Arquibancada
Quase não fui. Tinha um leve pressentimento que hoje não daria. Isso ainda em casa, mas fui.
No caminho pro Couto, lembrei que contra o Palmeiras mudei a catraca para acessar o estádio. Disse pra moça que nunca tinha entrado por ali, e que iria experimentar pra ver se dava sorte. Naquele dia deu. Hoje, lembrei disso na chegada. Só que junto comigo chegou um senhor, uns dois passos na minha frente. Escolheu a minha catraca (última da esquerda, entrada pela Mauá). Todas as outras estavam livres. As outras moças me chamaram. Não tive coragem de dizer que tinha que entrar naquela catraca, a mesma que usei no jogo contra o Palmeiras. O senhor da minha frente se enrola e não tive como negar o convite das moças das outras catracas. Passando a carteira de sócio no leitor, emitiu um sinal sonoro diferente. Fez um bip contínuo e no visor disse que o documento era inválido. A moça me olhou sorrindo, limpou na barra de leitura, passou de novo e finalmente sou autorizado a entrar.
Todos estes sinais já me levaram de volta pra casa em outras oportunidades. Muitas vezes deixei de entrar no estádio apenas com um deles, imagina com tantos assim. Mas não, teimei e segui. Me sento no segundo anel, ainda com muitas escolhas de cadeiras vazias. Escolhi a que recebia água de uma goteira. Ao mesmo tempo que molhei a bunda -ao me sentar - de cima também veio o pingo na cabeça.
Molhado em cima e em baixo, não me dou por vencido. Levanto, insistindo em permanecer no estádio e procuro outro lugar. Algo ainda me dizia que deveria voltar. Pensei: “não tenho muito o que perder. Já vi coisas piores este ano. Não será hoje que este Coritiba vai me decepcionar mais do que já decepcionou. Nem o Grêmio vai me assustar. Tentei lembrar da nossa partida contra eles no primeiro turno. Aliás, uma das melhores (Grêmio, Cruzeiro e A. Paranaense, os nossos melhores jogos até aqui).
Com os times em campo meu humor melhora com a temperatura caindo no Couto Pereira. Me causa um certo desconforto o frio, mas no Couto ele é sempre especial e tolerável. Coisa de masoquista de Couto Pereira.
A partida começa e logo a um minuto, na minha frente, no gol dos fundos, Rafael Galhardo toca com o braço escandalosamente num pênalti que em fração de segundos o árbitro Sandro Meira Ricce chegou a apitar, mas na mesma fração de segundos, seu caráter decidiu voltar atrás e marcar falta de Evandro no lance. Não houve falta, houve pênalti. Por um instante achei que seria a nossa única chance na partida. Não foi. O lance nos encheu de uma alegria de jogar futebol, que ainda não tinha visto neste time desde o início do ano.
As voltas de Ruy e Carlinhos, especialmente Carlinhos, era algo inacreditável. Negueba jogando com smoking, o time parecia jogar por música. Era difícil achar alguém que destoasse naquele conjunto. Perecia tudo, menos o mesmo time que tanto xingamos e criticamos durante o ano. Pensei - valeu ter vindo - hoje o dia é nosso, o gol é uma questão de tempo. E foram quatro, cinco boas oportunidades com toques bonitos, até chegar na área adversária e faltar aquele detalhe para o arremate. Não restava dúvida, o Coritiba já não era o mesmo. As vitórias contra o Palmeiras e Vasco nos fizeram muito bem.
Com dez minutos, cheguei a olhar no relógio e o Coxa já acumulava uma enorme posse de bola com pelo menos duas boas oportunidades. Ainda ressabiado, achei que podia ser ímpeto de começo de partida, mas não, foi assim até o fim.
O time sai aplaudido por grande parte da torcida. Estavam selando definitivamente a paz no Couto (torcida e time).
No intervalo, o treinador do Grêmio, Roger Machado, arrumou sua meia cancha e ganhou o jogo. Na verdade foi na saída de Juan que Ney Franco começou sua trapalhada, e a confirmar seus constantes erros quando mexe no time. Juan saiu machucado, no lugar dele entrou Michel, completamente fora de forma e de jogo. O meio que já tinha sido perdido no vestiário,ficou ainda pior. O Coritiba perde conexão com a frente e se complica ainda mais com a entrada de Rafael Lucas. Foi um monte de atacante com um meio sem ninguém.
Aí prevaleceu a máxima do primeiro tempo: o gol era uma questão de tempo. Numa falha de marcação, o Grêmio marca e daí pra frente mandou no jogo.
Domingo temos outra parada tão indigesta quanto esta, se não pior. Hoje podia perder, domingo não. Que fique a lição!
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