Arquibancada
A Copa de 82 me perece ter sido o cenário da última grande seleção brasileira, que com ela também se foram meus sonhos por seleção brasileira. Foi daí em diante que praticamente desisti de torcer por dois times (Coritiba e Seleção).
Foi assim que descobri que é impossível sustentar dois amores no futebol. De 86 pra cá, o futebol de seleções ganhou outro sentido na minha vida de torcedor. O interesse e o grande envolvimento, acabaram dando lugar a quase o desprezo total. Acompanho a seleção apenas porque gosto de futebol, mas cada vez com menos interesse. O espirito de torcedor fica cada vez menor. Copa do Mundo tem outra conotação: táticas, experiências, surpresas, talentos novos, desfile de astros, o glamour da competição, que é mesmo imbatível. Impossível gostar de futebol e desprezar uma Copa do Mundo. Mas seleção brasileira precisa se reinventar para me reconquistar.
Dias antes da desclassificação daquela Copa, na partida contra a Itália, eu e meu pai assistíamos pela tv o noticiário do dia da seleção. Em casa tínhamos na parede da sala um pôster com a foto da seleção de Telê, com Sócrates, Zico, Falcão, Junior, Leandro... uma baita seleção... talvez a última grande geração de craques que vi jogar.
Em meio àquele noticiário, depois de dias pregado ali na parede da sala de casa, o pôster se desprega e cai. Meu pai me olha levantando o pôster do chão e me diz: “isso é mal sinal”! Claro, coisa de torcedor. Mas não deu outra. Dias depois o Brasil era desclassificado da Copa da Espanha, depois de uma bela campanha nas fases anteriores, jogando um futebol quase irretocável. O pôster no chão foi mesmo um sinal.
Há uns dois anos, tenho pregado numa das paredes onde trabalho aqui em casa, uma flâmula do Coxa. Temos uma cumplicidade, eu e ela. Conversamos. Trato como se fosse a entidade representativa, com endereço fixo na Ubaldino do Amaral, Amâncio Mouro e Mauá, no Alto da Glória.
Estes dias, quando me preparava para trabalhar, para arrematar um texto, quando percebo que minha companheira não estava mais no seu lugar de sempre.
Como naquele dia a faxineira esteve em casa, deduzi que poderia ter mexido e tirado do lugar, mas estranhei porque a moça não é destas coisas. Me levantei, já dando busca pela minha mesa de trabalho e atrás dela vejo minha flâmula jogada no chão. Imediatamente me veio a história da Copa de 82. Só que com uma grande diferença. O Coritiba anda mesmo passando bem longe de sequer lembrar aquela seleção. Não há também no momento uma disputa em questão, mas sim um insucesso de anos, que se arrastam por exatos cinco anos e que não desencarna de nós.
Prefiro então acreditar que é efeito contrário. Ela precisa sair dali. A flâmula se jogou da parede, para ganhar novos ares. Minha flâmula vai voltar à parede, uma outra parede, melhor pregada, para resistir mais alguns anos , só para ver se desta vez as coisas vão. Ou troco de flâmula? Compro uma nova, para junto com o ano, torcer por melhores dias?
Sei que se não houver trabalho pra isso, esta conversa toda de nada vai valer, não terá efeito algum. Mas fiz minha parte. Faça também a sua. Comece a acreditar em mandinga de torcedor para ver se pelo menos assim as coisas mudam.
O futebol é um dos melhores exemplos destes ciclos de tempos. De contagem do tempo, como o ano, como são os meses, as semanas. As coisas precisam ser planejadas dentro de datas, num ciclo que se fecha num ano.
Um novo ano nos espera e por enquanto não temos muito no que acreditar. Assim como um pôster que derrubou uma seleção imbatível em 82, preciso acreditar que uma flâmula pode nos salvar.
Bom e feliz 2017 para nós!
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