Arquibancada
Sabe aquela sensação de cachorro de rua, aquele sarnento? Aquele que é mal quisto em todo lugar, onde ninguém respeita o animal ? Os moleques da rua jogam pedra, nunca tem um canto certo pra morar e nem dormir? Pois é bem esta a sensação que tenho depois de mais uma derrota.
É verdade que nesta, o cachorro pelo menos até lutou com bravura, mas de tanto que apanhou durante a vida, de nada adiantou. A moral, a autoestima estão tão baixas, que a esta altura, qualquer tentativa de reação parece em vão.
Desta vez foi contra tuto e todos, como foi também em poucas oportunidades. Em outros tempos havia respeito - não era um cachorro sarnento. Agora não. Pode bater, jogar pedra, mal tratar que ninguém se importa.
Torcida contra, adversário bem superior tecnicamente, arbitragem tendenciosa, interesses escusos, CBF, imprensa, tv Globo, técnico etc. etc. etc. Parece não ter nada que mude este quadro. Até o dono do cachorro já dá sinais de estar conformado com tudo isso. Parece ter perdido a indignação com as atrocidades e violência cometidas contra o seu pobre animal.
O coitadinho virou cachorro daqueles que acaba na carrocinha e depois vira sabão. Para as crianças que assistiram seu fim, fica uma história mal contada, de que virou mais uma estrelinha, como o vovô, lá no céu. Mas a gente sabe que não vira estrelinha.
Aliás, a única estrelinha que carregava do lado esquerdo do peito, também foi chutada como ele. Estrelinha mesmo ele viu depois de cada uma das surras que tomou quando se meteu a conviver com uma matilha poderosa, da rua de cima.
Nesta vida que entra agora em fase terminal, lhe resta um pouco de umbral. Onde precisa fazer o que ainda não fez e parece impossível.
Já não sabe mais se salva das novas surras que devem vir pela frente, ou encara tentando se impor. Na verdade não lhe resta outra opção: precisa encarar o aprendizado e tentar se redimir, tentando fazer o que ameaçou, mas não fez até agora.
Ou toma a última paulada na cabeça, e sem piedade a morte lhe carrega para o fim definitivo, ou vai pra briga.
Seu último suspiro até deu um pouco de alento, uma última esperança, dando a entender que existe vida após a morte. Foi o que lhe restou.
Pobre cachorro sarnento!
A opinião dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião do site.
Cada colunista tem sua liberdade de expressão garantida e assinou um termo de uso desse espaço.
Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)