Arquibancada
Tá certo que é o processo natural da vida, a gente sabe disso, mas o ano de 2019 tem nos castigado com perdas enormes. Nem bem digerimos a partida de Krüger, agora se vai Nico. Antes Jairo e um pouco antes, Célio... sem falar de Abatia, Zé Roberto Toby, em anos anteriores, mas ainda muito recente.
Nomes que jamais serão esquecidos, mesmo por quem não os viu jogar.
De Nico tenho ainda a clara lembrança da dupla de zaga que fez com Bequinha. Dois biotipos e estilos diferentes. Nico era forte, sem altura como os zagueiros de hoje, mas sabia muito da posição. Bequinha era magricelo, um pouco mais alto, mais clássico.
Os dois vieram depois de nomes que não vi jogar, só ouvi falar: Fedato e Carazai.
Fedato conheci mais tarde, quando já era comerciante, com quem vivi uma história impagável, contada no livro que lancei em outubro do ano passado.
Com Nico estive duas vezes, de quem ouvi também duas vezes um enorme “ não “. Do tamanho do sotaque que herdou dos seus descendentes italianos.
Foi quando eu era responsável pelo quadro “onde anda você “ , levado ao ar nos bons tempos de Rede OM Brasil, depois CNT, na mesa redonda, programa apresentado por Lombardi Jr.
Tentei gravar duas vezes com Nico que me driblou as duas vezes, fugindo da gravação. O italiano era muito avesso a estas coisas de entrevista.
Krüger, Jairo e Bequinha contaram suas histórias no “ onde anda você “. Nico não. De quem ainda até hoje tenho engasgada a primeira pergunta que queria fazer na entrevista que não aconteceu.
Primeiro vale lembrar que era muito comum no futebol daquela época, todo atleta ter uma outra ocupação. Como Krüger foi ourives, Nico foi açougueiro. Diziam que matava porco à soco.
Nico se foi e me deixou sem a resposta. Pelo telefone, quando tentei marcar pela segunda vez a entrevista, fiz a pergunta. Disse eu, meio sem graça, - É verdade que você matava porco à soco? Ele deu uma meia risada confirmando, mas não quiz deixar a história gravada, pelo menos pra mim.
Com Nico, Bequinha, Célio e Krüger e muitos outros, se vão várias historias que os Helênicos tiveram o cuidado de registrar.
Jairo conta uma outra história, mais recente, mas ainda do tempo de um futebol ainda romântico, já também bem distante do que temos hoje.
Estas despedidas são sempre doídas, principalmente aos familiares. Nós, torcedores, ficamos com a imagem do ídolo que de alguma forma fica na história do clube e não se perde.
O pior destas perdas, neste momento que vive o Coritiba, é admitir a pobreza de agora, que nos deixa quase sem uma boa história para ser contada. Lembrar de personagens como Nico é lembrar de um tempo vitorioso.
Há pelo menos uns bons anos, o Coritiba criou um buraco negro em sua história. Que não tratará boa lembrança, se é que ainda estamos em tempo de recomeçar...
Pelo menos vamos para a terceira rodada do brasileiro, já bem melhor que no ano passado.
De Nico tento buscar as melhores lembranças que tenho. Com elas acho a gratidão, porque foi também com ele que aprendi a tomar gosto pelo futebol.
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