Arquibancada
Se elas existem, se escondem, se são sócias, as vejo apenas no estádio. Ainda não deixam que elas votem, por exemplo. Coisas machistas que o futebol ainda permite que aconteça. Por aqui, no COXAnautas, também não se apresentam.
Dentro do Coritiba, somam 48% dos sócios, segundo números apresentados pelo ex-presidente. Mesmo se escondendo, são vistas no estádio com seus filhos, maridos ou namorados. É difícil encontrar mulheres desacompanhadas, e quando estão só, são vítimas de cenas que conto no texto abaixo.
Soube de história de uma delas – que foi com a mãe num jogo de público grande. Sentaram no setor da arquibancada e as duas foram importunadas por um longo tempo por um grupo de torcedores.
É, ainda existe torcedor que vê mulher no estádio e não consegue entender que ela está lá pelo mesmo motivo que ele: só porque também gosta de futebol. Ouvi esta história e achei que podia haver um certo exagero, mas não. Foi isso mesmo. As coisas ainda são assim dentro de um estádio de futebol, em pleno século 21.
No returno, pelo Brasileiro, no dois a zero contra o Palmeiras, também presenciei uma cena muito parecida com esta. Uma moça acompanhada de sua filha, sentadas à minha frente, foram importunadas por um grupo de quatro senhores torcedores, que além de incomodarem as duas (especialmente a senhora), irritaram a maioria dos torcedores que estavam em volta.
Além da falta de respeito e abuso da fragilidade de alguém, também irrita a falta de respeito com quem de fato vai ao estádio porque assim como ele, está lá apenas pelo futebol e porque gosta do Coritiba.
Cenas como estas, devem exigir um novo comportamento das autoridades, que vão ter que pensar em soluções, como por exemplo, as aplicadas nos ônibus, onde as mulheres já reivindicam um lugar só para elas. Do jeito que a coisa caminha, não demora para o mesmo acontecer também em estádios de futebol.
Não consigo admitir que cenas como esta ainda sejam toleráveis socialmente. O problema não está só em quem desrespeita o outro, mas em muitas reações em volta, que apenas assistem estas cenas como se nada estivesse acontecendo. Outros preferem se comportar com neutralidade, porque não lhe atinge diretamente. Poucos se sentem também afrontados. Poucos reagem em defesa do mais fraco. Poucos são dignos de comprar a briga.
Na década de 60 até 70, as mulheres e crianças também frequentavam estádios em grande número, mas antes havia respeito. Isso era feito sem nenhum problema.
Meus primeiros anos de vida dentro do Belfort Duarte, foram acompanhados de minha mãe, tias, primas... A família tinha como programa o futebol na tarde de domingo. Hoje, ir ao estádio, está mais para desafio. As aventureiras se sentem vitoriosas ao chegar em casa quando passam desapercebidas, sem nenhuma história dantesca para contar.
Isso precisa ser visto com mais cuidado pelos que mandam no futebol e pelos que decidem a segurança nos estádios e nas cidades.
Às vezes acho que o ser humano está voltando ao tempo da caverna.
A opinião dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião do site.
Cada colunista tem sua liberdade de expressão garantida e assinou um termo de uso desse espaço.
Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)