Arquibancada
No dia 31 de outubro de 1987, portanto há 28 anos, também num sábado, só que à tarde, o Coritiba vencia o São Paulo no Couto Pereira por 3x1. Era um São Paulo todo poderoso de Muller, Silas, Careca e cia.
No dia seguinte, primeiro de novembro, nasceu meu filho Luiz Fernando - o primeiro dos três que tenho hoje. A mãe dele, Valéria, é do interior de São Paulo, Presidente Prudente, filha de um dos maiores sãopaulinos que conheci. Dr. Lyrio é um daqueles apaixonados por futebol, o mais bonito de todos, o disputado nos anos 50 e 60.
Antes de ser sãopaulino, sempre gostou de futebol. Hoje acompanha tudo pela tevê. Também dono de um talento sem igual para contar e recontar fatos, histórias e experiência vividas em seus tempos de Cicero Pompeu de Toledo, Pacaembu, e outras andanças pelos muitos estádios por este país.
Naquele 31 de outubro, eu e a filha de dr. Lyrio, Valéria, fomos ao Couto e vimos a vitória coxa branca, por 3 a 1 em cima do São Paulo, até então invicto naquele brasileiro.
Como vencer o São Paulo naquela época era fato raro, não perdi tempo e comemorei brincando com Valéria o resto do dia. Mais adiante, em casa, com uma caneta hidrocor, escrevi frases e o placar do jogo em sua barriga.
Mal sabia eu que no dia seguinte meu filho nasceria. E muito menos que a limpeza que Valéria faria em seu banho, antes de ir pra maternidade, não seria suficiente para apagar completamente as frases que escrevi, referentes à vitória Coxa, brincando com uma sãopaulina derrotada naquele momento.
Acompanhei Valéria nos primeiros preparativos, antes do parto, que aliás foi bem demorado. Quando a médica, uma argentina, com sotaque bem carregado, viu aquela barriga cheia de escritos comemorando a vitória alviverde e consequentemente a derrota do São Paulo, primeiro olhou bem para nós e depois de um silêncio de uns 10 segundos, já entendendo a situação, começou a rir. Olhou para cada um de nós e perguntou: quem torce pra quem? Eu respondi: "eu sou Coxa e ela São Paulo". A dra. sorriu, terminou a assepsia, antes me pedindo licença para apagar o que ainda restava do placar na barriga de Valéria, e continuou perguntando: “e o filho, pra quem será que vai torcer”? Respondi que seria uma opção dele.
Mais reservadamente, depois do parto, ela me diz que tinha gostado daquela vitória Coxa. Estava se sentindo vingada. Era torcedora do Boca Jr. também fregues do São Paulo na época.
Luiz Fernando nasceu, e hoje mora com a mãe no Estado de São Paulo, já com 28 anos. Quando morou aqui, escolheu o Coritiba como time para torcer. Mas acabou tomando o caminho da mãe e do avô e o São Paulo virou seu time de coração. Já chegou a ficar em cima do muro quando os dois se enfrentam. Quando ganha- isso tem sido comum ultimamente - não “zoa” com a minha cara. Nem ele nem a mãe, nem o avô.
28 anos depois, o Coritiba volta a jogar no Couto, num sábado de 31 de outubro, mas em situação bem diferente daquela. Tão diferente que o adversário também é outro, e sem demérito ao Figueirense, parece ser a altura das nossas pretensões nos dias de hoje, bem distante de enfrentar um São Paulo de igual para igual, como naqueles tempos.
As diferenças entre o sábado de hoje, para o de 28 anos atrás é tão grande, que os adversários e nossas pretensões também são outras, mas o de hoje ganha um grau de importância maior, porque pode definir a vida do Coritiba não só no campeonato, mas também para os próximos anos.
Luiz Fernando está comigo. Veio passar seu aniversário de 28 anos aqui em Curitiba. Espero que seja um bom presságio. Que eu possa escrever na barriga de alguém (pode ser na minha mesmo), Coritiba 3 x 1. O Coxa moeu o Figueira, como fiz com Valéria em 31 de outubro de 1987.
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