Arquibancada
Eu não sei dizer direito porque gosto de futebol. Não deveria gostar, se levar em conta que o time da gente deve ser a principal referência. Quem sabe porque nasci numa família que gosta, que me ensinou desde cedo a gostar, ou porque nasci num país que chamaram de “país do futebol”, durante décadas. Gostar de futebol implica em torcer por alguém, adotar um time como todos fazem.
Difícil de largar, gruda como vício. Como fumante que já fui, sei que isso dá muito trabalho. Larguei o cigarro, mas o futebol não. Já tentei não me envolver tanto. Dar uma olhadinha no resultado do jogo é como dar a primeira tragada de leve num cigarro, depois de semanas de abstinência. Acho que fiquei uns cinco anos, só dando umas “tragadinhas de leve”, no Coritiba. Só espiava os resultados, sem nenhum envolvimento. Acabei voltando. Voltei com tudo e justo agora, há uns 8 anos que é só tristeza. Eita vicio maldito que não me larga!
Na próxima edição da TV COXAnautas, teremos um torcedor como convidado. Não vou contar a história dele, pra não estragar a surpresa. Mas torcedor daqueles de pagar promessa, promessa das brabas, daquelas de doer na alma e no corpo. Coisa pra macho, coisa para poucos. A história dele é o retrato da torcida Coxa nestes últimos anos. Porque só nós sabemos quantas velas, quantas promessas acompanham cada rodada do Brasileiro, cada campeonato, cada aproximação da zona de rebaixamento. Acabamos criando trauma disso. Logo será caso para análise de divã.
Fico aqui pensando... torcer nestas condições é muito mais que um vício, mais que amor, paixão, todas estas classificações que dão quando se referem ao torcedor. E olha, nestes meus longos anos de futebol, já vi de tudo, torcedor de tudo quanto é jeito. Tem também os que conseguem se afastar e não voltam mais, que se livram do maldito vício. Conseguem isenção total, não estão nem aí mais para o clube. Estas decisões geralmente são motivadas por uma grande decepção, assim como anda vivendo a torcida Coxa.
Como disse um comentarista aqui do site, quando você acha que vai ganhar, o time perde, quando você acha que vai perder, o time ganha. Só que ultimamente andamos colecionando mais derrotas que vitórias. Temos um clube especialista em ressuscitar mortos. Temos um time que espanta torcida. E mesmo assim, continuamos aqui, por amor, paixão, teimosia... sei lá! Até com raiva torcemos, mas depois de uns dias a coisa passa e voltamos a acreditar. Sempre achando que “agora a coisa vai”. E não “vai”, não tem ido e parece que não vai sair disso.
Dias atrás me referi ao novo torcedor, o garoto que começa a se interessar por futebol e demora um pouco para escolher um time. Este perfil anda passando longe do Alto da Glória. Isso também explica a queda no número de torcedores, como também no número de sócios adimplentes. A frase do filho de um amigo me chamou atenção – “não torço pro Coxa porque não quero sofrer, pai”!
Mesmo assim, ao Coritiba ainda resta uma torcida fiel, mas já muito sofrida, mal tratada, que já não aguenta mais isto que nos dão para torcer.
Todo mundo sabe disso. Menos eles, os dirigentes, que se repetem nos mesmo erros e agem como se tudo fizesse parte de uma rotina já prevista, com a naturalidade irritante da falta de atitude.
Do lado, temos o jogador de futebol que é muito mimado, mal informado sobre o mundo, sobre dificuldades da vida. Enquanto tiver dirigentes e empresários passando a mão na cabeça de quem pensa que joga futebol, teremos isso. Este ciclo viciado num mundo onde só eles vivem: jogadores, dirigentes e empresários. Nós continuamos do lado de cá, reclamando... com eles quietos, porque por enquanto convém. Porque o silêncio também dá a impressão de respeito, mas de fato provoca apenas a irritação.
A opinião dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião do site.
Cada colunista tem sua liberdade de expressão garantida e assinou um termo de uso desse espaço.
Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)