Arquibancada
O encontro acontece na porta do colégio onde estuda minha filha, e para minha surpresa também a filha de Carlinhos. Ele está dentro do carro, de vidro aberto, reconheço o lateral a uma distância de 30 metros. Dalí mesmo pergunto: - “o que houve ontem Carlinhos”? Com cara de quem já respondeu isso durante o dia todo, com um meio sorriso, ele me responde: “acontece”! - E domingo, vai acontecer de novo? Pergunto eu. Ele diz, não - meio envergonhado. Ainda insisto com mais uma pergunta, a derradeira: - É possível fazer três gols? Mais confiante ele responde muito seguro, dizendo sim.
O que não disse e deveria fazer parte desta nossa curta conversa, é que faltou olhar bem nos olhos dele e dizer que isso não acontece, não. Tem acontecido, mas não deveria e não faz parte da nossa história. Coisa que poucos jogadores que aí estão sabem. Não estamos acostumados com estas coisas, mas de tanto que acontece, já estamos nos acostumando, sim. Mas este é um outro problema que também vai além do que posso suportar. Foi assim contra o Foz, contra o Prudentópolis, contra o Paraná, contra o Londrina e agora contra o Operário. Cinco apagões num campeonato curto, de nível abaixo da média. Tanto é fraco que mesmo assim, com os cinco apagões e com um time lamentável, chegamos à final. Nestas cinco oportunidades, não perdemos pontos para times melhores - todos certamente piores - mas que nestas partidas fizeram o que fizemos na partida contra o Londrina, na semifinal, no Couto Pereira. Foi o que equilibrou as coisas e em muitas até engoliu o fraco time do Coritiba, como no último domingo, contra o Operário, em Ponta Grossa.
Sei que não seria com Carlinhos que deveria fazer minhas reclamações, aliás, o único que consegue uma regularidade nas partidas que joga. Pelo menos faz o que lhe cabe. Apoia, corre defende e consegue colocar a bola na área nos cruzamentos que faz. Coisa que o outro lateral, Norberto não consegue fazer. Quando acerta um cruzamento, é fato para ser comemorado. Aliás, coisas que poucos conseguem fazer entre quase todos do time todo.
Prestem bem atenção onde tento chegar com todas estas colocações. Olha em que nível esta conversa trata a qualidade do que temos. Carlinhos faz o que lhe cabe, acertando os cruzamentos e nós comemoramos. Negueba, outro que ganhou simpatia de muitos, também merece respeito. É no mínimo voluntarioso e anda dando trabalho pras defesas adversarias, mas também é só. Temos ainda Rafhael Lucas, artilheiro do campeonato que se deixar chutar é mortal. Este é o time do Coritiba. Para o resto do elenco, não encontro classificação. Com muita boa vontade, podemos comemorar a liderança e alguns lampejos do capitão Leandro Almeida.
Vivemos uma crise de produção de talentos. Estes dias, aqui mesmo no site COXAnautas, João Paulo Medina, o todo poderoso do departamento de futebol, fez um alerta neste sentido. Disse ele, entre muitas outras coisas, que “o pragmatismo e o improviso sempre foram suficientes para o sucesso do futebol brasileiro, mas agora não é mais”. Os europeus aprenderam a produzir in vitro o que nós brasileiros produzimos por um longo período in natura”, e perdemos isso a cada dia.
Medina me chamou atenção para um detalhe, que na verdade é muito mais que um detalhe. Talvez o principal problema do futebol brasileiro. Quem sabe o principal problema desta carência que vivemos da falta de qualidade: o número de meninos jogando futebol na rua caiu, praticamente sumiu, o interesse diminuiu. A habilidade e a criatividade foram atrofiadas, o que sempre foi o grande diferencial do jogador brasileiro que não existe mais.
O quê fazer? Nada! Não há mão de obra. Somos apaixonados por futebol, mas não temos mais os craques que se esgotaram. Ainda vai demorar para mais uma vez copiarmos os europeus, também produzindo in vitro. Parece ser o que nos resta.
Ainda vi a última geração deles. Junto vinham os atletas de qualidade média que hoje são os considerados “fora de série”. Nos resta aceitar o que nos oferecem, ou vamos ficar eternamente nos lamentando. Sobrou nosso amor pelo clube que escolhemos torcer.
Estes jogadores medianos, estão nos grandes clubes, onde preferem jogar, com dinheiro mais alto e a visibilidade para uma possível negociação com o exterior, bem mais fácil. Não digo nenhuma novidade. Todos vocês sabem disso. É que às vezes parece que precisamos destas reflexões para voltar a pisar no chão e parar de sonhar e de reclamar. A nossa realidade é esta. Temos amor para dar, temos clube para torcer, mas não temos jogadores com qualidade para vestir nossa camisa.
Ou baixamos nosso padrão de exigência, ou passaremos a frequentar estádio de futebol apenas para nos lamentar e não mais para nos divertir, como sempre foi.
Para domingo, será assim, ficamos na torcida pelos rompantes de Negueba, pelos cruzamentos certeiros de Carlinhos e que a pontaria de Rafhael Lucas sejam a nossa salvação.
Para o brasileiro, se o vento não mudar, teremos um ano muito provavelmente pior que os anteriores. Antes que o atual futebol acabe com nossa saúde, vamos ainda ao estádio, como nos bons tempos, quando o futebol era o grande programa de domingo à tarde e nos divertia.
Agora, com um aliado: orando. Que assim seja, amém!
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