Arquibancada
Não está fácil falar do Coritiba sem se lamentar e inevitavelmente cair na choradeira, o que vem cansando o torcedor, principalmente porque os problemas se acumulam em anos de lamentações e, sendo otimista, temos pelo menos uma década de choradeira.
E pra fugir disso, o COXAnautas têm sido campeão em alternativas com debates de aprofundamento e principalmente oferecendo uma leitura mais periférica, ajudando o torcedor a entender melhor, ou ao mnos para oferecer um outro ângulo de leitura de todos os problemas que vive o clube, ou até para ajudar a pensar de outra forma. Pena que em nenhum dos quadros as conclusões são otimistas. Os números, scaut de desempenhos, de time e de avaliações individuais, não são boas, embora bastante reais. Retratam não só a inconstância de atletas, do grupo, com avaliações mais apuradas de analista e também do torcedor mais passional. Talvez por isso alguns números sejam questionáveis.
Sem querer me tornar cansativo revelando o minucioso trabalho da editoria COXAnautas (Marcelo Carneiro e Ricardo Honório), os números revelados na última live, “ Uma série b abaixo da média” é um banquete ao torcedor mais interessado no aprofundamento das coisas do Coritiba.
Ali, é possível entender melhor a gangorra que vive o time e o clube, há anos e principalmente agora, na era Treecorp, onde as escavações paleontológicas acharam novos sinais de uma civilização das profundezas e que ameaça sobrevida e pode comprometer o que seria o renascimento de um clube de futebol.
Não menos importante, a leitura feita por André Ramiro, Luiz Buquera e Ronaldo Anzanello na live desta quinta-feira (23, do Unidos Pela Distância, que brincou de forma saudável com um dos mistérios do futebol, especialmente brasleiro, a superstição, as manias e os amuletos de todo torcedor. Coisa já tão enraizada no futebol nacional, trazendo ao torcedor Coxa um pouco do que Nelson Rodrigues entendia como a periferia do futebol, com suas famosas frases, uma delas que "se mandinga ganhasse jogo, o futebol baiano seria sempre campeão", entre outras tantas concebidas em suas crônicas.
Fico imaginando Nelson Rodrigues, ainda vivo, Coxa Branca, como foi torcedor do Fluminense, vendo este Coritiba que nos dão para torcer. Como dramaturgo, veria o teatro aqui instalado. Nelson nos ajudaria a ler este Coritiba nesta encenação da bola,tornando um minuto de jogo em uma bela história, transformando o trágico em épico, o herói que não temos em vilão.
O pouco caso de Nelson com os informativos, como quem perdeu o pênalti, quem foi o goleiro salvador da pátria, certamente nos ajudaria a diminuir a dor que tem sido ver o Coritiba em campo, em cada uma das competições que disputa. Porque a gente sabe que não tem mandinga que nos tire o frio na barriga quando a hora do jogo vai chegando, provocado pelo inesperado, pelo imponderável, por mais um vexame.
Nelson Rodrigues escreveu que o pior cego é o que só vê a bola.Preferia observar o grito da torcida, a apatia do “craque” às vezes a canalhice da derrota. Nelson lia as entrelinhas de uma partida. No Coritiba, faria mestrado, doutorado em futebol. Não que sejamos tudo isso, um Nelson Rodrigues, mas se temos algo para nos gabar, é ostentar a farta peça de sociologia que nos tornamos para cronistas, como foi Nelson Rodrigues.
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