Arquibancada
Conheci melhor Aroldo Fedato quando ainda estava na Tv da Universidade Federal do Pr, apresentando e produzindo o programa “Persona”. Isso foi lá por 2004 a 2007. A cena foi o encontro do ídolo com um dos fãs mais chatos que ele deve ter tido.
Quando acertei a gravação com a família dele, lembrei da minha época de criança, quando Fedato era proprietário da maior loja de artigos esportivos de Curitiba – A Fedato Sportes- aliás, a única em Curitiba que vendia quase tudo de material esportivo. Depois surgiu a AZ de Espadas, como concorrente. Mas continuei frequentando a Fedato Esportes, por razões óbvias.
Quando não tinha nada para comprar, arrumava alguma coisa para ir ao centro da cidade, mas que terminava com o programa especial na Ébano Pereira, endereço da Loja Fedato Sportes. Ficava sondando a vitrine da loja só para ver se ele estava ali pela frente. Algumas vezes dei sorte. Quando isso acontecia, entrava e arrumava uma desculpa para chegar perto de Fedato. Timidamente pedia um autografo e ia embora. Devo ter conseguido uns 10 autógrafos. Tive todos eles por um longo período. Nem me passava pela cabeça que ele devia se referir a mim como o menino dos autógrafos. Sem dizer nada, apenas sorrindo, ele pegava um pedaço de papel e fazia um rabisco.
A última vez que isso aconteceu, foi quando ele me viu entrando na loja e como já estava perto do balcão, puxou uma folha de papel e antes que chegasse perto e pedisse o autógrafo, esticou o braço e me entregou o papel já com o rabisco do seu nome. Fiquei com vergonha e nunca mais voltei. Por um bom tempo nem passava na frente da loja. Quando a saudades batia, me dava por satisfeito fazendo plantão do outro lado da calçada, em frente das Americanas, na Ébano Pereira.
Nunca vi Fedato jogar. Passei a frequentar estádio anos depois da aposentadoria dele. Nico e Bequinha já formavam a nossa dupla de zagueiros. Precisamente Nico, o camisa 2 da zaga Coxa.
Quando entrei na casa de Fedato para a entrevista pela tv, pensei em contar esta história e me identificar como o menino dos autógrafos, mas já com alguns problemas de saúde, achei melhor poupá-lo deste exercício de buscar pela memória que para ele, imagino, seria difícil. É que de minha parte também ainda restava um pouco da vergonha que passei quando me deu o autógrafo pela última vez.
Passei a entrevista inteira pensando nesta passagem e de todo aquele período. Tentando imaginar como seria o sentimento de um craque nos anos 40 e 50.
Fizemos uma conversa de idas e vindas pelo futebol moderno e da época que jogou. Saí dali com a certeza que no mínimo vivemos dois períodos muito, mas muito distintos. O que na verdade não é novidade para ninguém. Mesmo não tendo vivido o futebol destes anos de 40 e 50, acho mais mágico, mais bonito, mais romântico que o de hoje. Concluímos que o futebol de hoje deveria ganhar outro nome. A expressão FUTEBOL vai para a prateleira das velhas e boas histórias daqueles tempos. É que as imagens que alimento desta época, também são em preto e branco.
O texto acima foi publicado aqui mesmo no COXAnautas em outra oportunidade, há muitos anos. Repito motivado por uma conversa que acabou não sendo terminada, com os amigos André Ramiro e Luis Buquera, que me levou novamente a comparar ídolos daquele período com os de agora. Pra não citar nomes e perder tempo, me convenço cada vez mais que começo a destoar de um contexto que avança para a falta de qualidade e uma aceitação sem contestação com a mediocridade que me incomoda absurdamente, cada vez mais.
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