Arquibancada
"Meu pai costumava repetir uma frase do Armando Nogueira, que diferenciava o craque, do craque/cidadão. Te admiro pelos dois: pelo craque que sempre foi e pelo craque/cidadão que ainda é! Parabéns pela sua história! Obrigado pelo prestigio e interesse no 44"!
O texto acima é da dedicatória que fiz ao amigo Alex de Souza, nosso eterno capitão. Foi aqui em casa, no último sábado. Por se tratar de Alex, o encontro teve ares de um pequeno evento. Meus sobrinhos não me perdoariam se soubessem que Alex esteve aqui, e eles não foram avisados. Confesso que também me vesti um pouco de tiete. Afinal, ter um ídolo em casa, não é todo dia. E quando o personagem é Alex, a tietagem é inevitável. Só não estendi tapete vermelho porque isso o deixaria desconfortável. Mas a situação era digna para isso.
Vale mais uma vez o registro de uma lembrança. Já contei esta história aqui, mas coisas boas sempre devem ser repetidas e lembradas. Ele, Alex, certamente não lembra, mas antes de se tornar o Alex que foi durante toda a sua vida profissional, mas já dando ares de que seria o que foi, - assistimos juntos - ele, meu pai e uns amigos, uma partida do sub 23, num sábado à tarde, no Couto Pereira. Sentou na arquibancada com a gente, conversou com todos, sem firulas, sem frescura, como cidadão e Coxa Branca que sempre foi.
Saímos dali e meu pai me disse: “este menino vai longe”! Chamou atenção o fato de dizer isso naquela situação, com Alex num bate-papo, e não com ele jogando bola.
E acabou mesmo indo muito longe. Infelizmente voltou numa época errada, com gente errada, no time errado. Quero dizer que se Alex tivesse voltado um ou dois anos antes, teria encerrado a carreira como merecia: com um titulo nacional importante, o de campeão da Copa do Brasil pelo Coritiba.
Semanas antes, quando conversamos sobre nossos livros, acertamos (sempre por inciativa dele) que neste encontro trocaríamos as figurinhas. Digo por iniciativa dele, apenas para ressaltar a humildade deste menino. Combinamos que ele me traria o livro dele e eu entregaria a ele o meu. Só o interesse dele pelo meu livro, já é motivo para me envaidecer. Ter este menino em minha casa então, ainda mais vaidoso fiquei.
O ano termina com o Coritiba escapando do rebaixamento e as crianças de casa, com um ídolo para tietar. A troca de livros acabou virando um pequeno evento. Durou pouco, mas valeu.
Alex termina meu ano futebolístico me deixando com um gosto melhor do que vinha tendo com o que o Coritiba andava me proporcionando neste 2015. Sua visita serviu como presságio. No dia seguinte, no domingo, o Coritiba, não poderia fazer o papelão e encerrar o meu ano na segunda divisão. A visita de Alex, um dia antes da partida contra o Vasco, era um aviso - que isto estava longe de acontecer. Não podia acontecer. Não aconteceu. Pelo menos foi o que pensei, como bom torcedor supersticioso que sou.
Coincidentemente, logo que foi embora, abri o livro “Alex, a Biografia”, assinado pelo jornalista Marcos Eduardo Neves, exatamente no trecho onde Alex fala um pouco da sua personalidade, aliás, bem diferente da média dos boleiros no Brasil.
Diz ele:“Gente é gente em qualquer lugar. Não sou melhor do que ninguém porque fiquei famoso e ganhei dinheiro para viver em condições melhores que vivia”. Não vivo da forma como muitos atletas, que gostam do glamour, da festa , de mulheres , arremata Alex em sua biografia.
Não só por se colocar como todos nós, mas também por admitir que somos falíveis e imperfeitos, me fez lembrar logo dos críticos de Alex, especialmente nestes últimos tempos, quando uns poucos torcedores o elegeram como um dos responsáveis por esta atual fase do Coritiba.
Não conversamos sobre isto, não foi tema de nossa conversa. A vinda dele acabou sendo só das crianças, conversamos pouco por conta disso, quase nada. Na saída, lhe perguntei sobre o “Bom Senso”. Não fui autorizado a reproduzir as informações que me passou, mas são promissoras, muito mais para o futebol brasileiro, que por tabela leva junto o Coritiba. Pena que o movimento ainda ganhe pouco espaço na mídia. Aliás, um dos setores do futebol que também ganharia, caso o movimento tenha sucesso.
Quando comecei a acompanhar o futebol com a idade dos meus sobrinhos e filha, meus ídolos foram , Krueger, Kosilek, Passarinho, Zé Roberto, Hermes, Oberdan, Nilo, Hidalgo, Negreiros, Jairo, Nico, Bequinha, Oromar ... muitos deles, bons exemplos em campo e na vida, como cidadãos.
Sou grato que as minhas crianças tenham tido Alex como ídolo. Bom caráter, bom exemplo... Obrigado, craque/cidadão!
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