Arquibancada
Levar filho ao estádio de futebol é um compromisso muito sério. Pra ele pode ser uma experiência inesquecível. A maioria define seu caminho neste primeiro contato, neste mundo que passa a ser mágico para muitos. Um mundo que passa a habitar seus sonhos e durante muito tempo faz de tudo para de alguma forma também fazer parte daquilo tudo. O efeito geralmente é devastador e fica tatuado para sempre. Se a gente deixa o futebol entrar na vida da gente, não sai mais. Na minha vida, já disse aqui, entrou aos três anos e nunca mais saiu.
Passei pro meu filho, que completa 30 anos e minha filha, que ainda vai fazer 8. Neles parece ter o mesmo efeito que teve em mim, mas de maneira diferente porque as pessoas são diferentes.
Mesmo nesta fase melancólica que vive o Coritiba, minha filha me acompanhou em algumas partidas. Recentemente se desinteressou, mas não perde o contato. Sempre pergunta sobre resultados, se empolga com vitórias, provoca adversários na escola, e se entristece nas derrotas. Agora, parece estar pronta para voltar, se o clube e o time ajudarem.
Futebol é quase sempre herança de família. Vem de casa. A gente acaba se mirando no que vê, no que nos mostram, como os pais se comportam, mas determinante mesmo é a forma como o clube é administrado naquele período que a gente começa a se interessar.
Um clube de grande torcida, necessariamente precisa ser um clube identificado com vitórias, com títulos. E não é o caminho que faz o Coritiba nos últimos anos, em suas últimas administrações.
Não sou estudioso deste comportamento, mas percebo que hoje temos dois perfis de torcedores: o jovem, que tem ídolos recentes como Cleber Arado, Tostão, Alex, Pachequinho e Wilson... e uma geração mais velha, que se apega ao passado que ficou bem para trás, com Krueger, Passarinho, Nilo, Celio, Rafael, Hermes, Negreiros Zé Roberto, Abatia, Paquito etc.
O Coritiba tem uma enorme dívida recente na formação de novos torcedores, por razões óbvias. Estamos diminuindo em número de torcedores e isso precisa ser retomado imediatamente. Precisa ser projeto de médio prazo e que pode ser uma das bandeiras da administração que assume o clube ano que vem.
Com o nosso brilhante DNA de clube grande e vencedor, acredito que em poucos anos o Coritiba pode retomar seu crescimento com o que ainda é o seu maior patrimônio, a torcida. Mas esta retomada só me parece possível com vitórias e consequente conquista de títulos.
Esta força parece invisível, anda escondida, mas que ainda pode ser percebida na movimentação que surge quando o time passa pelo memento que vive agora, por exemplo. Já há um barulho grande de torcedores, para a partida contra o Avaí, numa mobilização que deve dar um recorde de público do Coritiba, neste Brasileiro. E assim será em caso de vitória, na partida seguinte, em casa, contra a Ponte Preta. Assim se constrói novos torcedores. Entendo que pode ser um recomeço.
Mesmo tendo conseguido ser a pior administração da história recente do Coritiba, quem sabe com um pouco de sorte e boa vontade, a “Coxa-Maior” possa entregar o clube aos futuros dirigentes, com um problema pelo menos em vias de solução. Trazer o torcedor de volta e formar novos frequentadores do Couto.
Gostaria de ter argumentos suficientes, para poder fazer minha filha voltar a frequentar o Couto, assim como frequentei o Belfort Duarte em tempos de glória.
Já passou da hora desta nova geração sentir o gostinho de torcer por um clube grande, no mínimo com uma história bonita pra ser contada.
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