Arquibancada
Quero falar de um amigo muito querido, daqueles que começa na época de escola e que segue pela vida inteira. Quem sabe isso ajude a entender melhor este momento de turbulência com muitas manifestações e opiniões sobre estas coisas que andam ocupando os nossos dias, sempre com muita preocupação.
Eu e este amigo vivemos muitos anos juntos. Muitas vezes por coincidências da vida, outras porque a gente gostava mesmo de estar junto pra trocar umas ideias.
Morto em 2010, foi com certeza uma das pessoas que passou por aqui e deixou alguma coisa. Ensinava a quem queria, as coisas da vida e também da profissão.
Trabalhamos juntos em algumas Tvs, agências de noticias e assessorias de comunicação. Também trabalhamos num programa de rádio, sobre automobilismo. Foi na época que ele voltava de um trabalho grande, feito no norte do Brasil. Ainda sem emprego aqui inventamos de produzir um programa de rádio, patrocinado pelo Afonso Rangel, que na época era piloto de automobilismo... isso foi lá pelo inicio dos anos 80.
Este amigo era atleticano, mas só para contrariar a maioria Coxa da época. Acho que nunca entrou num estádio de futebol.
Em véspera de Copa do Mundo, se informava sobre algumas questões chaves sobre a seleção e Copa do Mundo para também poder entrar nas conversas sobre o tema. E entrava só para tumultuar e dar risada. Coisa que fazia com grande habilidade. Adorava quando o Brasil ganhava, mas só porque a vitória reunia amigos em algum canto da cidade, em alguma festa. Era o que ele mais gostava do futebol, da festa que proporcionava.
Acho que assim, já dá pra ter uma pequena ideia da figura que há 8 anos já não está mais aqui, fisicamente.
Ele repetia e dizia sem nenhuma cerimônia, a quem se julgava injustiçado ou menos favorecido pela sorte, quando reclamava de algo como a falta de generosidade da vida:
- Você não é tão importante assim! Ou, não se dê tanta importância assim! Falava aquilo franzindo a testa, sempre com segundas intenções, às vezes só para descontrair e ser mais uma vez sacana. Mas aquilo caia como um balde água fria, colocava a gente na real. Ajudava a fincar o pé no chão. O puxão de orelhas, pelo menos para mim, sempre serviu para entender até onde podia ir. Com um pouco de humildade, com um preço ligeiramente dolorido, aquele sofrimento acabava ficando menor, embora tivesse mais sacanagem do que a intenção de ajudar.
Lembro de uma vez que precisei vender um carro muito bom, sonho de consumo da época. Era um Golf, seminovo. Não era um carrão, apenas algo que eu queria na época, mas nem um ano depois, precisei vender e baixar o padrão para um carro de menor valor, já bem mais rodado. Ele acompanhou aquele processo todo e quando cheguei no trabalho com o carro novo/velho, um Palio duas portas, ele me perguntou:
- Deu tudo certo?
- Sim, o carro não é aquilo tudo, mas é um carro! – disse eu.
- Não tem problema, você também não é tudo isso!- disse ele, como sempre com um sorriso sarcástico no canto da boca. Na verdade ele ria com os olhos.
Depois de muita risada, fomos ver o carro e mais tarde ele até precisou do Pálio pra fazer algumas coisas. “Grande coisa”, virou apelido do carro. Me empresta o “Grande coisa” à tarde”?
Quase tudo virava piada com ele. Perdia o amigo mas não perdia a piada.
A verdade nua e crua, dói, mas acho que é ela que talvez nos salve. Fazemos uso do “jus esperneandi”, mas com quase nenhum efeito.
Ainda temos um preço muito alto a pagar por tudo que deixamos que fizessem com o Coritiba nestes últimos anos. Acho que dias piores virão, se a visão é esta, de cobrança com resultados imediatos.
Seremos mais importantes e ouvidos mais adiante, mas antes parece que é preciso recuperar o terreno perdido. Será preciso primeiro voltar a ser grande, para que sejamos respeitados de novo.
Será preciso ser maior do que somos agora e aí alcançar os grandes sonhos....
Comer e arrotar caviar.
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