Arquibancada
Pelo menos um sentimento parece se sobrepor aos muitos outros sentimentos do torcedor, por um clube de futebol: a paixão, que vai do céu ao inferno e oscila conforme o desempenho do time. As reações são expostas conforme cada um sente neste sobe e desce, muito comum no futebol de hoje.
Na maioria, vejo que esta relação é como se fosse entre duas pessoas, como se o clube fosse capaz de retribuir ou de responder a este sentimento. E como isso não acontece, o sentimento é transferido aos dirigentes, a quem manda. E não está errado, afinal são eles que dão os rumos e nos colocam em situações de felicidade ou tristeza. Os erros e acertos de uma administração, dão o rumo de cada clube.
Mas há nesta relação uma peculiaridade muito típica de cada torcida. Um comportamento só seu, que forma o sentimento maior que é o que a gente sente no estádio, seja em partidas com público grande ou pequeno. É a energia do todo, que determina o coração, a alma do time em campo. Cria uma aura e aquilo parece ser a personalidade de um clube de futebol. Por menor que seja, por mais insignificante que seja o clube, cada um tem a sua alma, o seu jeito. Como nós - grandes que fomos até recentemente - temos a nossa alma, a nossa personalidade criada nestes 106 anos de história.
Como agora, quando é difícil admitir todo este estado de coisas, porque este Coritiba que temos hoje não é a nossa cara e nem a cara do que é o clube, de tudo que foi construído nestes anos todos. E, é aí que mora o descontentamento: na alma somos uma coisa, mas hoje somos outra. Não há casamento entre arquibancada e gabinetes. A administração do Coritiba não é nem de longe o que sempre fomos e ainda sonhamos em ser e queremos para o clube. Estamos como num cabo de guerra, eles puxam de um lado e nós do outro, em sentido contrário.
O Vasco por exemplo, é a cara de Eurico Miranda. Sempre foi. Para nós, que vemos esta história do Vasco daqui de fora, não é possível entender como recolocaram no comando um homem que visivelmente só prejudicou o clube se beneficiando dele e dando muito pouco. Assim como o Corinthians que já foi a cara de Vicente Mateus, durante anos, como nós que fomos a cara de Evangelino.
Não estou falando de boa ou má administração. Trata-se de empatia de dirigente e torcida. Em toda a nossa história, apenas Evangelino conseguiu isso. Outros presidentes que vieram antes e ajudaram a construir o Coritiba, mas como Evangelino ainda não apareceu. Mesmo no seu último mandato, quando não repetiu o sucesso de anos anteriores, poucos ousaram criticar seu trabalho, especialmente porque muito mais fez do que deixou de fazer.
Eurico, Vivente Matheus e Mário Celso Petraglia, são figuras polêmicas. Para qualquer Coxa-Branca, com o mínimo de bom senso, estes nomes passariam longe da porta de nosso clube, mas para seus torcedores não, eles são “os caras”.
Por ter um único sentimento - a paixão no comando desta relação - adoramos ou odiamos estas pessoas.
Ultimamente o ódio tem regido esta relação no Coritiba. Todos os nomes que lá estão - sem exceção - passam longe de qualquer sonho da torcida. Não há mais o casamento de almas. Não é este o nosso Coritiba, não foi este Coritiba que vimos nascer e que ajudamos a criar, com sua personalidade forte, vencedora, sempre brigando pelo melhor e maior.
A coisa está feia e mesmo assim há anos nos acostumamos com este pouco que nos dão e do muito que nos tiram. Hoje brigamos pela parte de baixo da tabela do brasileiro, o pedaço menor de uma alegria que algum clube pode oferecer ao seu torcedor. Mais uma vez vamos nos dar por satisfeitos e somos capazes até de comemorar caso consiga fugir de mais um rebaixamento. Bateremos no peito e vamos dizer: “aqui é Coritiba”! Já esquecemos o “papelão” que o time fez no regional deste ano e esqueceremos novamente mais um fracasso e mais um vexame no brasileiro. Já nos acostumamos em ter pouco, comportamento típico de clube pequeno.
Conseguiram mudar a nossa personalidade, estão mudando nosso caráter vencedor.
Se não é assim, então pare e pense no que vivemos até agora. Tá certo que o regional não é lá estas coisas, mas desta vez ficamos no meio do caminho por conta do mau planejamento e perdemos o título para uma equipe do interior, mas melhor organizada que a nossa. Por conta dos muitos erros (que disseram não haveria mais), disputamos a Copa do Brasil apenas para cumprir tabela, porque priorizamos o não rebaixamento no Brasileiro. Coisa pequena, desejo pobre.
A aura das últimas partidas, em nossa casa, já não é mais a mesma. Um clima soturno anda nos rondando. Mesmo com casa cheia, a torcida não vibra mais com o time como antes. O tesão está se perdendo. Hoje, o Couto Pereira é frequentado por um grupo de 15 ou 14 mil apaixonados.Somos mais que isso. Somos uma família.
Isso tudo precisa mudar. Em algum lugar precisamos achar de volta este prazer de vencer que ficou em algum lugar. Precisamos reaprender a gostar de sonhar com coisas maiores. Reencontrar o velho e bom Coritiba de guerra.
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