Arquibancada
Aqui ou em qualquer lugar do mundo, o futebol passou a ser um produto bastante rentável. O futebol ganhou um tratamento muito diferenciado e tomou caminhos que às vezes o deixa distante do espírito esportivo, bem mais próximo do comercial.
Futebol é um grande negócio. Alcançou um status que nenhum outro esporte alcança no Brasil, por exemplo. Nenhuma modalidade pode ser comparada a ele em nenhum aspecto: dinheiro arrecadado, interesse popular, formação de atletas, espaço na mídia, ingressos, patrocínios etc.
Vamos pegar os dois maiores momentos do futebol e do esporte amador: a Olimpíada e a Copa do Mundo, que coincidentemente nunca estiveram tão próximos de nós como agora. Um acaba de terminar, o outro há pouco mais de um ano para acontecer.
A copa já esteve pelo continente sul americano 5 vezes. As olimpíadas nunca, nem de longe foram cogitadas com organização e realização por estas bandas.
Atletas amadores de qualquer modalidade dividem alojamentos improvisados, jogadores de futebol se exibem em hotéis luxuosos. Atletas amadores- em alguns raros casos - mendigam até prato de comida, alguns vivem miseravelmente, principalmente no atletismo. Treinam porque alguém viu neles algum talento e por amor ao esporte se dedica ao trabalho de revelação e lapidação do atleta.
Sem equipamentos, estrutura, sem dinheiro, sem apoio nem de governo, nem de inciativa privada. São raros os casos de apoio. Apenas uma pequena elite vive com o dinheiro de grandes grupos ou dos chamados “paitrocínios” ou até de alguma verba oficial, por força da lei do esporte.
No Futebol, funciona ao contrário. É verdade que é um pequeno grupo que vive de contratos milionários, e uma grande maioria recebe salários de 5, 7, 8 ou 15 mil reais. No esporte amador, estes valores são destinados a projetos grandes, muitas vezes. Qualquer 15 mil ou um pouco mais, garante a bolsa de alguém por pelo menos um ano no atletismo, por exemplo. No futebol, é salário de “cabeça de bagre”. A verdade é que em todos os casos, estes valores estão bem acima da média salarial brasileira.
O glamour que se criou em torno do futebol não ajuda. Quem sabe, se novos conceitos forem cultivados, a gente ainda consiga um dia recuperar um pouco do talento que perdemos.
Quem sabe, daqui há mais uns 50 ou 60 anos, a gente volte a sediar mais uma copa do mundo, pensando em ser campeão e de lambuja dando show. Com novos Pelés, Garrinchas, Didis, Zicos, Rivelinos, Romários, Sócrates ...
Vivemos hoje a menor produção de craques no futebol brasileiro e com muito mais dinheiro que antes. Como explicar isso? Antes, craques brotavam nos clubes. Hoje só falamos de Neymar.
Das olimpíadas, é possível falar em projeção e expectativa para colher os frutos para agora, mas em seguida a árvore deve ser podada, para nunca mais frutificar.
No Futebol, um dos patrocinadores mais fortes anuncia o fim do apoio financeiro. A Caixa Econômica Federal que sempre teve sua marca ligada ao esporte amador, de uns anos pra cá entrou também no futebol como patrocinadora master - mas já anuncia a sua saída. Com pouco mais de um ano, esta semana a Caixa está avisando que não renova seus contratos com os clubes de futebol. Provavelmente estratégia de marketing. Fim de Copa, fim de investimento no futebol.
No Coritiba, serão 6 milhões de reais anuais que deixam de entrar. Um dinheiro que ajuda. Para quem anda em queda de braço com o governo, com uma dívida quase impagável, o fim da entrada de um volume de dinheiro deste tamanaho, é pra deixar muita gente pensando no futuro.
Ou quem sabe sem dinheiro, voltamos às origens de um futebol pobre de dinheiro, mas rico em talentos? Quem sabe não seja um recomeço?
Parece que o futebol vai precisar aprender com seu irmão mais pobre, como sobreviver em tempos de crise, de pires na mão.
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