Arquibancada
Tinha decidido encerrar o ano com a postagem anterior. Mas mexendo em meus arquivos, me deparei com esta imagem que me deixou reflexivo. Nela é possível encontrar uma porção de significados. Vai da paixão, passa pelo desprendimento e dependendo do que você ver, pode alcançar o absurdo. Vai depender mesmo da interpretação de cada um.
Mas me parece que acima de tudo temos um torcedor que simboliza tudo que tem sido o Coritiba nestes últimos anos, especialmente neste 2015. Aliás, a foto é do último jogo, contra o Vasco, no empate de 0 x 0, quando finalmente o Coxa confirmou sua permanência em 2016, entre os 20 clubes da série A.
Debaixo de chuva forte, sol, frio ou qualquer tempo, Jairton está lá. Ele e seu amor pelo Coritiba. O mesmo Coxa que sempre teve em suas arquibancadas um personagem como ele. Se locomovendo com suas cadeiras de rodas, antes pela Mauá, depois pelas sociais, Albinha também não perdia os jogos do Coritiba, nos anos 70 e 80. Durante anos foi assim. Fosse com o que tempo fosse.
Albinha foi até conselheira de muitos atletas. Se instalava no portão de acesso aos vestiários, ali pela Mauá, e pra cada um que passava por ela, guardava sempre uma palavra de incentivo. Albinha passou o bastão pra Jairton que também com muita dificuldade, está lá, a cada partida do Coxa, no Couto.
Não lembro ou não vejo nenhum registro de nenhuma outra torcida com personagens como os dois.
Albinha e Jairton nos colocam para pensar e ir um pouco além. Nos dão uma ideia melhor do que é gostar de futebol, especialmente torcer pelo Coritiba. Certamente são os melhores retratos daquelas frases que costumamos a ver nas redes sociais: “Não somos uma torcida, somos uma família. O Couto não é nosso estádio, é nossa casa, o Coritiba não é nosso clube, é nosso amor”!
O sentimento só parece não ter efeito nos gabinetes, onde ainda prevalece a política pequena, o interesse pessoal.
Seria leviano de minha parte questionar o fato de Jairton assistir aos jogos na situação como na foto acima. Por que não acomodam o rapaz num lugar mais adequado? Me disseram que já lhe ofereceram acomodação no setor Pro Tork, mas ele recusou. Mesmo assim, porque talvez Jairton encarne mesmo o espírito do torcedor Coxa. Mas é no mínimo desconfortável ver Jairton assim, debaixo de chuva , seja forte ou fraca. Ainda com uma visão também desfavorável, se a gente levar em conta que ele fica deitado numa maca, o jogo todo, no primeiro anel, atrás do gol da Amâncio Mouro.
Provavelmente nossos sentimentos ( meu e do Jairton)em relação ao clube também sejam muito diferentes. Se não dividimos o mesmo sentimento, Jairton me deixa uma grande lição: a instituição Coritiba está acima de tudo. O amor pelo clube na derrota, nos vexames, nas campanhas desastrosas, independente de quem estiver no comando, independente dos interesses escusos de cada um dos dirigentes ou conselheiros. Jairton parece nem querer saber da vida do Coritiba, além das quatro linhas do gramado do Couto. Importa para ele o manto sagrado carregado por cada um dos 11 atletas em campo. Um sentimento que anda desaparecendo dos estádios.
Gente como Jairton ainda pode nos recolocar em nossos lugares e quem sabe devolver o amor que anda se perdendo com a apouca vergonha do futebol. Precisamos de mais Jairtons, no Couto, se não deles, pelo menos deste sentimento de amor que este rapaz demonstra por um clube de futebol. Melhor seria se fossem os corações como o dele, dirigindo o Coxa. O Coritiba seria outro, certamente. Ou o mesmo, de muitos anos atrás. Não teria saído dos trilhos.
Termino o ano evocando o espírito de Jairton. Elejo este ele como símbolo da torcida Coxa, nem que isso sirva só para que eu consiga retomar um pouco da confiança e o gosto em estar no Couto, independente da qualidade do time e interesses de nossos dirigentes.
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