Arquibancada
O Coritiba está pedindo seu carinho. É quase um pedido de desculpas por tudo que ele tem feito de errado nesta relação complicada entre vocês dois. Tá te chamando para uma conversa, pra ver se resolvem estes mal entendidos, e recomeçam uma nova história, zerando tudo, recomeçando mesmo uma nova relação.
Se você topar, apareça para uma conversa nesta quarta-feira, lá mesmo na casa de vocês, na Ubaldino do Amaral, com opções de entrada pela Mauá ou Amâncio Moro. Pede a presença de toda a família Coxa-branca para selar este recomeço.
Se você quer a minha opinião, logo digo que prefiro ficar na minha, sem me manifestar. “Briga de marido e mulher, não se mete a colher”.
Mesmo assim, lá estarei, como marido traído, ainda desconfiado. Aliás, como sempre estive, mesmo não tendo sido correspondido nesta relação já há alguns anos. Mas tudo bem, em nome deste amor que existe entre nós, lá vamos para o Couto de novo.
É, a diretoria está te chamando mais uma vez , agora com preços dos ingressos mais atrativos ainda. A ideia do chamamento é para a torcida comparecer em massa nesta quarta-feira, na partida decisiva contra o Fortaleza.
Prefiro acreditar que lá dentro também apostem que esta relação possa de fato melhorar a partir de agora, mesmo que nada tenha sido feito, aparentemente.
Mas convenhamos, no mínimo é uma atitude corajosa, fazer promoção de ingressos, justamente num momento delicado como este. Isso seria normal e compreensível na decisão contra o Operário, mas agora, em plana crise? Isso é coragem, sim.
Ou mais uma vez estão apostando que com a torcida do lado a coisa muda? Mas não mudou contra o Operário, porque devo acreditar que mudaria agora?
Pela instituição Coritiba, pago o preço e me mando pro Couto. Mesmo que à frente desta relação esteja esta turma que anda nos representando. Só por este motivo, esta convocação já é suspeita, igual as outras tantas que já fizeram.
Francamente, me desculpem a sinceridade, mas no primeiro momento, quando soube da promoção, meu primeiro sentimento foi imaginar aquelas liquidações de estação, com sobra de estoque, com manequins na calçada da loja, com um palhaço na porta, chamando a clientela com um baita megafone. Pior, fechamento de ponto, para entrega a outro proprietário. Mais uma vez, como quando nos chamaram para os descontos de 100% para voltar a ser sócio, e que acabou não sendo o sucesso que imaginaram. Agora, num apelo, quase imploram a volta da torcida. Mas em campo e no comando técnico tudo parece igual.
Uma coisa é inegável: os preços dos ingressos estão de fato bem mais baratos.
Reproduzo aqui a frase usada por um sócio torcedor, usada na semana passada, aqui no "Blog Arquibancada". Jober Santos Barbosa, lembrou que há anos, naquela sequência invicta, quando ele saia de um dos jogos pela Copa do Brasil - provavelmente contra o Atlético-Go, ouviu um torcedor comentando com outro: “cara, tá fácil torcer para o Coritiba”. Pois é, quando é assim o torcedor aparece, sem promoção de ingresso, lota o estádio seja lá a que preço for, só não tolera time ruim, sem esquema tático e técnico, sem jogadores talentosos para vestir a camisa do clube.
Assim, como a coisa está, arrisco dizer que nem com portões abertos o torcedor aparece.
Marquinhos Santos anda abusando da paciência que há tempos está pra lá do limite. Assumir os erros com discurso que precisamos "mudar de postura, corrigir erros", é burro e nada acrescenta, além de irritar ainda mais. Prefiro o silêncio ou poucas palavras. Qualquer coisa, mas não me venha com esta conversa de nova postura e achar erros. Do outro lado tem torcedor que precisa ser respeitado como uma criatura que também pensa.
O cara tá lá desde o ano passado. Fizeram uma longa pré-temporada... isso tudo já dura meses, e só agora descobrem que precisam mudar de comportamento e que têm erros para corrigir?
Se ouvissem a arquibancada, quem sabe já teriam chegado a esta conclusão há mais tempo. A torcida reclama do time desde que o ano começou. Os resultados de agora já eram antecipados em todas as colunas escritas aqui desde janeiro, por mim e vários colegas, e só agora descobrem que a postura não é esta, que existem erros para serem corrigidos? Mais uma conversa furada subestimando a inteligência do torcedor. Prevalece mais uma vez a lei da improvisação, do amadorismo que virou o Coritiba.
Torcedor é chato? Sim, principalmente quando reclama e faz o mesmo coro como agora. A arquibancada fala a mesma língua faz tempo, meus caros diretores e presidente. Já é tempo dos dirigentes de futebol tentarem separar críticas descabidas, das que acrescentam. É bom parar e pensar quando a maioria faz o mesmo coro, quando pedem pela mesma providência.
Sou capaz de enumerar uma série de sugestões feitas aqui, por simples torcedores, que já anunciavam o desastre que se instalou no Alto da Glória.
Meus amigos do conselho, da diretoria, do departamento de futebol e torcedores: não se trata de armar um time “top 10”, com figuras carimbadas e disputadas no mercado da bola.
Além do problema do gol, bastante previsível, ainda rondamos com problemas que passam pela competência e desapego. Desapego do dinheiro fácil nas contratações. Nunca priorizar o seu próprio bolso em detrimento do clube, em hipótese alguma. Pelo contrário, ser um facilitador nas contratações necessárias, pedidas pelo departamento de futebol. Coisa por exemplo que quase impediu a vinda de Ruy como reforço para o Brasileiro.
A competência se aplica exclusivamente ao departamento de futebol que só deve trabalhar com gente ligada ao mercado da bola, preferencialmente com trânsito por toda a América do Sul. Já há algum tempo, precisamos nos render ao futebol colombiano, chileno e uruguaio, onde se encontra gente jogando o um futebol melhor que muito brasileiro, a custo bem mais baixo que o saturado mercado nacional e argentino. Os grandes clubes já perceberam isso, aliás fato que torna este Campeonato Brasileiro de 2015, com o maior número de “gringos”, em toda a sua história. Então, porque aqui, para o Coritiba eles não servem?
Com estes ingredientes, certamente teremos um elenco formado para enfrentar qualquer competição, sem sustos, sem medos, sem grandes pretensões- é verdade - mas dentro da realidade do Coritiba.
O Coritiba parece precisar mais de um economista, de um administrador ou de um consultório psiquiátrico – como já disse em outra oportunidade- muito mais que de um presidente ou desta turma que pouco ou quase nada faz pelo clube.
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