Arquibancada
Todo clube de futebol quer e sabe da necessidade de consolidar uma filosofia mantendo treinadores no cargo, mas a relação sempre chega a um ponto onde o desgaste é inevitável e acaba. Sempre foi assim e no Coritiba não é diferente.
Na era Vilsão, desde o início da gestão, em 2009, até 2010, o Coxa teve apenas dois treinadores: Ney Franco e Marcelo Oliveira. Ainda assim, a troca só aconteceu porque Ney aceitou o convite para trabalhar nas categorias de base da Seleção Brasileira.
No mesmo ano, quando foi anunciado oficialmente como treinador do Coritiba, Marcelo Oliveira foi, entre os clubes da Série A, o terceiro técnico que ficou mais tempo no cargo, atrás apenas de Felipão no Palmeiras e Tite, que assumiu o Corinthians em outubro de 2010. Há casos inexplicáveis como Tencati no Londrina, por exemplo, relação que acabou recentemente depois de anos.
No Coritiba, Eduardo Batista começa uma nova era (esperamos). Não há como fugir do sentimento de expectativa na chegada de mais um treinador.
Não há como fugir de um sentimento, mesmo entre o mais otimista torcedor: fica sempre uma pontinha de desconfiança. É que estamos calejados de abrir e fechar porta para entradas e saídas de treinadores que chegam e saem. Uns que nem deveriam ter vindo, outros que deixam alguma lembrança boa. Caso de Marcelo Oliveira, que saiu mais aplaudido do que odiado, antes de ser o treinador que colocou o Coritiba de volta na segunda divisão, em 2017. Coisa do futebol. Marcelo não podia evitar o que já estava escrito há anos. Apenas uma coincidência do destino, suponho.
Agora temos um novo treinador. Eduardo Batista que chega com o nome compondo o grupo da nova geração de treinadores Brasileiros.
Meu caro Eduardo, não sei se te disseram, mas somos chatos. Exigentes acima de tudo. Somos tão chatos que na terça-feira, com você sentado nos camarotes, ainda não oficializado como contratado do Coxa, tendo o primeiro contato com o clube, assistindo Coritiba x Atlético Go, já tinha torcedor te responsabilizando pelo empate de 0 x 0 no primeiro tempo da partida.
Você vai dizer como todos os outros treinadores que está vacinado, que sabe como lidar com isso, que este comportamento é assim mesmo e que torcedor é igual em qualquer lugar. Não é, aqui não. Somos diferentes. Uma torcida que você vai amar ou nunca mais querer nos ver, se não der certo. E pra não dar certo, não precisa de muito. Você vai sentir, você vai ver. Não se trata de gritos vindos da arquibancada. É energia. Você vai sentir, se já não sentiu algo diferente quando pisou no Couto pela primeira vez, nesta terca-feira passada.
Veja bem, não se trata de pressão. Não quero assustá-lo. Na verdade te peço um pouco de paciência. A mesma paciência que sabemos que precisamos ter com você, porque por aqui a coisa anda mesmo muito feia. Estamos vendo de tudo, menos futebol.
E se você já sentiu este clima diferente, é porque estamos mesmo muito cheios de tudo. Parecemos velho ranzinza que reclama de tudo. É que são anos assim. E assim, não há torcedor que aguente.
Somos mal acostumados. Você sabe da nossa história, não preciso ocupar seu tempo com isso. Pois então... Claro que torcemos pelo seu sucesso. Todos ganhamos com ele. Mas mesmo que juntos estejamos fechados pelo mesmo propósito, você precisa saber. Aqui somos uma torcida diferente porque acompanhamos quem sabe uma manifestação natural, que é da própria cidade, da gente de Curitiba, que você já deve ter ouvido falar, tem suas peculiaridades, com comportamentos bons e ruins, às vezes meio anti-social.
Quanto ao Coritiba, saiba que vivemos um momento único. Tem acontecido uma debandada de torcedores por conta disso.
Em casa, tenho um exemplo disso. Minha filha de 9 anos, que sempre gostou de me acompanhar aos jogos, passou a recusar meus convites. Nos domingos de jogo no Couto, prefere sair com a mãe. Uma destas vezes voltou triste. Por mim e por ela. Por ela porque foi “zoada” na rua e de mim porque sabia que mais uma derrota me tiraria o humor. Com a história dela, se somam muitas outras histórias tristes de desinteresse pelo futebol, especialmente pelo Coritiba.
Estão acabando com uma geração de futuros torcedores. A garotada que deveria ocupar as arquibancadas mais tarde, não quer mais brincar de futebol.
Eduardo, você tem uma batata quente na mão. Se não for pedir demais, ajuda a gente a sair desta, vai! Vista a nossa camisa, mas de coração. Mesmo que o Coritiba não volte a ser o velho e bom time vencedor de outrora, pelo menos ganhamos mais um torcedor.
Tá faltando alguém pra incendiar este time que parece vestir camisa de outro clube. Não reconhecemos mais o nosso velho e bom Coritiba. Isso precisa ser recuperado. Nos dando isso, já estará bem bom.
Quem sabe você consiga refazer o casamento entre gramado e arquibancada. Fazendo isso, você já nos terá do seu lado.
Gostaria de ver o seu nome se juntando ao de outros treinadores que marcaram história por aqui.
Boa sorte, seja muito bem-vindo ao alto de muitas glórias!
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