Arquibancada
O ex-atacante do Flamengo, Emerson Sheik, me deu hoje a dimensão exata do nosso tamanho. Nenhuma surpresa, apenas digamos que Sheik me confirmou o que já sei há muito tempo.
Num programa de tv, depois de uma partida destas de fim de ano, de confraternização, colocaram no ar uma entrevista gravada com o jogador. Sheik conversava com um repórter do Sportv, se lamentando da falta de sorte e de oportunidade, que segundo ele não teve no Flamengo este ano. Não foi um bom ano, mas garantiu na entrevista que está trabalhando para ter um 2017 bem melhor.
Em tom de despedida agradeceu ao Flamengo, à torcida pela acolhida, pediu desculpas por não ter correspondido à altura, e que estava indo embora para um time também grande. Foi a única informação que deu, apesar da insistência do repórter.
Dia 31 vence seu contrato com o Flamengo, sem chance de renovação, segundo o jogador. Principalmente porque já estava negociando com este outro clube grande, segundo ele, a sua nova casa em 2017.
Tudo bem, Sheik hoje já não é assim um sonho de consumo, mas convenhamos, para nós seria uma mão na roda.
Ato falho, me peguei - e sempre me pego – deixando escapar que bem que poderia ser o Coritiba o clube a ousar a trazer Sheik para vestir o manto sagrado. Meus olhos cresceram diante desta possibilidade, mesmo Sheik não sendo a grande estrela que já foi.
Imediatamente acordei do sonho quando ele disse que está indo para um clube que estava montando um time para papar títulos. Logo vi que nem de longe seria o Coritiba. Afinal, há anos nossos objetivos são outros. Sheik não atenderia um convite de Bacellar, para ajudar o time a ficar entre os 4 primeiros do Ruralzão, a não cair no brasileiro e na Copa do Brasil, vamos ver no que vai dar. Não seriam os belos olhos de Bacellar ou seu cartório qeu trariam Sheik para brigar pelo Coritiba.
Mais adiante, ainda ouvindo a entrevista, confesso que até me deu uma coisa ruim, porque a ficha caiu. é que ainda sonho sonhos que acabam virando pesadelo. Ainda me iludo que um dia terei um clube grande. Mas é o que me resta: sonhar.
O Coritiba não pode perder o DNA de time que sonha grande. Quando isso já não existir mais, aí a vaca terá ido para o brejo. Esta conversa de bi-brasileiro, com estes times, me lembra o ano passado quando um dos nossos dirigentes largou esta perola, “que o Coritiba tinha montado um time para brigar pelo título do brasileiro". Piada quando é coma gente, dói. Rir da própria desgraça não é assim tão divertido. Rimos para não chorar.
Outro dia encontrei um amigo que há algum tempo não via. Ele vestia a camisa número um do uniforme oficial. Elogiei e ele prontamente me respondeu: “estou usando para não esquecer para que time torço, porque no campo já faz muito tempo que não vou”. Estamos assim, já desmemoriados, fazendo força para não esquecer as cores, o estádio, o nome do time...
Emerson Sheik não vem, não. Nem ele nem ninguém. Bom seria, não é? Uns três ou quatro jogadores, quem sabe daqueles de fazer a gente achar que com estes caras sim, dá pra sonhar com algo mais ousado.
Sheik me alimentou por alguns segundos este sonho. Quando ele ainda falava que estava saindo do Flamengo e não podia revelar o nome do clube novo. Por alguns instantes, sonhei com um Coritiba de qualidade, daqueles de deixar a gente pensando em algo grande, daquele Coritiba que deixa a gente orgulhoso. Sonho daqueles de gente grande mesmo.
Pior que isso é a gente reclamar há muito tempo, das mesmas coisas e não ser sequer levado em conta. Ver as prateleiras dos melhores produtos sumir do mercado. O estoque vai acabando, e como em anos anteriores, ficaremos com a rapa do tacho. Com os desprezados, os recusados, os que ninguém quer. Estamos igual a prateleira de mercado de bairro, com produtos de quinta categoria: baratos, custa pouco, mas só enche a barriga e se ainda der um pouco de azar, arruma uma infecção intestinal.
Viver de sonhos não faz muito bem, não. Assim andamos nós, a cada começo de temporada ouvindo a mesma ladainha: o tal pagamento das dívidas, feitas pelas administrações anteriores que nunca terminam e impedem de comprar uma agulha.
O culpado é sempre do outro.
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