Arquibancada
Ainda existe o torcedor que acorda em dia de atletiba e a primeira coisa que pensa é no jogo. Sente o famoso friozinho na barriga quando pensa na partida. Ao pensar no time, a primeira imagem que cria é uma cena qualquer do clássico. Imagina um craque em situação de gol... torcida... é assim comigo.
Penso na tradição deste histórico clássico que acompanho desde criança. É impossível não lembrar dos muitos atletibas que vivi. Aprendi a tomar gosto pela brincadeira em casa com minha enorme família. As reuniões dominicais em casa, começavam cedo, todos envolvidos com o clássico - desde cedo vestidos de verde e branco.
Como era bacana um atletiba! A cidade respirava o clássico. O domingo de atletiba tinha cheiro de maionese e frango assado.
No domingo de atletiba o almoço era cedo porque o caminho ao estádio era feito em longa caminhada. A ideia era sempre chegar cedo para pegar um bom lugar.
Armados de bandeiras, como se fossem para uma guerra, a gente seguia ao Belfort Duarte (Couto Pereira), numa grande torcida de senhoras, meninos e meninas, pais e tios... a caminhada era uma grande festa.
Aquilo parecia trazer a união de forças para um confronto, um combate contra um grande rival.
Nas arquibancadas, uma corda com alguns policiais separavam as torcidas, apenas para delimitar uma região. Terminava o clássico e o vitorioso curtia com a cara do outro, mas os dois seguiam o caminho de casa – tudo muito distante do que andam fazendo ultimamente. As torcidas saiam juntas, acredite, às vezes abraçadas. Cansei de consolar amigo adversário na saída do estádio.
Naquela época, tinha um vizinho que na derrota não saia de casa. Nem na janela aparecia. Sacrificava aula, futebol de rua, porque não queria ser “zoado”. O encanto se quebrou quando um dia, a mãe dele, cansada da história, abriu a porta de sua casa para que a gente pudesse entrar. Coitado!!!
Em caso de derrota, a segunda-feira era difícil de ser encarada na escola, mas com vitória, era muito bem vinda. O melhor dia da semana. Melhor até que o dia anterior ou o gol da vitória.
Ainda hoje temos torcedores com este perfil que vão ao estádio e sofrem, torcem, choram e transformam esta brincadeira de torcer num prazer onde deveria ser a morada do futebol: no coração desta gente. No amor que nutrem pelo seu clube. Nada além disso. Futebol sem facção, sem nada além do amor por um clube de futebol.
Atletiba é sobremesa de domingo, não o café da tarde de sábado, mas que este seja nosso e que no domingo eu possa encontrar um atleticano, e de cabeça erguida apenas sorrir, com orgulho do meu time, que ultimamente anda me mal tratando.
Que estejamos alimentando no dia seguinte a esperança de continuar entre os grandes. Que este atletiba de sábado, sem cheiro de galinha e de maionese- mas com sabor de café de sábado, na casa da avó - nos devolva a alegria perdida há algum tempo.
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