Arquibancada
Chegando ao Couto para ver Coritiba x Goiás, na esquina da Amâncio Moro com Mauá, quase em frente à Coxa Story, encontro com Cláudio Marques e Hermes. Cláudio, um dos maiores zagueiros da história do clube com o não menos importante Hermes, lateral direito, também protagonista de inesquecíveis histórias vestindo a camisa Coxa.
De Hermes fui e fiquei mais fã depois da conversa que tivemos neste encontro de domingo. Com Cláudio minha relação também como fã, mas ainda com a honra de ter dividido algum trabalho com ele em TV. Eu como repórter e ele como comentarista, em 1992, pela CNT.
Com Hermes a aproximação foi bem antes, quando Krueger o levou em minha casa algumas vezes para uma missão de “craque/cidadão”, como dizia meu pai.
No começo da nossa conversa neste domingo, achei que Hermes não lembraria mais das minhas lembranças, quando puxei o assunto, mas lembrou, inclusive com requintes de detalhes. Me emocionou quando foi abrindo um sorriso quando comecei a lembrá-lo da nossa história. A memória só não trouxe o nome do meu irmão, na época doente, com leucemia, sempre visitado por grande parte do time do Coritiba, comandados por Krueger e Hermes. Na época, eu uma criança e Hermes adulto em início de carreira de sucesso, num futebol bem diferente do jogado hoje.
E é aí que mora a história que se desenrolou no Couto neste domingo, 5/11/2023 e que até agora não me sai da cabeça. Não quero e não vou entrar no mérito de mais uma vez perder tempo com comparações deste futebol jogado hoje, com aquele dos anos 60 e 70, período que tive não só Hermes, mas boa parte daqueles times do Coritiba sempre por perto.
Entre nós,Cláudio, Hermes, Coritiba, minha família, naquele momento das reminiscências com Hermes no domingo, minha filha Helena, observava atenta nossa conversa, quieta apenas ouvindo, para uma hora e meia depois dentro do estádio, ver mais uma derrota Coxa-Branca, se afundando cada vez mais na classificação do Brasileirão e consolidar seu rebaixamento para a série B, de forma melancólica e triste, pra colocar qualquer torcedor, da irritação à desolação. Uma história tão distante daquela que conto pra ela, que este Coritiba de hoje não faz nenhum sentido.
A conversa de antes de entrar no estádio não me sai da cabeça, quando a gente entende a vida como elos que se justificam e me confirmam o entendimento de que as coisas não acontecem por acaso.
Para quem como Helena que ainda não vê futebol como eu - não falo de técnica e tatica, mas basicamente ter um time vencedor para torcer, como os meus de Krueger, Cláudio e Hermes, por exemplo.
O que faz uma adolescente de 14 anos, mesmo com os sucessivos fracassos, ainda se interessar por futebol, cantar, aplaudir seu time nos 90 minutos, se emocionar e sequer reclamar? Mais que isso, não me deixar reclamar ou criticar, seja a atuação de jogador ou treinador. Em seus poucos momentos de demostração de cansaço, Helena deita sua cabeça em meu ombro, no gol adversário, como quem busca força e conforto para seguir apoiando seu time, se recompondo para seguir na luta, mesmo que na impotência de nada poder fazer, como mais um torcedor dos poucos que ainda foram ao jogo, em mais um triste domingo de futebol no Couto Pereira.
Isso não me sai da cabeça. Do sentimento de dó, do alto da minha vida com mais de 60 anos no futebol, mas igualmente impotente,como Helena, sem nada poder fazer. Pior: me sentir responsável por ter despertado este sentimento de amor não correspondido, que mal trata e não oferece nada de bom em troca.
Sei que posso ser advertido por ela, por ser neste momento tão derrotista. Porque se tem quem me move como torcedor Coxa nos últimos meses, tem sido ela. Na verdade é ela que me leva ao Couto. A alegria que já tive pelo futebol parece renascer em Helena, mas com uma diferença: tive Claúdio, Hermes e um batalhão de talentos.
Pra não arrumar briga com minha filha, prefiro não citar nomes do Coritiba atual. Mas me reservo ao direito de torcer por melhores dias e ainda lá no fundo acreditar que virão, mesmo que seja depois de desfeita esta incompetência instalada há anos, com uma vontade imensa de rasgar este capítulo vergonhoso de 2023, sem dúvida a pior da nossa história de 114 anos.
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