Arquibancada
Um começo de semana como há muito tempo não tinha. De ver muita gente com raiva, frustração, de decepção, de gente se escondendo, outros procurando loucamente por uma vitima. De excessos, de exageros, de gente que não aparecia, que reaparece - uns só para curtir, outros para manifestar a indignação.
Junto tudo e concluo que alguns, ainda a minoria, fala de tudo, menos de futebol.Fala muito mais de suas frustrações pessoais, mas não do futebol que aprendi a gostar. Gente muito amargurada, que transfere para a derrota do time, suas frustrações de vida. Pelo menos é o que parece.
Sim, a turma do limão está de volta, de cabeça pra fora, a todo pulmão, gritando, esperneando repetindo o velho mantra de todos os fracassos, culpando até o cachorro do vizinho, que latiu em hora errada, justamente no momento do primeiro gol atleticano.
Com alguns, até consigo achar alguma lógica em um ou dois argumentos. Mas basicamente a maioria do conteúdo é pura raiva, só lamento que será repetido a cada derrota, a cada tropeço. A turma do quanto pior, melhor.
Na hora de algum divertimento, quando a maré tá boa, correm para descascar mais um limão para não se permitir sequer a uma trégua. Não se permitem sequer sorrir, alguns me dão a impressão de já viver um caso patológico.
Derrotas como a de domingo me entristecem, lamento, já cheguei até a perder o sono, sou tomado até por um sentimento de vergonha, mas não de raiva. É que em casa, o futebol entrou pela porta da frente. Fui apresentado a ele com alegria, em tempos que havia mesmo futebol, não o que temos hoje. Aliás, já disse aqui que aquilo era futebol, o que jogam hoje deveria ser chamado de outra coisa. Mas ainda me permito a uma diversão com ele, mesmo que já não tenha mais a qualidade de antes.
Porque assim, consigo ir ao campo e me divertir, também sofrer, claro, porque há o sentimento de amor a este clube, assim como todos vocês sentem, inclusive a turma do limão. Mas não culpo o cachorro do vizinho porque o Coritiba perdeu para seu maior rival por um placar vexatório.
Me permito criticar dirigentes, atletas, treinador, mas também não desejo a morte de ninguém, como alguns demostram em suas manifestações pós derrota, em textos e falas que carregam uma aura pesada. Vibram negativamente.
Troco o limão por num milagre. Prefiro acreditar no quase impossível, prefiro assim. Porque assim o futebol ganha ares de diversão e entretenimento, com um misto de sofrimento e amor. O futebol que me dá tristeza, mas também alegrias.
Trabalhei profissionalmente vendo e vivendo o futebol nos anos 80 e 90. Viajei com delegações, dividi hotéis, corri atrás de seleção brasileira, atrás do Coritiba, do Atlético, do Paraná Clube em seus bons tempos pós fundação, no final dos anos 80. Fui xingado, vaiado por todas as torcidas. Me chamaram de atleticano fdp e de Coxa- Branca fdp.
Vivi dois anos de cobertura de Copa do Brasil, de campeonatos regionais, de campeonatos brasileiros, de eliminatórias de Copa do Mundo. Em todos estes lugares vi coisas que gostaria de não ter visto. Fui endurecendo meus sentimentos com o futebol profissional. Me decepcionei com aquele futebol que entrou pela porta da frente de casa, no final do anos 60 e começo dos anos 70.
Desde que deixei de acompanhar o futebol profissionalmente, automaticamente fui me afastando e apenas buscando noticias do Coritiba, achando que nunca mais voltaria a me interessar como antes. Torcia de longe. Foram tantos anos que achei que nada do futebol ma atrairia mais. Mas não, o amor pelo Coxa falou mais alto.
Em 2007 retomei o prazer de acompanhar o futebol como torcedor. Do sofrimento, da mão gelada, suada em dias de jogo importante. Não será agora a turma do limão que vai me devolver o futebol amargo.
Eu acredito, sim!
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