Arquibancada
Estou de volta e com uma historinha boba, mas que me diverte. Sou de uma família de tradição Coxa- Branca. Também muito numerosa. Há uns bons anos, fazemos um almoço reunindo todos os possíveis parentes e agregados. Nunca com a presença de menos de 100 participantes. Talvez seja exagero, mas arrisco dizer que sempre com 100% de presença Coxa.
Na década de 60 e 70, lembro de primas ou primos mais velhos que largaram namoros pela metade por causa de futebol. Alguns até sem ter começado direito o namoro, só porque ele ou ela era atleticano. O agregado era visto como adversário e não como possível futuro parente.
Alguns colocaram a relação acima da paixão clubística e decidiram enfrentar a maioria Coxa. Muitos ficaram pelo meio do caminho. Alguns até ganharam a simpatia dos mais velhos e foram ficando, foram aceitos, mas por alguma razão acabaram sucumbindo no meio do caminho e não resistiram à maioria. Também houve caso de conversão. Um primo se casou com uma atleticana, que com alguns anos de convivência acabou se convertendo. Até hoje olho pra ela e torço o nariz. Ex-atleticana, atual coxa? Sei não, viu! Prefiro o inimigo do lado de lá da trincheira. Se anunciando. Onde eu possa vê-lo. Do lado de cá se misturando, me soa meio falso. É que não consigo me imaginar do lado de lá, torcendo pra eles.
Não se trata de provocação. Aliás, nunca houve. Houve sempre respeito. De ambos os lados. Da parte de minha família, com todos os que estiveram entre nós, ninguém provocou ninguém. Devia ser duro aguentar um domingo de atletiba em meio de uma coxarada ávida por festa. Como também sei que era difícil aguentar os olhares cínicos dos intrusos atleticanos, em caso de derrota nossa. Como mais ganhamos do que perdemos, isso não era assim um grande problema.
Os tempos mudaram, os anos são outros e esta máxima se mantém, mesmo que não seja com a intensidade de antes. Mas até hoje, coitado de quem aparecer casualmente com uma roupa vermelha ou preta. As duas juntas nem pensar. Outro dia fui criticado porque o meu óculos tinha um detalhe em vermelho. Tinha, porque tratei logo de mudar.
Por alguns anos seguidos, em alguns sábados, minha mãe recebia a visita de uma amiga que vinha para passar a tarde com ela. Meu pai não gostava dela. Dizia que dava azar. Quando a mulher aparecia no portão, meu pai já dizia: “Pronto, perdemos o jogo desta rodada! Uma vez ela apareceu na véspera de um atletiba, proibimos minha mãe de receber a visita naquele sábado. Fizemos de conta que não tinha ninguém em casa. Ela foi embora sem entrar. No domingo deu Coxa na cabeça! Aquilo virou regra. Passou a ligar antes para saber se tinha gente em casa. Em dia do jogo importante, minha mãe era orientada para não recebê-la. Dizia que ia sair.
Hoje tenho grandes amigos do lado de lá. Três pelo menos. Nos respeitamos, mas também nos provocamos. Com um deles tenho tido uma relação bem próxima nos últimos meses, mas conseguimos manter uma boa amizade. Digo sempre que seu único defeito é não saber escolher um time para torcer. Ele diz o mesmo a meu respeito.
Depois de alguns meses, estou voltando ao Couto neste domingo. Sempre dei sorte em jogos contra o Atlético Mineiro. Não lembro de derrota contra eles. Se perder, não me culpe, mas se vencer, me aguente.
Precisamos da vitória. Não só pelos pontos que caem bem nesta secura que anda o time, mas muito mais pelo peso moral. Ganhar do Atlético Mineiro, mesmo que seja em casa, nos dá a confiança que precisamos.
Avante!
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Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)