Arquibancada
A base no Coritiba não existe. Nunca existiu, com raras exceções, nunca tivemos tradição na revelação de talentos. Em mais de 100 anos de história, é possível citar apenas uns poucos nomes, e mesmo assim, atletas de regulares para médios talentos, como Pachequinho, Hélcio, Tobi, Rafinha, Jetson, Vavá, Keirreson e Alex... Destes, apenas um ou dois grandes nomes. Acho que para 100 anos, é muito pouco.
Se agora pregam a ideia de garimpar no próprio quintal, será preciso investir por alguns anos. Para este momento não há o que esperar. Não há fruta para ser colhida no pomar do nosso quintal.
Os nomes recentes que a administração anterior apostou, não passaram do banco, com discretas entradas em partidas do Paranaense e raras aparições no Brasileiro. Por isso, acabaram emprestados para outros clubes de menor importância. Alguns devem estar voltando. Faço torcida para que a rodagem tenha lhes dado experiência e que finalmente desencantem.
Mas o que é investimento na base? Acredito que acima de tudo é olhar com olhos de garimpeiro e não de administrador. A função do administrador é baixar custos, visando sempre as finanças, e como se trata de algo incerto, os custos sempre são baixos. E pouco dinheiro – em tudo na vida- significa baixa qualidade.
Buscar soluções na base apenas como medida de economia, me parece um tiro no pé neste momento.
Acima do administrador, deve estar o olheiro, o cara disponível para viajar incansavelmente. Um não, vários olheiros que se disponham a se enfiar nestes buracos do país. Precisa estar disponível para rodar o Brasil e até fora, em busca destes talentos, geralmente desprezados, esquecidos ou mal avaliados. Precisa ter o perfil necessariamente desvinculado dos empresários. Deve visar apenas o clube, e não o dinheiro que futuramente o jogador pode render. E isso custa caro.
Também acho esta uma visão muito romântica e simples, mas desde que perdemos gente que via o futebol de base com estes olhos, como Cizico, por exemplo, não revelamos mais ninguém. Nem olheiro, nem jogador.
Sim, porque olheiro também se forma como jogador de futebol. Não somos nós os olheiros de arquibancada que vão dar solução para o problema. Falo de olheiro profissional, o cara que olha diferente dos outros. É o cara que não vê apenas a casca do produto. Só ele é capaz de avaliar o conteúdo. Como Cizico fez em seus melhores tempos como funcionário do clube. Precisamos de mais Cizicos... muitos Cizicos.
Nós, somos apenas cornetas e achamos que entendemos alguma coisa. É só conversar com um destes profissionais para entender que a garimpagem não é assim tão fácil como muitos podem supor.
Assim como o futebol que virou um grande negócio, a garimpagem destes atletas - a maior razão de ser do futebol – também precisa ser feita de forma profissional. No Brasil, estes grandes profissionais são disputados pelos grandes clubes.
Jogador de futebol e olheiro, parecem ser duas profissões em extinção.
É verdade que não é em todo canto que se encontra talento jogando bola. Aliás, cada vez mais raros, mas precisam de paciência para serem avaliados.
Olheiros também não são figuras comuns. Por conta disso, de atletas mal avaliados, o Coritiba anda pagando um preço muito alto por jogadores que acabam não vingando e ficam encostados no CT.
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