Arquibancada
O compromisso do jornalista com a notícia vai até onde o veículo que ele trabalha, permite. Pelo menos assim foi, no tempo que estive em tv, e não acredito que tenha mudado muito.
Quando o assunto é futebol ou política, a liberdade fica menor ainda. E o motivo é um só: na política o meio de comunicação não sobrevive sem estar ajustado com algum lado, seja ele qual for. Quanto ao futebol, não é novidade que virou um produto muito caro e, se bem explorado, rende alguns trocados graúdos. A tv brasileira é uma das que melhor vende e sabe tirar proveito disso, especialmente a tv Globo. Por isso, muitos absurdos, como o famoso horário das partidas às 9h: 40 min e por aí afora.
Algumas editorias de esporte, passam horas quebrando a cabeça para arrumar uma pauta, um tema que desperte novo interesse no torcedor. Uma informação que não tenha sido percebida pelo concorrente, apenas para ser o diferencial, oferecer ao torcedor um produto que só ele tem. Por isso, às vezes alguns absurdos são publicados e colocados no ar, sem que a gente entenda muitas vezes por que. Uns acertam e muitos erram. A diferença está no conteúdo e na qualidade do que andam colocando no ar.
O futebol de hoje exige estudo, uma dedicação de horas, de ler e ver o que for possível.
Mas sobretudo, aos meios de comunicação, importa vender o produto (clube) ao torcedor. Muitos se especializam na varredura dos temas que envolvem a periferia dele (clube). Não é por acaso que Corinthians, Flamengo, São Paulo, Palmeiras, Vasco, Botafogo, Atlético Mg, Cruzeiro, Inter e Grêmio, são os clubes com maior exposição na mídia. É por que são os de maior torcida. E as narrações acompanham esta tendência. Alguns narradores escancaram suas preferências ( Às vezes a preferência do veículo onde eles trabalha e não uma escolha pessoal) outros são mais comedidos. E muitos já são a cara dos seus clubes, como é por aqui o Edgar Felipe, Sicupira, foi o Lombardi Jr, Rosildo Portela etc. Muitas vezes o comunicador é a ponte entre o veículo de comunicação entre o clube e o torcedor e é dele que a venda acaba sendo feita.
Hoje não é importante ao torcedor do Atlético, por exemplo, dizer que na estreia da sul americana, em Joinville, o JEC jogou com o time reserva, e este foi o grande facilitador na vitória de 0x 2. Importa a vitória fora de casa e isso precisa ser destacado. Se numa outra partida, mais na frente, pela mesma competição houver tropeço, as cobranças serão feitas, porque a imprensa precisa voltar a fazer o seu papel de porta- voz do torcedor, sua razão de existir. Também não interessa que o Coritiba tomou sufoco da Chapecoense em boa parte do jogo deste domingo, importa a vitória. É o que quer o torcedor, especialmente o do Coritiba neste momento do campeonato.
O caso do Coritiba, na partida contra o Grêmio pela Copa do Brasil, é outro grande exemplo. Todos sabiam que o time era reserva. Por conta do regulamento, muitos atletas não puderam jogar porque atuaram por outros times na mesma competição. Tudo estava contra naquela oportunidade, inclusive o adversário que vinha de uma ascensão. Supreendentemente o Coritiba faz um primeiro tempo irretocável, não vencendo apenas por uma questão de detalhes. Mas a derrota determinada no segundo tempo se sobrepôs ao futebol jogado no primeiro tempo e isso passou a ser mais importante. Pouco valeu o brilhante primeiro tempo. Afinal, é o resultado dos 90 minutos que importa. Isso devolveu ao time a condição anterior de zebra, na partida e na competição.
O alvo será sempre o torcedor, o principal consumidor deste futebol que ficou pobre, mas caro. E o maior interessado deste produto que em muitos casos até se deixa levar pelo que ouve e lê.
Ênio Andrade, campeão pelo Coritiba em 85 - embora radical neste posicionamento - dizia à boca pequena que não aceitava palpite da arquibancada porque torcedor era o que menos entendia de bola. “Porque estava lá, via o jogo da arquibancada, mas mesmo assim precisa de um radinho para ouvir e dar seus palpites”. Sabemos que não é bem assim, que Ênio exagerou nesta infeliz colocação.
O futebol, por mais pobre que seja, sempre te parecerá interessante aos olhos da imprensa. Sempre terão uma bonita história para te contar. Muitas vezes pelas mentes criadoras de verdadeiros artistas do microfone, como Galvão Bueno, que sempre se apresentou como um “vendedor de emoções”.
Só assim para a gente continuar nesta briga pela fuga do rebaixamento, jogando partidas fracas tecnicamente, errando exageradamente até no fundamento do futebol que é o passe, mas vencer e sair do estádio comemorando mais três pontos.
Afinal, foi a isso que nos propusemos quando a água começou a bater no pescoço. Está dando certo, mas não nos esqueçamos que a nossa briga maior ainda é por um Coritiba de fato grande. Que nos anos seguintes, estejamos brigando por algo maior, por um clube de fato profissional e que volta a ser respeitado dentro ou fora de casa. Que tenhamos de volta o mínimo de qualidade neste futebol pobre, que não é só um problema nosso, mas do futebol brasileiro.
A luta segue...força Coxa!
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