Arquibancada
Nunca é tarde para falar dele. Embora tenha sido há dois dias, ainda vale o registro da homenagem ao maior ídolo Coxa-branca! Já contei parte desta história aqui, hoje conto comemorando os setenta anos de uma vida iluminada.
Em 1968, eu com 12 anos, meu irmão de 10, recebeu um diagnóstico de leucemia.
Seu amor pelo Coxa era algo inexplicável, nunca vi coisa igual. Sabendo disso, uma prima mais velha conseguiu nos aproximar de alguns jogadores.
Não lembro direito como tudo começou e como se intensificou, mas depois de certo tempo, com alguma frequência, passamos a reunir em casa e no hospital (nas vezes que meu irmão esteve internado), muitos atletas do time daquele período.
Comandava a tropa o nosso Pelé – Dirceu Krüger, o Flecha-Loira, o maior de todos os jogadores que o Coxa teve nesta sua centenária história.
Em aniversários lá em casa, ele liderava um time craques: Passarinho, Hermes, Nilo, Kosilek, Célio, Hélio Pires, todos inesquecíveis.
A garotada da rua não acreditava que minha casa recebia aquele time de uma só vez, num só dia, numa só visita, e sempre muito atenciosos com todos. E, na linha de frente, lá estava sempre ele, Krüguer, o líder. Foram três anos seguidos assim.
De 68 ao final de 70, Luiz Fernando, meu irmão, ainda viu o Coritiba campeão algumas vezes. Pelo rádio acompanhei com ele a primeira campanha do time pela Europa, antes de 72, quando voltou “Fita Azul”. De lá, Krüger nos mandava postais, contando as façanhas do nosso time.
Por muitos anos, Krüger foi o símbolo mais forte que tivemos do Coritiba, em casa. Mesmo com a morte de Luiz Fernando, em outubro de 70, ele continuou em nossas vidas… aliás, continua.
Sempre no dia das mães, manda flores à minha mãe, no Natal e na Páscoa aparece ou telefona. Até hoje repete estes gestos. Agora na Páscoa, domingo passado, nos deu de presente o seu carinho por minha mãe, ligando mais uma vez.
Descobri que até hoje, ao conversar com ele, sinto a mesma emoção de antes, apesar dos meus 58 anos.
Krüger é o que Armando Nogueira chamava de “craque cidadão”.
Meu sobrinho de 9 anos atendeu o telefone. Logo descobriu quem era. É que já conhece todas as histórias que contamos a ele sobre o grande jogador. Me emocionei ao ver um garoto de 9 anos chamar Krüger de Flecha-Loira. É a perpetuação de um craque- ídolo- cidadão.
Tão perpétuo que até hoje ainda sinto o mesmo frio na barriga que sentia quando falava com ele, nos meus 12 anos quando ele estava lá em minha casa.
Minha mãe recebe os cumprimentos e me passa o telefone. Converso amenidades com o ídolo. Me comporto como um fã, que se controla diante de sua majestade. Conversamos algumas coisas e encerramos ali o nosso encontro anual.
Depois da ligação, me veio esta história toda. Junto com ela uma constatação: meu sobrinho de 9 anos teve Alex como ídolo, mas que virou cidadão do mundo. Jogou mais fora do que aqui. Está identificado com outras coisas. O mundo é outro, o futebol também. Coisa que não acontecia no meu tempo. O intercâmbio de atletas não era muito comum. Começou a se fortalecer a partir dos anos 70.
Uns preferem o romantismo daquele período, outros não. A garotada, não tem nem ideia do que foram aqueles anos dourados.
O fato é que como Krüger, nunca mais, nem na trave alguém bateu. Parabéns pelos seus setentão, meu caro!
Ao nosso ídolo maior, minha imensa gratidão pelo carinho durante todos estes anos. Saúde Flecha-Loira! Parabéns por todos estes anos de vida iluminada!
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