Arquibancada
Dividi algumas vezes a arquibancada do Couto com minha mãe, dona Luiza.
Na verdade formávamos caravanas ao Couto, nas tardes de domingo. Alguns em dia das mães. Tias, primos, tios... muitas vezes formando batalhões de mais de 15 pessoas.
Claro que em meio a tudo isso, sobram muitas histórias. Claro que todo filho tem em sua mãe a melhor de todas. Isso também pode ser chamado de amor. Perdi a minha recentemente, com 86 anos bem vividos, intensos e muitos deles no Alto da Glória.
Dia de jogo do Coritiba, se não fosse no Couto, ela se trancava em seu quarto, orando, com velas acessas nos 90 minutos. De lá não saia nem no intervalo e nem pra perguntar quanto estava o jogo.
Minha mãe não nos levava ao parque nas tardes de domingo. Nosso endereço sempre foi a Ubaldino ou a Amâncio Moro, nossas entradas da sorte no Alto da Glória. Na arquibancada o lugar preferido era onde hoje é destinado à torcida adversária.
Vimos juntos grandes jogos com grandes vitórias e doídas derrotas, nestes domingos de Couto.
Depois de algum tempo, se dedicou apenas ao seu pequeno espaço, e em casa, se recolhida em seu quarto, se agarrando nos seus santos.
Semana de jogo importante, metralhava os filhos e netos de perguntas sobre o jogo.
Até que um dia não resistiu e cedeu voltando ao Couto depois de anos. Foi num sábado à tarde, num Coritiba x Vasco. Foi com minhas irmãs.
Assim como ela, o Couto era outro, a torcida e o time também. Ficou tão nervosa como antes. Não deu 10 minutos de jogo, estádio cheio, portões fechados, ela decide sair. Não tinha como. Tanto fez que convenceu os funcionários da catraca a abrirem pra ela sair. Argumentou que precisava ir pra casa e em seu quarto orar e acender suas velas. Vencemos de 3 x 1, se não me engano.
Saudades imensa, dona Luiza! Hoje, domingo dia das mães, me reúno com minhas irmãs, um pedaço de minha mãe em cada uma delas. Do Coxa também.
Meu respeito e um grande abraço em todas as mães que nos dão a honra de dividir este espaço.
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Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)