Arquibancada
Os comentários da coluna anterior, publicada aqui no COXAnautas, me fizeram novas provocações. Lembrei (COM ORGULHO) que nunca saí no braço com atleticano. Nunca passamos de zoações, mesmo em atletiba onde dividimos calçadas e até ônibus. Numa época que andar com a camisa do clube e de bandeira na mão era comum.
A troca de olhares, com respeito e muita gozação eram as armas usadas. Desde a saída do Couto, passando pelo Colégio Estadual, alcançando o Passeio Público. De um lado da calçada uma torcida, e do outro lado a outra. Se seguiam na escola, no dia seguinte. Segunda-feria pós-atletiba com vitória, era um dia esperado.
Os Atletibas começavam na semana anterior ao jogo. Quando a decisão do campeonato era com o clássico, a festa seguia por mais uma semana.
A rede social da época era a Boca Maldita, na XV, onde muitas emissoras de rádio passaram a ter um repórter que dali fazia ao vivo sua participação, geralmente com entrevistas, ainda repercutindo o clássico.
Como foi uma época de supremacia Coxa - por isso a matemática ainda nos favorece na contagem de vitórias, títulos, gols etc. Cansamos de comemorar e aí mora a mágoa atleticana destilada até hoje, ainda bem indigesta para alguns. O que justifica a manutenção da rivalidade até hoje, acredito eu.
Tive um vizinho, o único atleticano numa rua recheada de Coxas. No título de 70, ele voltou de Paranaguá gritando pela rua, comemorando o feito. Gritava no portão da casa de cada um, sem que fosse correspondido. A segunda-feira amanheceu com a bandeira dele hasteada no portão. Era uma bandeira grande. Ninguém ousou arrancar, ou se manifestar, mas nenhum de nós deu moral pro título. Aliás, título estadual que hoje eles desprezam.
Como todos na rua se ocupavam com escola pela manhã, na tarde daquele dia, nosso futebol de rua foi feito com a normalidade de sempre, sem que o vizinho atleticano fosse chamado. Apareceu na janela algumas vezes, esperando ser ovacionado, mas não. Além de ignorado também não foi convidado para o rachão. E assim nos mantivemos, com a bandeira hasteada, mas com toda a indiferença possivel.
Nos anos 80, morei no Jardim Ambiental do Alto da XV. Período que ia caminhando ao Couto. Numa destas idas encontrei o vizinho atleticano pendurado numa janela de prédio nas imediações. Gritou lá de cima:
-Ainda nesta lida com futebol, Sérgio? me perguntou sorrindo.
- Sim, é tradição, não é moda, respondi. E você?.perguntei
- Faz tempo que não vou mais a jogo, disse ele.
- Entendo… que pena!.
Estas histórias compõem a herança e o sentimento de rivalidade que se mantém. A realidade de hoje que só agora parece nos colocar de volta para bater de frente com eles, tem uma cara de daqui a algum tempo colocar novamente gasolina nesta instituição que é o atletiba. O provável renascimento deve compor o grupo dos aflitos, com o principal morador do Alto da Glória, contra o principal inquilino do estado na baixada.
Atletiba é um barulho no futebol que moveu a minha geração, embora nossos adversários de verdade eram os grandes do eixo Rio/São Paulo, como eles pregam nestes últimos anos.
Mas parece que mesmo aos poucos, e não no tempo que gostaríamos, mas estamos chegando, de novo.
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