Arquibancada
Não devo, mas também não resisto em dizer o que penso. Não sobre a causa da morte do jogador Daniel, cujo corpo foi encontrado no domingo, em São José dos Pinhais, mas sobre as circunstâncias da morte do jogador. Pelo menos das que trata a imprensa policial, embora ache que o lugar do nome de jogador de futebol ainda deve ser apenas no caderno de esporte.
Daniel é protagonista de mais um caso que deve servir como um novo exemplo, dos tantos que se aproximam de finais trágicos como este e do goleiro Bruno, do Flamengo, preso desde março de 2013, por exemplo.
Além da culpa, também são vitimas de um ambiente que se cria em torno do futebol, já incorporado à cultura deste mundo há anos, porque o atleta que não é baladeiro ou que se recusa a acompanhar os colegas de profissão nas noitadas, logo é excluído da turma.
Ou faz como outros, a minoria que se impõe com personalidade ou pela qualidade do futebol, como muitos que conseguem passar à margem da promiscuidade, que sempre teve como ponte de ligação o dinheiro ganho, que geralmente não é pouco e que financia farras homéricas.
Hábito no futebol, que nós torcedores e dirigentes, fazemos de conta que não vemos. Vira-se a página até que novo caso aconteça e ocupa mais uma vez as páginas policiais.
Tem sido assim: ou se adéqua ao conceito que “farra" com bebida e mulheres faz parte do contexto, ou vive como Evangelino Neves fez, tendo sua formula, o seu jeito de lidar com o problema, sendo muito mais pai de muitos atletas do que presidente de um clube de futebol.
Não era raro o dia em que o Chinês saia de casa, atrás de meia dúzia de jogadores, para leva-los para concentração ou para casa, porque no dia seguinte era dia de atletiba. Alguns davam conta do recado, mas podiam fazer mais e melhor, outros eram afastados, com aval do departamento médico, com alegação de uma contusão qualquer para justificar o afastamento.
Se a paixão do torcedor desse lugar a uma fiscalização maior sobre o véu que encobre os porões de seu clube, sua relação com o futebol certamente seria outra.
Quantos atletas já passaram pelo Coritiba e sem que fossem percebidos, entraram e saíram do clube sem sequer jogar ou treinar, por conta da fama de baladeiro. Por conta de um comportamento mais assíduo fora do clube do que dentro, em horários de descanso, mais frequentou balada do que os treinos no CT ou o Couto Pereira.
No meu trabalho ou no seu, somos impedidos a uma porção de desejos e gostos que gostaríamos de poder ter. No entanto, nos adequamos às regras de cada ambiente, porque assim é em cada um deles. No futebol este comportamento é ditado pelo atleta. O clube atende os mimos de cada um, especialmente quando se trata de um jogador com algum talento ou que chega sobre muito holofote.
Adriano, Valter, Bruno, Daniel, Dener, Kleber, Edmundo, Luxemburgo, Ronaldinho, Ronaldão ... uma lista interminável de nomes consagrados que em algum momento tiveram seus nomes também nas páginas policiais e que a imprensa e todos nós, que orbitamos pelo mundo da bola, fazemos de conta que “ isso é assim mesmo” e deixamos isso pra lá.
Nestas histórias mal contadas, como no caso do atleta Daniel, apenas reforça uma certeza: do comportamento que está bem distante de um ambiente que se presume, seja esportivo e por isso sadio.
Enquanto isso, perde-se talentos que vão deixando o futebol cada vez mais pobre. Também por uma série de outros grandes motivos, mas isso tem virado marca no mundo do futebol.
A opinião dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião do site.
Cada colunista tem sua liberdade de expressão garantida e assinou um termo de uso desse espaço.
Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)