Arquibancada
Lançaram finalmente a camisa número 3 do Coritiba. A surpresa foi antecipada por uma loja que provavelmente sem saber, acabou expondo a camisa antes do lançamento oficial. A foto tirada por um torcedor, ganhou as redes sociais, logo caiu na imprensa, e antes da pompa toda preparada pela diretoria, para apresentar a nova camisa, o mistério guardado a sete chaves, foi desfeito.
Alguns conseguem até ver a cor azul, onde pra mim é verde. Chegaram a dizer que o azul era uma referência ao título de "Fita Azul", conquista do Clube nos anos 70, numa excursão invicta pela Europa.
Seja o que for, a cor que quiserem, ainda fico com a imbatível número um. Acompanhada, claro, daquele meião cinza, e quem vestia, sobriamente calçava por cima uma chuteira preta. Tudo bem diferente dos exageros coloridos que vejo hoje.
Poucos clubes usaram meião cinza, mas todos usaram chuteira preta. Lembro de um Coritiba x Botafogo, os dois de meia cinza. Botafogo de Jairzinho, Coritiba de Passarinho. Zero a zero. O empate acabou sendo uma vitória. É que naquela época, empatar com os grandes do Rio ou de São Paulo, era uma façanha. Principalmente quando o show era do nosso ponta direita, e não do deles, Jairzinho, recém chegado da vitoriosa seleção de 70.
Passarinho era forte, mas veloz, tinha drible desconcertante, ousado e debochado. O ponta do meião cinza, que vestia a 7 que acabou para o futebol, mas ficou na memória- deixando muita saudade. Função que hoje é desempenhada pelos laterais chamados de alas -que usam meião branco - combinando com a camisa também branca e contrastando com o calção preto.
Junto com Passarinho, também ficou para trás a história de Oromar, Aladim, e tantos pontas que calçaram chuteira preta, em cima do meião cinza, e que bagunçaram com muita defesa por aí.
Naquela época, a social, hoje chamada de cadeiras superiores, ainda passava por reforma. Era possível ver jogos no Belfort Duarte debaixo destas cadeiras ou no retão da Mauá. Onde durante muito tempo também estavam as cabines de rádio.
Destes dois pontos, a gente conseguia uma visão privilegiada dos dribles de Passarinho. Debaixo das sociais, era possível ver as pernas de Passarinho trançando pela bola, num vai e vem que mais parecia um ballet. De cima, a visão era da jogada toda, com ângulo mais aberto, desconcertando seus marcadores. Era escolher o lugar e se preparar para espetáculo.
Neste tempo, futebol tinha cheiro... cheiro de casca de tangerina - em Curitiba chamada de mimosa. Vinha numa redinha de plástico, toda trançada e furada. Ali, a gente guardava as cascas. Os mais exaltados arremessavam no bandeirinha – quando achavam que ele merecia levar para casa umas cascas de mimosa.
Naquela época, o futebol também tinha cheiro de churrasquinho feito ali mesmo. Vinha num pão amanhecido, mas delicioso. Também o cheiro de amendoim torrado, que resiste até hoje.
O palco era o bom e velho Belfort Duarte ou mais recentemente, Couto Pereira. Com o tempo tudo isso se perdeu, e hoje, alguma coisa pode ser vista no memorial do Clube.
As cores, a camisa polêmica da abelhinha - do green hell, as chuteiras coloridas ( umas até demais) são o que chamam atenção nos gramados por todo o mundo, e nós acompanhamos tudo isso, dando novas cores a um uniforme tradicionalmente verde e branco, hoje com vários desenhos e até cores para todos os gostos.
Quem sou eu para discordar ou concordar com a nova camisa número 3. Tudo pela modernidade. Se as pesquisas apontam para este caminho, que seja ele trilhado, mas bem que podia também trazer junto, um pouco da beleza do futebol daquele tempo. Porque junto com a história, também se foi a qualidade do futebol. Este parece que não se acha mais em lugar nenhum, nem no memorial.
Seja bem-vinda dona camisa número 3. Que nos traga sorte.
Independente da sua beleza, traga principalmente um pouco da qualidade do futebol que não vejo mais.
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