Arquibancada
O bola era cruzada na área e ele saia pra pegar apenas com uma mão, quase sempre em dois tempos. No primeiro toque amortecia e no segundo segurava. Usava boné, não como os de hoje - os que a garotada usa... tinha um design clássico, parecia diminuir a visão, atrapalhar, mas não, era estilo, e na época era o que tinha para ajudar a segurar o cabelo. A aba ajudava nos dias em que o sol vinha pela frente. De tipo físico magricelo, espigado, assim construiu sua história no gol do Coritiba, nos anos 60.
Célio foi talvez o início de uma geração de goleiros de fizeram história no Coxa. Na mesma época tinha o Joel Mendes, com um estilo bem diferente de Célio. Joel fazia o estilo fortão, italiano de Santa Felicidade, também impunha respeito debaixo do gol. Esta história de sair apenas com uma mão, era a frieza que sempre acompanhou a vida destes caras que escolhem o gol como trabalho, a pior posição do futebol.
Esta história dos goleiros no coxa, vem sendo contada ao longo dos anos, por outros grandes goleiros: Manga, um dos protagonistas de um dos títulos mais disputados do paranaense, num inesquecível atletiba, que acabou nos pênaltis. Com suas mãos que mal vestiam as luvas, (Manga tinha os dedos deformados) foi o protagonista daquele título.
Rafael Camarota dizia que todo goleiro precisa ser maluco. A loucura está em sair na bola perdida, em acreditar quando tudo parece perdido. Rafael e Jairo foram sem dúvida os dois principais goleiros do Coritiba. Um pelo título brasileiro e outro porque foi destaque nacional em brasileiros quando o futebol respirava ares diferentes.
Uma posição ingrata... capaz de ocupar o céu e o inferno na mesma partida. Os erros geralmente resultam em gol do adversário e quando defendem, não fazem mais que a obrigação, afinal, estão lá pra isso. No fundo a gente sabe que não é bem assim, mas é assim que a gente se comporta: cobra demais destes caras.
A verdade é que eles foram “os caras”, muito mais até que muitos artilheiros, coisa rara no futebol.
E o Vanderlei, o que acham dele? É um bom goleiro? Eu consigo lembrar de Vanderlei mais como “pegador” do que como “entregador”. É só lembrar dos pênaltis contra o Flamengo, na recente eliminação da Copa do Brasil. Depois daquele dia, passou a escrever outra história no Coritiba, mesmo com a eliminação. Pegou três. Faltou competência aos batedores. Vanderlei fez a parte dele. Tudo bem que ele não é uma “Brastemp”, mas a avaliação passa longe de culpá-lo pela campanha do Coritiba nestes dois últimos anos. Vanderlei é do tamanho do atual time do Coritiba. Primeiro por uma das máximas do futebol: aquela bastante conhecida que diz que um bom time começa por um grande goleiro. Não temos um grande goleiro porque não temos um grande time. Se temos goleiro para pegar três pênaltis, temos jogadores de linha para errar três pênaltis.
Vanderlei é a cara do atual time do Coritiba, mas passa longe de merecer uma vaia, como a de ontem, na saída para o vestiário, na vitória contra o Criciúma. Aliás, nas poucas oportunidades criadas, estava no lugar certo, e trabalhou como exigia o momento.
Na intenção de vaiar alguém, responsabilizando pela campanha que fazemos, pense bem. Acho que o endereço não é o time que anda entrando em campo. Além do mais, torcida e jogadores estão fechados num pacto que é fugir do rebaixamento. Quer criticar o time? O momento não é este!
Se você quer vaiar, acho que o seu alvo deve ser outro departamento do clube.
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