Arquibancada
Foi entre 1989 e 1993 que vivi minha maior experiência como profissional na área jornalística esportiva, cobrindo especialmente o futebol.
Precisamente em 1989, o Coritiba tinha um dos seus melhores elencos, quem sabe o último grande time, capaz de ganhar qualquer competição nacional.
Só que o ano de 1989 também foi o ano que o Coxa foi rebaixado, na famosa canetada da CBF, quando deixou de cumprir a ordem da inversão de mando , precisando jogar com o Santos em Juiz de Fora.
A punição desmantelou o time que perdeu quase todos os jogadores em poucos meses. O meio de campo era formado com Osvaldo, Serginho, Carlos Alberto e Tostão, na frente Chicão e Kazu. O treinador era Edú Coimbra, irmão de Zico, que até recentemente estava no futebol japonês.
Entre tantas conversas que tive com Edú, algumas carrego até hoje: dizia ele que com aquele time, sua função de treinador era quase inexistente. Cabia a ele a distribuição de camisas no vestiário e umas poucas decisões – dizia Edú.
O fato de estar fora de campo, apenas observando, algumas vezes ajeitava uma coisinha ou outra, ajustando alguns erros de marcação, coisas que os atletas não percebem dentro de campo. As substituições só aconteciam por contusão ou quando havia algum problema pessoal com um deles, mas nunca por opção tática. O cara também podia não estar num bom dia naquela partida, e em alguns casos a substituição resolvia.
Tudo isso me faz pensar que time com muitas opções táticas, são recursos e variações para treinador que trabalha com limitações.
Pego todas estas conversas e coloco numa mesma panela e vejo o quanto de limitação tem o futebol de hoje. No Coritiba, por exemplo, Marquinhos Santos trabalha com pelo menos três opções táticas. Às vezes, Marquinhos chega ao requinte de colocar dois atacantes, mas para marcar as saídas de bola e descidas dos laterais. Joel na frente como referência é a única opção boa (na minha opinião). Quando entramos com Joel e Zé Love, me dá até frio na barriga.
Também de Edú, ouvi que não existe treino, não há conversa que coloque na cabeça do atleta um esquema, quando o jogador mal consegue articular uma frase. Neste caso, o sujeito é incapaz de entender o que o treinador pede. Fica como peça perdida dentro do esquema, uma barata tonta, muitas vezes até atrapalhando os companheiros. Coisa que a gente vê muito, em muitos times, e pensando assim, fica mais fácil entender muitas coisas "inexplicáveis".
O futebol é um clube do bolinha e raramente a gente vai ouvir isso de um colega de profissão. Ninguém entrega ninguém.
No futebol de hoje, parece que não basta ser craque, tem que ter um pouco de informação, o mínimo de cultura. Do contrário, será mais um adversário em campo. Porque poucos times não são limitados, e por isso todos os clubes precisam de variações táticas.
Vejam o caso do Joel, nosso atacante. Está posando de "rei em terra de cego". Sim, Joel é um atacante limitado, mas que serve para muitos clubes grandes do futebol brasileiro. É o nosso artilheiro, tendo chegado há dois meses e mesmo assim não é tudo isso.
Ultimamente quando vejo o Coritiba bater cabeça, como domingo contra o Flamengo, e em outras tantas partidas neste brasileiro, lembro muito do velho e bom Edú.
Parece que muitos não sabem exatamente o que fazer, onde se posicionar, que função tem dentro do que pede a armação para aquela partida.
A opinião dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião do site.
Cada colunista tem sua liberdade de expressão garantida e assinou um termo de uso desse espaço.
Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)