? Não seria interessante para os jogadores ter um sindicato forte?
Seria, mas eles mesmos não se unem. Eles brigam entre si por causa dos contratos, se dividem entre os ‘que recebem’ e os ‘que não recebem’. É uma luta de vaidades que explode nos sindicatos, tanto que no Paraná existem dois deles, e nenhum deles é representante pleno dos jogadores.
A diferença entre os modos de vida de um jogador profissional de sucesso para um jogador dos juniores é imensa. Isso não é um complicador para o desempenho dos garotos que de um dia para outro podem sair das categorias
amadoras para o estrelato de um time principal?
O Adriano é um grande exemplo. É um jogador diferenciado, que tem muitas qualidades, mas que viveu rapidamente o apogeu e a queda – claro que em níveis menores.
Foi incensado, chegou a ser cotado para a seleção principal, e depois caiu de produção e foi vaiado. Ele mesmo confessou que sofreu com as possibilidades de negociação e com a pressão para jogar bem sempre. Agora, livre do stress, voltou a ser o Adriano que todos conhecemos.
O importante é o jogador ter um bom acompanhamento do clube (o Coritiba faz isso muito bem) e dos familiares.
Torcida ganha jogo?
Ganha, claro. Desde que empurre, apóie sempre, não se preocupe tanto em cobrar injustamente (caso do Reginaldo Araújo) e jogue junto. Não pode gritar duas vezes cada canto, e sim várias.
E técnico, perde?
Com certeza. Meu exemplo é o Heron Ferreira, que em 96 tinha um time equivalente ao do Paraná Clube, mas por escolhas erradas acabou perdendo a decisão. O técnico do Tricolor? Um certo Antônio Lopes.
Novos nomes da imprensa esportiva vêm despontando nos últimos anos. Qual a maior responsabilidade desses novos profissionais para o bom desempenho do futebol no Paraná?
A imparcialidade e a fuga dos antigos métodos. Por mais que pareça interessante para muitos, não se pode mais ficar vinculado aos clubes. O patrão do jornalista é a notícia, e a verdade tem que ser a nossa obsessão. Custe o que custar.
A imprensa esportiva poderia ser mais investigativa?
Poderia, desde que duas coisas se unissem: a vontade dos jornalistas em buscar fatos ocultos, e o apoio dos veículos a essa iniciativa.
Não é usual o uso de estatísticas dos times e dos jogadores na mídia esportiva de Curitiba. Isso não seria interessante para poder subsidiar melhor
os torcedores? As estatísticas não ajudariam os torcedor entender melhor um resultado?
Falta planejamento. Se for montada uma equipe de estagiários – por exemplo -, talvez ficasse algo bem legal. Mas não há estruturas nem nas TVs, nem nas rádios e nem nos jornais.
A estatística é válida (e muito), só não pode virar muleta que explique tudo.
A abordagem da imprensa do Rio, por exemplo, tem tons diferentes da paranaense. Por exemplo: no último Fla-Flu, o programa Globo Esporte fez uma matéria com muita sonoplastia dos gritos da torcida, imagens das bandeiras,
coreografias nas arquibancadas, takes nos rostos dos jogadores, destacando aqueles que poderiam decidir o jogo. Tudo num estilo "Hollywoodiano", como se aqueles jogadores fossem os "artistas da bola", os encantadores da multidão. Já no Paraná, as reportagens sobre o clássico Atle-Tiba parecem-me mais tecnicistas, um relato menos emotivo, mais racional, pragmático. São estilos diferentes entre estas imprensas?
Muito diferente. Os cariocas acham tudo uma maravilha, para eles a geral do Maracanã é um espetáculo à parte. Nós, por não termos nem a peculiaridade da geral, não nos empolgamos muito com isso. Estamos mais perto dos paulistas, com uma visão crítica e essencialmente tática – é só ver nossos principais comentaristas.
Estamos longe dos gaúchos, que são mais táticos ainda e extremamente bairristas, o que poderíamos ser. Gosto de ver os cariocas, mas não vejo como fazer algo semelhante por aqui.
O que afasta o torcedor dos estádios?
O preço impeditivo dos ingressos (é melhor falar disso com cuidado...), o medo da violência, a desorganização das Federações e da CBF, o excesso de jogos transmitidos na TV.
Além disso, todos os problemas estruturais do país que refletem-se no futebol, como a falta de segurança e a dificuldade do transporte coletivo nos horários de jogos, por exemplo.
O Estatuto do Torcedor pode ser melhorado?
Eu acho que ele precisa ser mais simples, para que seja facilitada a interpretação. Senão vamos ficar nas filigranas jurídicas que sempre atrapalham as leis.
Sobre punições, acho-as justas – precisamos dar uma sacudida em alguns dirigentes mal-intencionados.
O Coritiba é o time de maior representatividade nacional?
Hoje, está parelho com o Atlético, mas com a vantagem de – neste momento – estar na Libertadores e na Sul-Americana. Na história, o Coritiba tem mais visibilidade, mas passou muito tempo na contramão da história, e isto custa caro.
Que projeto profissional você gostaria de realizar e ainda não teve oportunidade?
Tem três eventos que eu gostaria de transmitir: uma Copa do Mundo, uma temporada de Fórmula-1 e um desfile de Carnaval no Rio. Destes, apenas um é projeto de vida – a Copa, que se tudo der certo vai ser a de 2006, na Alemanha.
No site Paraná-Online, você procura abordar outros assuntos também ligados ao futebol, mas não exclusivamente o jogo em si, lá no gramado. O que os motivou a seguir este caminho?
Eu gosto de jornalismo, acima de tudo. E gosto muito de futebol, o que me fez ir para este caminho. E me interesso pela história do esporte, pelas curiosidades e ‘causos’ que cercam o futebol, e principalmente pela humanidade que existe. A gente às vezes trata muito ‘cientificamente’ o futebol, e esquece das pessoas que lá estão – e são elas que fazem o espetáculo.
Qual a análise sobre as parcerias entre sites e torcidas de times rivais?
Fundamental, porque elimina a ira da rivalidade. Acima de tudo, temos amigos coxas, atleticanos e paranistas, que se reúnem para o futebol mas que tem suas vidas interligadas. E se é possível criar vínculos entre os torcedores, melhor ainda. E, claro, com gente que se preocupa em ter uma visão apaixonada e civilizada do futebol.
Qual a importância da participação do Coritiba como único representante do sul do país na Copa Toyota Libertadores de 2004?
É grande, pelo fato de ser o único time do sul do país a disputá-la. E pela constância (falei muito sobre isso) que nosso estado tem nos últimos anos.
O que a gente espera é que o Coritiba consiga a classificação e mantenha-se entre os melhores da América do Sul. É uma vitória para o futebol paranaense – clubes, torcedores, dirigentes e imprensa.
Qual time é o favorito para o título de Campeão Paranaense desse ano?
A final mais provável é Atlético x Coritiba. E em uma final desta não se dá palpite...
Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)