Arquibancada
UMA HISTÓRIA DE AMOR PELO COXA.
Podia ser com o Pedro, com o Luiz, com o Felipe, Eduardo, João... mas foi com o Chico, um menino como todos os outros daquela época. Chico nasceu numa família grande. Era o filho do meio de 9 irmãos. Aprendeu a gostar de futebol porque nasceu com ele no sangue, como acontece com muitos de nós. O pai também gostava, mas não como ele.
Desde cedo simpatizou com o Coritiba. A relação virou amor... foi quando o pai passou a acompanhar Chico nos jogos, no antigo Belfort Duarte. Sim, a situação era inversa da maioria: era o menino que levava o pai ao jogo.
Aos 15 anos Chico fica órfão. Com a morte do pai, precisou morar em Santa Catarina, com o irmão mais velho. Os irmãos mais novos de Chico, ficaram com a mãe, em Curitiba. Sempre que podia, a família dava um jeito de se encontrar. Chico tentava coincidir as visitas que fazia à mãe, quando tinha jogo do Coxa para assistir.
Os encontros não eram regulares e isso fazia de Chico um menino de amores à distância – da família e do seu amado Coritiba. Isso consumia o menino.
A distância de tudo era uma saudade que doía no peito. Chico foi encontrando caminhos para vencer a distância. Além de algumas fotos da família - que depois de algum tempo já não eram suficientes – Chico descobriu um jeito para se aproximar dos seus amores.
A principal ferramenta de combate à saudade, passou a ser um velho rádio. Era com ele que Chico acompanhava notícias do seu Coritiba, que vinha pelas ondas curtas da Rádio Clube Paranaense. Chico também fez amizade com um motorista de ônibus que fazia a linha da cidade onde Chico morava, até Curitiba. Este motorista trazia toda semana os jornais com noticias frescas do Coxa.
Aquilo dava vida e alma à saudade. Ganhava voz através do rádio, emocionava e a imaginação de Chico voava, criava imagens naquela voz empostada emocionada do locutor. Pelo rádio e pelo jornal, Chico sabia tudo sobre o Coxa. Mesmo com algum chiado, o rádio passou a ser o principal veículo de informação.
O futebol passou a ser um dos elos entre ele e a família, embora na casa dele o futebol não tivesse a importância que sempre teve para ele.
Além do noticiário esportivo, claro, Chico não perdia um jogo do Coxa pela B2. Em dias de tempo ruim, quando as ondas curtas da Clube chegavam mal, ele buscava o ponto mais alto, até encontrar o sinal, só para não perder aquelas quase duas horas de aproximação com o pessoal de casa e com o Coritiba.
O tempo passou, Chico cresceu a vida mudou de endereço novamente para Chico. Mais perto da família e consequentemente do Coritiba, Chico volta a morar em Curitiba, onde vive até hoje.
Agora casado, com filhos e uma família imensa, Chico é sempre chamado aos compromissos sociais. Com uma família tão grande assim, tem festa de aniversário quase todo fim de semana. No meio da tarde dos domingos, quando a família se reúne para festejar o aniversário de alguém- e se por acaso naquele dia o Coxa joga - Chico até vai ao aniversário da família, mas em algum momento, desaparece. Pode ser encontrado dentro do carro, ouvindo o jogo pelo rádio.
Chico foi um torcedor formado pelo rádio. Conheceu mais o futebol criado pela imaginação que naquela época ainda era em preto e branco nas tvs. Um futebol que não existe mais. Que ficou na imaginação dele e de outros tantos torcedores que viram um futebol diferente: a época do preto e branco, mas que para Chico sempre terá as cores do Coritiba.
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