Nota de Falecimento
Faleceu nesta terça-feira (08/04), aos 88 anos, o ex-goleiro Manga, um dos grandes nomes da história do futebol brasileiro e campeão paranaense de 1978 com a camisa do Coritiba. O ex-atleta lutava contra um câncer de próstata e estava internado no Hospital Rio Barra, na Zona Oeste do Rio de Janeiro.
Na histórica final do Campeonato Paranaense de 1978, disputada em três clássicos Atletibas, todos com empate por 0x0, Manga foi o grande herói ao garantir o título alviverde na disputa por pênaltis, se tornando um dos protagonistas daquela conquista inesquecível.
Apesar de ter atuado apenas em 22 partidas pelo Coritiba, Manga deixou sua marca no clube e é lembrado até hoje com carinho pela torcida coxa-branca.
Revelado pelo Sport/PE, o goleiro teve passagens marcantes por Botafogo, Internacional, Grêmio, Operário-MS, Nacional-URU e Barcelona-EQU, onde encerrou sua carreira em 1982. Considerado um dos maiores goleiros do futebol sul-americano, acumulou títulos e glórias ao longo de sua carreira, especialmente nas décadas de 60 e 70.
Em sua homenagem, o dia 26 de abril — data de seu nascimento — foi instituído como o Dia dos Goleiros, em reconhecimento à sua trajetória e à posição que tão bem representou por décadas.
O COXAnautas se solidariza com familiares, amigos e toda a torcida do Coritiba neste momento de luto. Manga foi, é e sempre será parte da nossa história. 🖤
Saiba mais sobre a histórica final de 1978 no texto de Alvyr Lima Junior
A Decisão de 1978 e a Lenda de Manga
O Campeonato Paranaense de 1978 foi decidido em uma melhor de três entre Coritiba e Atlético (na época, ainda sem o “h”). Foram três partidas disputadas em apenas oito dias, levando mais de 150 mil pessoas ao Couto Pereira — uma média superior a 50 mil torcedores por jogo.
Após dois empates por 0x0, a decisão ficou para o jogo final. Se houvesse novo empate, o regulamento previa uma prorrogação de 30 minutos. Persistindo a igualdade, a decisão seria nos pênaltis.
Na época, a TV Iguaçu exibia, na hora do almoço, o programa Viva o Futebol, apresentado pelo saudoso Dirceu Graeser, ao lado de uma equipe de comentaristas renomados, como Boris Musialowski, Luis Carlos Cavalcanti, Costa Lima, Eduvaldo Brasil, entre outros.
Durante a semana, jogadores de Coritiba e Atlético participaram do programa como convidados, comentando a expectativa para a grande decisão. A última final entre os dois havia ocorrido em 1972, com vitória do Coritiba por 1x0 (gol de Krüger), seguida por um empate em 0x0, resultado que garantiu o bicampeonato ao Coxa.
Na sexta-feira, os convidados do programa foram atletas do Atlético, entre eles Paulinho Carioca, ponta-direita vindo do Fluminense.
(O Coritiba, à época, se concentrava em um local próximo ao centro de Curitiba, na Rua Júlia Wanderley, conhecido como “Casa da Júlia”).
Durante o programa, após muita conversa, perguntaram a Paulinho Carioca o que esperava caso a decisão fosse para os pênaltis. O jogador respondeu com os velhos chavões de boleiro: estavam confiantes na vitória no tempo normal, não acreditavam que seria necessário prorrogação ou pênaltis, mas, se acontecesse, o time havia treinado bastante e ele estava preparado.
Após o intervalo comercial, Dirceu Graeser anunciou um “convidado surpresa”. A câmera se voltou para um dos cantos da bancada e lá estava ninguém menos que o goleiro Manga.
“E aí, Manga, prazer em recebê-lo”, disse Graeser. O goleiro explicou que estava assistindo ao programa na Casa da Júlia e, ao ver tanta confiança dos jogadores atleticanos, resolveu ir até a emissora para deixar um recado:
“Vocês estão dizendo que treinaram muito… Mas eu vim aqui avisar: pra fazer um gol no Manguinha, vão ter que treinar muito mais.”
Chega o domingo. Logo no início do jogo, Manga faz uma defesa e cai sentindo uma contusão. Entra o massagista, clima de apreensão. Seria algo sério? Depois de alguns minutos, ele retorna ao jogo, mas com uma proteção na perna direita.
No tempo regulamentar: 0x0. Na prorrogação: 0x0. Decisão nos pênaltis.
Pedro Rocha abre a série para o Coritiba: 1x0.
Rota empata para o Atlético: 1x1.
Duilio recoloca o Coxa na frente: 2x1.
Então é a vez de Paulinho Carioca. A essa altura, ao olhar para o gol e ver o “Manguinha”, é possível imaginar a voz dele ecoando na mente do atacante:
“Pra fazer um gol no Manguinha, vai ter que treinar muito.”
Paulinho bate no canto direito. Manga defende.
Na sequência, Cláudio Marques marca: 3x1 para o Coritiba.
Lula, ponta-esquerda do Atlético — que anos depois ficaria famoso por pular numa piscina vazia no Parque São Marcos — chuta para fora, com Manga pulando no canto certo. Se fosse no gol, talvez também pegasse.
Para fechar, Liminha — revelado no próprio Atlético — converte a última cobrança e sela o título: 4x1 para o Coritiba.
Nos vestiários, Manga é entrevistado pelas rádios. Perguntam sobre a tal “contusão na perna direita”. Ele sorri e revela:
“Na verdade, a lesão foi na esquerda. Coloquei a proteção na direita de propósito, pra ver se eles chutavam ali.”
Coincidência ou não, Paulinho Carioca chutou exatamente nesse canto — e o Manguinha pegou.
Ao recordar essa história e desses personagens lendários que marcaram a minha adolescência, fica claro o quanto o futebol daquela época tinha alma, malícia e paixão. E como, infelizmente, o futebol atual parece ter perdido parte disso.
Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)